A revista Veja desta semana traz reportagem que complica ainda mais a vida do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF). Segundo a revista, do cheque de R$ 2,2 milhões que pediu emprestado ao empresário Nenê Constantino, (dono da Gol Linhas Aéreas), Roriz reteve R$ 300 mil com os quais alega que comprou uma bezerra. O restante teria sido usado para subornar juizes do Tribunal Regional Eleitoral que o livraram de cassação no ano passado.
A revista afirma que ouviu de político que priva a intimidade de Roriz a informação de que o senador teria confessado o pagamento da propina, feito pessoalmente por ele e não por terceiros. O político em questão conta que, no começo de fevereiro passado, Roriz recebeu seu suplente, o ex-deputado distrital Gim Argello, em sua casa. Os dois conversaram sobre os boatos de que a decisão pró-Roriz do TRE teria sido comprada. A certa altura, Argello disse: ?O Agnelo (refere-se a Agnelo Queiroz, ex-ministro e candidato derrotado ao Senado) me disse que a decisão foi comprada. É isso mesmo??. Roriz respondeu: ?É isso mesmo. Achei que o processo não ia dar em nada, mas tivemos de resolver. Tivemos de comprar dois?.
Conforme o relato do político, que detalhou o assunto sob a condição de manter-se anônimo, ?comprar dois? significa subornar dois juízes do TRE. Na mesma conversa, Roriz lembrou ao interlocutor que o mandato de senador também lhe pertencia. ?O mandato também é seu, você precisa me ajudar?, apelou Roriz. ?Tem de levantar R$ 1,2 milhão?, detalhou. Roriz não explicou se R$ 1,2 milhão era o valor total da propina dos dois juízes ou se era a parte que faltava pagar. A solução não demorou a surgir. No dia 13 de março, conforme aparece no diálogo telefônico capturado pela polícia, Roriz descontou o cheque de R$ 2,2 milhões de Nenê Constantino e, sabe-se agora, repassou pelo menos R$ 1,2 milhão aos juízes subornados.
Isso explica por que, na conversa grampeada, Roriz se recusa a receber o dinheiro em sua própria casa, num carro-forte, e explica que a partilha dos recursos envolve outras pessoas. ?O dinheiro é de muita gente?, diz ele.
O caso que livrou Roriz da cassação foi julgado em 23 de outubro, mas começou no dia 19 de setembro, quando o Ministério Público o acusou de uso político da máquina pública do governo do Distrito Federal. Na época, Roriz deixara o cargo de governador para concorrer ao Senado, e a estatal de abastecimento de água, a Caesb, mudara em propagandas seu número de atendimento telefônico de 115 para 151, número de Roriz nas urnas.
O placar do julgamento no TRE estava em 3 a 2 contra Roriz. Um juiz pediu vistas e, dias depois, quando a sessão foi retomada, votou a favor de Roriz, cravando um empate em 3 a 3. Antes que o presidente do tribunal desse seu voto de Minerva, um dos juízes que votaram contra Roriz subitamente mudou de idéia. Com isso, Roriz livrou-se da cassação por 4 a 2. A virada no placar teria custado pelo menos R$ 1,2 milhão. Procurado pela revista Veja, o suplente Gim Argello confirmou o encontro com Roriz, mas disse que não faria comentários a respeito de pagamento de propina.