Na sua edição deste fim de semana, a revista Veja voltou a comentar a atuação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, no "caso Francenildo", afirmando que a explicação de Bastos sobre o episódio não resiste à mais simples lógica. Bastos emitiu nota oficial depois da publicação ter divulgado na semana passada que ele foi à casa de Antônio Palocci em companhia do criminalista Arnaldo Malheiros para "salvar a cabeça do então ministro da Fazenda e do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, responsáveis pela quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa".
Segundo a Veja, Bastos afirma que durante o contato, Malheiros fez uma exposição, ouviu e falou sobre aspectos da questão. Para a revista, a explicação não faz sentido, uma vez que nos dias 16 e 17 de março dois assessores de Márcio Thomaz Bastos – o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, e o chefe-de-gabinete de Bastos, Cláudio Alencar – reuniram-se duas vezes com Palocci e discutiram com o ministro da Fazenda a possibilidade de a Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, investigar o caseiro.
"É impossível acreditar que, diante de tanta informação já reunida, um criminalista com a experiência de Thomaz Bastos se dirigisse à casa de Palocci apenas para ouvir uma exposição sobre ‘aspectos genéricos’ de um crime. Não resta dúvida de que o papel do ministro nesse episódio foi totalmente incompatível com o cargo que ocupa", afirma a revista.
Porém, para Veja, o problema mais grave é que Bastos já fez em outras ocasiões o papel de advogado do governo do presidente Lula. Segundo a revista, o episódio do caseiro seguiu um padrão: "assim que estoura um escândalo no governo, o ministro é acionado para reunir as informações e expor ao presidente um cenário. Em seguida, Thomaz Bastos elabora uma tese jurídica capaz de minorar os danos causados pela denúncia. Por fim, o ministro da Justiça trata de escalar advogados de sua confiança para encampar a tese criada e defender os acusados".
A Veja acusa Bastos de ter atuado da mesma forma nos casos do suposto mensalão. "Foi assim, por exemplo, quando Delúbio Soares veio a público, sob a defesa de Arnaldo Malheiros, expor o argumento de que o dinheiro do valerioduto não fora roubado dos cofres públicos, mas viera de empréstimos do Banco Rural, e de que os recursos se destinavam ao pagamento de dívidas do PT omitidas da Justiça Eleitoral, e não à compra de votos dos parlamentares, o mensalão", diz a revista. Para Veja, a idéia de transformar um crime grave, a corrupção, em um delito circunscrito à legislação eleitoral, teve um comando único, do Ministério da Justiça, embora os acusados fossem muitos.