Requião usa reunião do PMDB-SP para pregar convenção

O governador eleito do Paraná, Roberto Requião (PMDB), aproveitou hoje (2) uma reunião do PMDB paulista para reforçar a tese da realização de uma convenção extraordinária para decidir sobre o apoio do partido ao governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo ele, a convenção serviria para debater as razões do “fracasso eleitoral” da legenda e sua posição frente ao novo governo e não para “cortar cabeças”, na tentativa de afastar preocupações de que a mobilização teria como objetivo derrubar a cúpula nacional do PMDB.

A reunião foi convocada para “analisar” um pedido de intervenção no diretório regional, feito por seis deputados federais paulistas ligados à “ala governista” do partido, que é capitaneada por seu presidente nacional, deputado Michel Temer (SP). Mas, na prática, ela acabou se transformando em um ato de desagravo ao presidente estadual do PMDB, o ex-governador Orestes Quércia, e de apoio à convenção extraordinária. Os integrantes do diretório aprovaram um documento atacando a intervenção e exigindo a convenção.

Requião, que defende o apoio a Lula e a candidatura do senador José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado, sugeriu que a convenção seja realizada em janeiro e garantiu que já tem o apoio de mais de nove diretórios regionais, o que seria suficiente para convocá-la.

Tanto ele quanto Quércia afirmaram que o pedido de intervenção no PMDB paulista é fruto do receio de que a “ala rebelde” do partido vá tentar desbancar a direção nacional. “O Temer diz: viu, viu, eles querem me jantar, então vou tentar almoça-los”, ironizou Requião. “Mas ninguém vai almoçar nem jantar ninguém”, garantiu. “O Temer será colocado em cheque em setembro, quando ocorrerá a eleição para a presidência do partido”, afirmou.

Para setembro, o governador eleito defendeu a formação de uma chapa composta pelas várias forças existentes no partido. “Sou um conciliador por natureza”, disse. Quércia, por sua vez, foi tudo menos conciliador e chegou a lançar uma série de insultos contra Temer. “A intervenção é uma questão política do pequeno Michel Temer, mostrando mais uma vez que é pequeno e não tem postura para ser presidente do partido. Hoje eu não tenho nenhuma razão para amaciar este pilantra que dirige o PMDB nacionalmente”, declarou. A reportagem deixou recado no celular de Temer para que ele comentasse o assunto, mas até às 21 horas não havia tido retorno.

Já o médico ginecologista e deputado eleito, José Aristodemo Pinotti (PMDB-SP), defendeu que deve ser formada uma comissão para negociar com o novo governo, formada por integrantes da ala rebelde e da facção governista. “Ninguém contesta a legitimidade burocrática deles (dos governistas) de conduzir este processo, mas sim a legitimidade política”, afirmou. Segundo ele, “é estranho” que a parcela do partido que apoiou a candidatura do senador José Serra (PSDB-SP) à presidência agora dite os rumos do partido no governo Lula, enquanto aqueles que apoiaram o petista ficam de fora.

Tanto Quércia, quanto Pinotti, afirmaram que, por causa das divergências internas, dificilmente o PMDB terá algum representante no novo governo. “Passou a oportunidade de fazermos parte do governo Lula. Como é que ele (Lula) vai convidar alguém de um partido dividido”, afirmou Pinotti Requião apostou que o pedido de intervenção será rejeitado pelo partido. Na petição os deputados Jorge Tadeu Mudalen, Milton Monti, Nelo Rodolfo, Paulo Lima, Wagner Rossi e Zé índio argumentam que Quércia conduziu de maneira “desastrosa” a campanha eleitoral no Estado, utilizando o horário eleitoral do partido em benefício de sua candidatura ao Senado. O partido elegeu apenas quatro deputados federais e quatro estaduais em São Paulo.

O diretório paulista apresentará defesa até sexta-feira. Quércia acusou a direção nacional pelo mal desempenho eleitoral, quando rejeitou o lançamento de um candidato próprio à Presidência e decidiu pelo apoio a Serra.

A participação de Requião na reunião do diretório paulista foi articulada durante um almoço domingo na casa de Pinotti, do qual participaram o governador eleito, o médico e Quércia. Pinotti está organizando para quinta-feira uma festa em comemoração aos “40 anos de vida pública de Quércia”, que promete se transformar num ato de apoio à convenção extraordinária com a participação já confirmada do senador Sarney.

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