Isolado dentro da bancada do PMDB no Senado, o paranaense Roberto Requião admitiu em entrevista à Gazeta do Povo que tem “conversado com companheiros” sobre uma eventual candidatura à presidência do Senado, na disputa marcada para quarta-feira (1.º).

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A possibilidade, explicou ele na manhã desta terça-feira (31), surge de um “profundo constrangimento” com o favoritismo em torno de um nome que “daqui dez dias pode perder a cadeira”.

Ele se refere ao senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), considerado nome certo para ocupar o lugar de Renan Calheiros (PMDB-AL), embora já tenha sido citado em delações da empreiteira Odebrecht, no âmbito da Operação Lava Jato.

Segundo Requião, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, acertou ao homologar os acordos de colaboração premiada das 77 pessoas ligadas à Odebrecht, mas errou ao não quebrar o sigilo do conteúdo dos depoimentos.

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“A falta de informação pode fazer com que os eleitos no Senado e na Câmara dos Deputados depois sejam alvos de processo por parte do STF, deixando o Congresso Nacional em uma situação muito ruim. Precisávamos de transparência”, argumentou ele.

Também na quarta-feira, o STF deve concluir o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 402, proibindo a permanência de um nome na linha sucessória da presidência da República que seja réu em ação penal. Formalmente, contudo, ainda não há investigação aberta contra Eunício Oliveira.

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Para o paranaense, é preocupante o fato de a maioria dos senadores aparentemente respaldar a candidatura do parlamentar do Ceará, que também é o nome defendido pelo Planalto: “O Senado parece que vive à margem, como Alice no País das Maravilhas. O governo federal domina o Senado. A bancada do PMDB fica debatendo cargos, questões pessoais. Não é uma decisão programática e ideológica [em torno da candidatura de Eunício Oliveira]”.

Por ser a maior bancada do Senado, o PMDB tem direito a ocupar a principal cadeira da Comissão Diretora da Casa. Mas, na contramão da cúpula da sigla, a figura de Requião dificilmente seria sustentada pelos peemedebistas.

Contrário ao impeachment de Dilma Rousseff, Requião também foi uma das vozes mais críticas da Emenda Constitucional 95, promulgada em dezembro pelo Congresso Nacional, e que estabeleceu um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos, a pedido do governo federal.

Para viabilizar uma candidatura, Requião tem conversado principalmente com o PT, legenda que possui a terceira maior bancada no plenário e que está sendo pressionada por filiados a desistir do apoio a Eunício Oliveira.

Um eventual voto do PT ao candidato do Planalto vem sendo costurado em troca de espaço na Comissão Diretora e em postos nas comissões permanentes da Casa. “Pelo seu tamanho, o PT tem direito aos espaços e precisa reivindicar isso, independente de apoiar ou não um candidato”, afirmou Requião.

Outra alternativa ventilada agora dentro da bancada do PT seria o apoio à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que também ensaia uma candidatura à presidência do Senado. Os petistas devem definir uma posição até o final da tarde desta terça-feira (31).