“Sou lulista e a crítica que faço é construtiva”. Foi assim que o governador Roberto Requião (PMDB) justificou ontem as declarações que fez após a reunião dos governadores, na segunda-feira em Brasília, sobre a administração do presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT).
De volta a Curitiba, ontem, o governador disse que Lula não pode prosseguir com uma política econômica que penaliza os estados e a população e que a pressão feita pelos governadores pedindo a volta dos investimentos públicos é “legítima”.
Requião afirmou que a União está retendo 72% dos recursos gerados no país. E que essas verbas são usadas no pagamento da dívida externa. Na segunda-feira, Requião classificou como “pornográfico” o superávit primário alcançado pelo governo no trimestre.
O governador do Paraná disse que a redução dos recursos para estados e municípios é uma continuidade do que chamou de “política neoliberal” do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “O Lula não pode prosseguir com essa política. Eu quero que ele acerte. Eu não seria justo, nem sério, nem amigo se não tornasse públicas minhas discordâncias”, afirmou.
Requião disse que o PMDB irá apoiar uma emenda do senador Antero Paes de Barros (PSDB) mudando a base de cálculo da receita líquida sobre a qual os estados têm que repassar 13% à União como forma de pagamento da dívida interna. Ainda de acordo com o governador, a bancada do PMDB no Congresso Nacional irá apresentar uma emenda transformando contribuições em impostos para gerar receita para os estados e municípios. No caso dos impostos, o governo federal é obrigado a dividir a arrecadação com estados e municípios, ao contrário das contribuições.
O presidente do diretório estadual do PT, deputado André Vargas, vice-presidente da Assembléia Legislativa, disse ter recebido com serenidade as críticas – que considerou inconseqüentes – feitas pelo governador Roberto Requião (PMDB) à política econômica do governo federal.
Vargas disse que discorda da opinião do peemedebista e não pretende polemizar a respeito. Entretanto, o comparou com a senadora Heloísa Helena, expulsa do PT justamente por divergir de políticas adotadas pelo governo Lula, e viu no desabafo de Requião “o grito de um desesperado com problemas de caixa que precisa resolver com urgência”. Lembrou que a Lei de Responsabilidade Fiscal não permite mais o endividamento dos estados como se fazia antigamente: “A população quer responsabilidade dos governantes em relação ao endividamento público”, comentou.
Para ele, as manifestações críticas do governador não afetam as negociações em torno de uma aliança entre o PT e o PMDB para as eleições deste ano, “mas precisamos conversar sobre isso mais adiante”, acrescentou.
Viagem gera impasse
As eleições municipais deste ano dificultaram a substituição do governador Roberto Requião (PMDB) nos períodos em que estiver viajando ao exterior. Na próxima sexta-feira, dia 8, Requião embarca para o Canadá e pela primeira vez, desde que assumiu o cargo, não será substituído pelo vice-governador Orlando Pessuti (PMDB). A irmã do vice-governador, Neusa Pessuti, é candidata a prefeita de Jardim Alegre pelo PMDB e se Pessuti tomar posse como governador interino, ela fica inelegível, conforme a legislação eleitoral em vigor.
O próximo na linha de sucessão é o presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão (PSDB). Brandão ainda não substituiu Requião neste mandato e ao que tudo indica, ainda não será desta vez. O filho do deputado, Hermas Brandão Junior (PMDB), estuda uma candidatura a vereador em Fazenda Rio Grande. Se o pai assumir o governo, Hermas Brandão Junior não terá mais chances de concorrer.
Se Brandão não quiser assumir, o governador interino será o presidente do Tribunal de Justiça, Oto Sponholz. A viagem do governador deverá durar uma semana. O governador irá em missão comercial a convite da província de Quebec.