Adversários históricos da política paranaense
se reúnem para traçar o futuro do Estado.

Adversários históricos, o governador Jaime Lerner (PFL) e o governador eleito, senador Roberto Requião (PMDB) tiveram ontem à tarde uma primeira conversa para acertar os detalhes do processo de transição, que será coordenado pelo vice-governador eleito, deputado estadual Orlando Pessuti (PMDB).

Na reunião, realizada no Palácio Iguaçu, Lerner e Requião conversaram a sós por mais de cinqüenta minutos, enquanto Pessuti, os deputados federais Padre Roque Zimermmann (PT), Rubens Bueno (PPS) e os secretários da Fazenda, Ingo Hubert, e do governo, José Cid Campello Filho, discutiam os termos da transição.

A comissão mista irá se reunir amanhã, na Secretaria da Fazenda, para levantar os primeiros dados fiscais e financeiros do governo. Lerner designou quatro secretários -Ricardo Smijitink (Administração), Guaraci Andrade (Casa Civil), Campello e Hubert -para compor a comissão. Além de Pessuti, o governador eleito indicou ainda o irmão, Maurício Requião, o seu ex-secretário da Fazenda, Heron Arzua, e o ex-deputado estadual Renato Adur. O PPS será representado pelo secretário-geral do partido, Rubico Camargo, e o PT, até o início da noite, ainda não havia apresentado seus nomes. O PL e outros pequenos partidos que apoiaram Requião também terão participação no processo.

No primeiro contato, Lerner não apresentou números ao governador eleito. Disse que esses “detalhes” serão apresentados pelos seus secretários na comissão de transição e que na conversa reservada com Requião, os dois apenas trocaram “impressões” sobre as prioridades do Estado. Lerner disse que o governador eleito não pediu a suspensão do concurso público para a contratação de professores que está marcado para o próximo domingo, mas que somente manifestou dúvidas a respeito dos critérios estabelecidos. “Todas as dúvidas serão esclarecidas pelos secretários. O concurso está marcado e não há razões para mudar”, afirmou.

Provocações

A primeira parte do encontro entre Lerner e Requião, a única que os jornalistas puderam presenciar, começou em clima descontraído, mas foi marcado por pequenas provocações. Requião disse que nos próximos quatro anos iria prestar vestibular para Arquitetura para suceder Lerner na União Internacional dos Arquitetos, entidade presidida pelo atual governador. Lerner respondeu que foi eleito em apenas dois dias. Em seguida, o atual governador brincou com Padre Roque, dizendo que ia chamar o atual capelão do Palácio Iguaçu para fazer a transição do cargo. O petista não respondeu e pairou um certo constrangimento no ar, já que antes de se transformarem em aliados, Requião e Roque trocaram farpas no primeiro turno e o peemedebista havia ironizado dizendo que o padre petista poderia ser capelão do Palácio se ele ganhasse o governo.

Requião também disse a Lerner que ele era um homem de sorte. “Imagine se ao invés de nós, você tivesse que se reunir agora com o Martinez, o Janene e o Tony Garcia”, afirmou. Lerner apenas sorriu à referência de Requião aos presidentes estaduais do PTB e PPB e ao deputado estadual Tony Garcia, que apoiaram o senador Álvaro Dias (PDT) para o governo. A aliança foi duramente criticada por Requião durante a campanha eleitoral

No final do encontro, Requião saiu sem ser visto e não falou com os jornalistas. Lerner disse que a conversa foi “cordial”, “respeitosa” e que representou um “momento político bonito” no Paraná.

Três convites já feitos

Elizabete Castro

O vice-governador eleito e coordenador da equipe de transição do futuro governo Roberto Requião, deputado estadual Orlando Pessuti (PMDB), confirmou que recebeu o convite para ser o próximo secretário da Agricultura. Pessuti revelou também que Requião escolheu seu irmão, Maurício, para a secretaria da Educação, e o advogado tributarista Heron Arzua para ocupar a secretaria da Fazenda. Maurício já comandou a Fundepar e Arzua comandou a Fazenda na primeira gestão de Requião no governo.

Pessuti exerceu ontem a função de porta-voz do governador eleito. De acordo com a assessoria, Requião viaja hoje para o Ceará, onde pretende descansar por cerca de dez dias. Ontem, além da reunião com o governador Jaime Lerner no Palácio Iguaçu, Requião visitou o bispo dom Ladislau Biernarski e o pastor da Igreja Evangélica, Paulo Pimentel. Ele apresentou aos dois líderes religiosos a proposta de criação de uma secretaria especial para a área social – inspirada na secretaria de combate à fome anunciada ontem pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com o vice-governador, Requião deverá criar pelo menos outras duas secretarias extraordinárias. Uma para cuidar do ensino especial e outra dedicada à agricultura familiar. “São as linhas mestras de ação de nosso futuro governo”, explicou Pessuti.

O vice-governador eleito afirmou que o preenchimento dos cargos será definido por Requião com a participação dos partidos que o apoiaram, PT, PPS PL, PCB , PC do B e PV. Segundo Pessuti, Requião planeja também reduzir o número das atuais secretarias. A extinção das pastas será uma decisão a ser tomada após o primeiro diagnóstico da Comissão de Transição, que num primeiro momento irá trabalhar no levantamento dos dados sobre a situação financeira e os gastos com pessoal do Estado.

Pessuti reuniu-se ontem com o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Hermas Brandão (PSDB) para definir como será feita a discussão do projeto de orçamento para 2003. Requião pretende alterar o projeto original encaminhado a Assembléia por Lerner. “Queremos que o orçamento seja aprovado com a cara desse novo governo”, disse Pessuti, que espera ter a colaboração da bancada de apoio do atual governo para fazer as mudanças na proposta orçamentária.

O vice-governador eleito afirmou que Lerner não impôs restrições às mudanças em seu projeto de orçamento. Ele acredita ainda que o governador eleito não deverá ter dificuldades para convencer a base de sustentação de Lerner a aprovar uma nova versão do projeto.

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