Requião decreta intervenção na Ferroeste

O governador Roberto Requião anunciou ontem a intervenção do governo do Estado por seis meses na administração da Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A., a Ferroeste, ferrovia que liga Cascavel a Guarapuava. A medida atende pressões de entidades ligadas ao transporte ferroviário, que pedem a retomada do controle total pelo Paraná. Foi nomeado o engenheiro Saulo de Tarso Pereira como interventor. Ele já assumiu o controle administrativo da ferrovia, feito pela Ferropar. A diretoria da empresa foi afastada.

De acordo com o diretor administrativo, financeiro e jurídico da Ferroeste, Samuel Gomes, nesses seis meses de intervenção a ferrovia funcionará normalmente e todos os contratos serão honrados. "Mas durante esse período faremos estudos sobre a situação em que a Ferroeste se encontra, e a partir desse material, o governo do Estado vai fazer de tudo para recuperar o controle total da estrada, que está incapacitada e insolvente", afirmou.

O nome do interventor foi indicado por uma grupo de engenheiros ferroviários que ajudou no processo de criação do ato, que é baseado num relatório da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Segundo o órgão, existe uma série de deficiências na ferrovia, como falta de vagões e problemas de conservação nos trilhos. O ex-governador Emílio Gomes, que fez parte desse grupo, afirmou que a partir da intervenção o Paraná mostrará ao resto do País como resgatar a malha ferroviária brasileira, que tem importância chave para as importações. "O preço dos nossos produtos agrícolas aumentam 35% devido ao transporte precário, enquanto nos Estados Unidos esse repasse não passa de 10%", disse Gomes.

Construção

A Ferroeste foi construída na administração anterior de Requião, entre 1991 e 1994 com mão-de-obra do exército, o que fez a ferrovia se tornar uma das mais baratas do País. "A intenção era aliviar a rota do transporte das safras do Oeste do Estado até Paranaguá, baixando o preço do frete e aliviando o trânsito", conta o governador. "Mas ela não está cumprindo nem uma dessas funções, além de se encontrar em total abandono".

De acordo com Requião a obra teria custado cerca de R$ 1,2 bilhão e foi privatizada durante o governo Lerner. "A Ferroeste foi a leilão e apenas uma única empresa se apresentou. Acabou vendida por R$ 25 milhões", afirmou Requião. Ele explicou que o contrato de concessão previa o pagamento do valor em 30 anos, mas que até hoje o Estado não recebeu nenhuma das parcelas. "Além de não pagar, a empresa não cumpriu com nenhum dos compromissos do contrato, de fazer investimentos em ampliação ou modernização da malha", acusou.

Para o presidente do Conselho de Usuários da ferrovia, Alcides Cavalca Neto, a esperança agora é que a Ferroeste volte a cumprir o seu papel, que é transportar a produção do Oeste do Paraná. "Estamos há quase 10 anos pagando fretes e contribuindo para a deterioração da nossa malha rodoviária e formando filas no Porto de Paranaguá, quando poderíamos utilizar a ferrovia com capacidade de transportar cerca de 4 milhões de toneladas de grãos por ano", disse. De acordo com o presidente, a Ferroeste hoje transporta menos de 1 milhão de toneladas de grãos ao ano por falta de vagões.

Briga jurídica

O diretor-administrativo da Ferroeste prevê uma luta judicial pelo controle da ferrovia, mas avisa que o Estado está bem fundamentado em sua decisão. "O ato de intervenção tem 54 páginas de argumentos. Para recuperar o controle judicialmente a empresa terá que se defender de cada um deles", afirmou. A diretoria da Ferropar não foi encontrada para comentar a decisão do governador e sobre quais medidas deve tomar.

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