Discussão com o diretor-geral da Secretaria da Fazenda, Nestor Bueno, brincadeira de mau gosto com os homossexuais, afago na prefeitura de Curitiba e, até comoção que quase virou lágrimas.
O governador Roberto Requião (PMDB) voltou a dar “show” na Escola de Governo, reunião semanal de seu secretariado, de ontem, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.
O governador abriu a “escolinha” chamando o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, para explicar a operação policial que resultou em 279 prisões na segunda-feira, em todo o Estado. Ainda na tarde de ontem, Delazari foi sabatinado na Assembleia Legislativa sobre os problemas de segurança do Paraná.
Na sequência foi exibido um vídeo sobre a situação da Vila Icaraí, local onde, no último dia 3, ocorreu chacina com oito vítimas fatais, que motivou a convocação do secretário pelos deputados.
A matéria, produzida pela TV Paraná Educativa, relaciona a falta de condições e a insegurança da vila ao descaso da prefeitura de Curitiba, com entrevistados dizendo sentirem-se abandonados pelo poder público municipal. Ao final do vídeo, os dois momentos mais supreendentes da “escolinha”.
Primeiro, o governador diminuiu a culpa da prefeitura no caso e assumiu, também, responsabilidade sobre a situação da vila e até criticou o viés político da matéria da TV Paraná Educativa. “Não é o caso. De certa forma bateu duro na prefeitura. Essa não é uma questão só da prefeitura, é de toda a sociedade, é do Estado e da União”, disse o governador.
“Ao invés de transformar isso num lamento político, num grito eleitoral, vamos continuar o que tem dado certo”, continuou, solicitando que sua equipe conversasse com a prefeitura e a Companhia de Habitação Popular (Cohab) de Curitiba para resolver a situação das famílias da Vila Icaraí. Em seguida, comentando a conversa que teve com a mãe de uma vítima do crime organizado que disse perdoar o criminoso, o governador quase chorou.
Mas a comoção passou logo e o governador seguiu a reunião com um discussão pública com Nestor Bueno a respeito da arrecadação do Estado, por conta da liberação de R$ 1 bilhão a menos que o previsto, o que o diretor classificou como corte.
“É a dificuldade de lidar com a Fazenda, que gosta de falar em corte. Não houve corte. Nós deixamos de receber”, declarou Requião. “Não me convence muito, mas eu aceito”, disse o diretor para pôr fim ao bate-boca.
E a brincadeira sem graça foi, mais uma vez, com o secretário da Saúde, Gilberto Martin, chamado para falar sobre a campanha de prevenção do câncer de mama. O secretário teve que ouvir a opinião do governador sobre a incidência da doença em homens. “(…) embora câncer de mama seja hoje em dia uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas gay”, disse Requião, que há algumas semanas havia ironizado a campanha de prevenção do câncer de próstata, fazendo piada com o exame de toque e sendo repreendido por Martin.
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais emitiu nota lamentando a declaração: “As piadas com relação à nossa comunidade infelizmente reforçam o preconceito, a discriminação e a violência que sofremos”.