Em um discurso de quarenta minutos, na solenidade de posse para o terceiro mandato, realizada na Assembléia Legislativa, o governador Roberto Requião (PMDB) remexeu nas feridas da campanha eleitoral de 2006. Requião disse que o seu novo mandato terá um viés mais radical de esquerda e retomou suas desavenças com a mídia local, ao anunciar que estão suspensas as liberações de verbas para os veículos de comunicação pelos próximos quatro anos. Requião abriu o discurso, dedicado ao ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo (PFL), que descreveu como ?um político brasileiro que surpreendeu com a capacidade de dizer o que pensa?, afirmando que foi vítima de uma guerra desigual durante a campanha eleitoral do ano passado. Criticou os adversários, dizendo que foram inescrupulosos, e os veículos de comunicação, acusando-os de parcialidade na cobertura do processo eleitoral.
O discurso, programado para a segunda etapa da solenidade, no novo prédio do Centro Cívico que abrigará secretarias, foi antecipado para o plenário da Assembléia Legislativa, onde uma platéia formada por poucos deputados e maioria de integrantes do primeiro e segundo escalões do governo, aplaudiu o pronunciamento do governador. A sessão solene, em que Requião e o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) prestaram juramento e assinaram o livro de posse, foi coordenada pelo presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão.
Requião disse que o tom do seu discurso iria desagradar alguns dos seus aliados, que o aconselhavam a adotar um tom mais conciliatório. ?Nesses quatro anos que passaram acredito que tenha ficado claro a todos para quem governamos. Ou não salta aos olhos a nossa opção? Será que há alguma dúvida? Pois bem, nos próximos quatro anos vamos radicalizar essa opção. Vamos ainda mais a fundo na tarefa de governar para o povo. E não é um governo de centro-esquerda, não. Não venham com esses centrismos, com esse equilibrismo. Somos sim um governo de esquerda…?, discursou.
A sua reeleição em 2006 foi considerada pelo governador como a mais difícil das disputas que enfrentou. ?Nunca se viu uma união de forças tão poderosa, tão obstinada, tão arrogante e, ao mesmo tempo, tão sem escrúpulos como a que enfrentamos. Nada os deteve. Passaram como uma horda de bárbaros sobre as mais comezinhas regras de convivência, da urbanidade. Possivelmente nenhum outro governante paranaense tenha sido exposto de forma tão desumana, tão desapiedada?, afirmou.
No capítulo reservado à sua relação com os meios de comunicação, o governador disse que também não iria seguir o conselho dos que querem ?deixar disso? e pregam a cordialidade. Afirmou que há um monopólio da informação no País e que, em 2006, o poder da mídia começou a ser questionado, assim como sua credibilidade, após a cobertura das eleições.
Requião voltou ao tema após dar posse aos secretários da Casa Civil, Rafael Iatauro, da Justiça, Jair Braga, e da Casa Militar, Anselmo de Oliveira, já na tenda erguida no pátio ao lado do edifício reconstruído no Centro Cívico. Ele disse que já tinha feito seu discurso na Assembléia Legislativa, mas acrescentou que, durante a campanha eleitoral, enquanto as pesquisas mostravam que seu governo era aprovado por 75% da população, ?a mídia batia com insistência na imagem pessoal do governador?. Segundo o governador, casos absurdos foram explorados, como o do policial civil Délcio Razera, preso sob a acusação de comandar um esquema de escuta clandestina. ?Quiseram vincular um esquema de violência e espionagem ao governo?, afirmou.
Por fim, o governador disse que seu primeiro compromisso será o que definiu como um ?choque de democracia? no Estado. ?Não haverá dinheiro para a grande mídia do Paraná nestes quatro anos. Batam como quiserem. Os recursos vão para programas sociais e de infra-estrutura. Irão para a educação e a saúde?, disparou o governador, destacando que já tem uma longa carreira política e que mais uma vez está propondo algo inédito no Estado.
Governador desencoraja candidatura à Presidência
O vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) foi o orador da segunda etapa da posse, realizada ao lado do antigo prédio do Fórum e que foi restaurado pelo atual governo. Coube a Pessuti agradecer aos aliados da campanha eleitoral, recordar as dificuldades da campanha, reprisar as críticas aos adversários e lançar o projeto de transformar o governador Roberto Requião (PMDB) em candidato a presidente da República em 2010 pelo PMDB.
Pessuti disse que neste terceiro mandato, não apenas ele e Requião, mas toda a equipe de secretários têm a obrigação de fazer um governo melhor. Disse que a vitória veio depois de muito esforço e que a responsabilidade agora é avançar em relação aos últimos quatro anos. ?Temos que fazer melhor para colocar o Paraná na disputa política nacional, levando o Requião à disputa da Presidência da República?, afirmou.
O discurso de Pessuti foi feito após Requião cumprir o protocolo, dando posse a apenas três secretários, da Casa Civil, Justiça e Casa Militar. Os demais dependem da decisão do governador para continuar no cargo. Até ontem, a informação era que Requião irá promover poucas mudanças no primeiro escalão e que essas serão anunciadas nos próximos dez dias.
Ao retomar a palavra, o governador desencorajou o seu vice sobre a candidatura presidencial. Chamou a possibilidade de disputar a sucessão presidencial de 2010 de ?objetivos distantes? e acrescentou que até podem ser interessantes, mas atrapalham o desenvolvimento do mandato. ?A presidência fica com o Lula e esperamos que ele faça um governo excepcional?, disse o governador, que voltou a se referir ao ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo (PFL). ?Ele disse que não fosse o Lula na presidência da República, já estaríamos vendo no País um conflito social. Temos que nos concentrar no governo do Estado?, declarou.
Após a solenidade, realizada sob uma tenda localizada na Praça Nossa Senhora de Salete, Requião convidou deputados e secretários para acompanhá-lo em uma visita ao novo edifício. Ele informou que no final do mês irá transferir a sede do governo para o novo prédio, enquanto o Palácio Iguaçu passará por uma reforma nos sistemas elétricos, hidráulicos e também receberá as obras complementares ao seu projeto arquitetônico original, que não foram realizadas pelo ex-governador Bento Munhoz da Rocha, em decorrência de problemas de caixa do Estado, explicou o governador.
Requião foi a Brasília acompanhar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Levou na sua comitiva os deputados petistas André Vargas, presidente do PT estadual, Elton Welter e Irineu Colombo.
Prédio no Centro Cívico será inaugurado em fevereiro
Foto: Júlio Covello/SECS |
Edifício revitalizado será a sede provisória do governo do Paraná. |
O prédio público que ficou durante quase 20 anos abandonado no Centro Cívico, em Curitiba, será inaugurado em fevereiro. O anúncio foi feito pelo governador Roberto Requião ao visitar a obra executada em sua administração. A visita ocorreu logo depois de Requião tomar posse na Assembléia Legislativa.
O término da obra recebeu investimentos de R$ 29,5 milhões do governo do Estado. O novo prédio vai ser a sede provisória do governo do Paraná enquanto estiverem sendo realizadas as obras de reforma do Palácio Iguaçu e também vai receber as Secretarias da Administração e do Planejamento, hoje localizadas distantes do Centro Cívico – no bairro Santa Cândida. Para o secretário de Obras Públicas, Luiz Caron, o término do prédio, que já foi símbolo do desperdício de dinheiro público, apaga uma marca de negligência do passado.
A primeira fase da remodelação do prédio, que originalmente abrigaria o Fórum, começou com o desmonte dos quatro pavimentos superiores, em agosto de 2004. Essa etapa foi concluída em maio de 2005. Na segunda fase da obra, foram feitos o reforço estrutural, com adição de pilares e vigas, e a implementação do novo projeto arquitetônico, que redefiniu o aproveitamento dos espaços e incluiu o uso de materiais modernos, como placas de alumínio, vidro e granito.
História
O Centro Cívico começou a ser construído pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto, a partir de um projeto do arquiteto Xavier Azambuja, e foi inaugurado em 1953, ano em que o Paraná comemorou seu centenário de emancipação política. O complexo é composto de um conjunto de edifícios, onde estão localizados os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Paraná.