O aumento de 13% na participação das mulheres na Câmara dos Deputados – eram 45 e passarão a ser 51 – manterá o Brasil em 2015 no posto de país mais desigual da América do Sul em representação feminina no Legislativo. Nem mesmo a predisposição para votar nas três candidatas à Presidência, que conseguiram 67 milhões de votos (64,5% dos válidos), beneficiou mulheres que disputavam vaga no Congresso.

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No ranking mundial de 189 países feito pela União Interparlamentar, com sede na Suíça, o Brasil, com 10% de mulheres na Câmara, agora aparece atrás de 152 nações e na frente de 36. Desde 2009, a legislação eleitoral obriga que ao menos 30% das candidaturas sejam femininas nas eleições para deputado federal, estadual, distrital e vereador. O efeito é tímido.

Em comparação com países populosos e de indicadores sociais parecidos, como Argentina (onde 36,6% dos deputados federais são mulheres) e México (37,4%), a participação das brasileiras na formulação das leis é pelo menos 3 vezes menor. “A Argentina conseguiu este resultado fazendo uma lista que prevê uma cota de efetivamente eleitas, não apenas de candidatas, como no Brasil”, afirma a professora Flávia Biroli, cientista política da UnB. Os sul-americanos mais próximos são Paraguai, com 15%, e o Uruguai (13,1%).

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Segundo a analista, as brasileiras não têm verba nem espaço para disputar em igualdade. Muitas são “mulheres-laranja”, relacionadas apenas para cumprir os 30% previstos em lei. Para Flávia, cotas são insuficientes se não houver estímulo para a mulher desenvolver ambições políticas. “Faltam coisas concretas, como direito a tempo. Com mais creches, por exemplo, mulheres poderiam participar de reuniões em seu prédio, seu bairro, seu partido. Poderiam alimentar uma vocação política.”

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“Uma mulher na Presidência ou no comando de uma empresa não ajuda se não for mudada a lei. É preciso uma reforma política que altere o financiamento de campanha, que estipule cotas para mulheres na direção dos partidos e determine uma eleição por listas”, conclui Flávia.

A ONG Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFemea), pressiona por uma lista fechada. O eleitor votaria no partido, que teria uma relação de homens e mulheres em posições alternadas.

Para José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, ter uma mulher na Presidência coloca o Brasil na vanguarda, mas não significa uma tendência. “EUA e França não tiveram líderes mulheres, mas nosso mérito é relativo. O PT indicaria Zé Dirceu ou José Genuíno em 2010, mas viu seus líderes envolvidos no mensalão. Como o lulismo era maior que o petismo, apareceu Dilma, que nem era petista até 2001. Foi um ‘dedaço’ do Lula, tanto que ela não tem força no partido. O caso de Marina é ainda mais trágico. Só virou candidata desta vez porque Eduardo Campos morreu”, opina.

Influência

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foram registradas 26.172 candidaturas em 2014. Destas, 8.131 (31,07%) foram de mulheres. A Justiça Eleitoral considerou aptos 22.530 registros, 6.449 deles femininos, o que fez a porcentagem cair para 28,62%. Mais uma vez, abaixo da cota de 30%.

A influência das deputadas no próximo Congresso, é outro tema discutido. Em 12 Estados, elas não estão entre os dez mais votados – destacaram-se em seis. Em São Paulo, a deputada federal mais votada (16.ª posição) foi Bruna Furlan (PSDB), com 178.606 votos. Além dela, cinco candidatas foram eleitas, mesmo número do Rio. Em Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba e Sergipe, nenhuma mulher foi eleita.

No Senado, cinco das 27 vagas em disputa vão para mulheres. Somadas às 6 parlamentares com mandato até 2019, a Casa terá 11 mulheres, uma a mais do que a composição atual. Elas ocuparão 13,5% das 81 cadeiras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.