O ministro Fernando Gonçalves, relator do inquérito que investiga o esquema do mensalão no Distrito Federal, concordou integralmente com os argumentos do Ministério Público Federal (MPF), de que há indícios da atuação de um grupo criminoso no governo supostamente organizado para desviar e se apropriar de verbas públicas e para apagar vestígios das infrações praticadas. Uma hora após ter recebido o documento do MPF, Fernando Gonçalves pediu ao presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Cesar Asfor Rocha, que convocasse a Corte Especial. Ele já estava decidido a decretar a prisão de Arruda e dos aliados do governador, mas queria submeter essa decisão à apreciação de seus colegas mais antigos no STJ.
No pedido encaminhado ao STJ, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge sustentaram que as prisões deveriam ser decretadas porque, mesmo com as investigações em andamento, o grupo continuava a atuar para apagar vestígios dos supostos crimes praticados.
Eles fizeram referência expressa ao episódio da prisão em flagrante de Antonio Bento da Silva tentando coagir o jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, a mudar seu depoimento. Para o Ministério Público, foram praticados os crimes de corrupção de testemunha e falsidade ideológica.
“A desfaçatez e desinibição dos agentes de infração penal no uso indevido da coisa pública reclamam decisão proporcional do Poder Judiciário. Cabe ao Judiciário assegurar efetivamente a ordem pública, paralisando a atuação ilícita deste grupo criminoso e prevenindo a ocorrência de outros crimes que venham a praticar”, sustentaram.
Os integrantes do Ministério Público observaram que a suposta conduta do grupo traz prejuízos para todo o País. “O orçamento do Distrito Federal é, em sua maior parte, constituído pelos tributos arrecadados de cidadãos moradores de todos os Estados do Brasil”, frisaram.
O Ministério Público Federal ressaltou que o grupo controla a Câmara Legislativa do Distrito Federal, que é encarregada de processar e julgar os pedidos de impeachment do governador. “Outra evidência da desfaçatez da ameaça à ordem pública decorrente da atuação do governador Arruda decorre do fato de que policiais civis do Estado de Goiás foram detidos em frente à Câmara Legislativa, onde tramita o processo de impeachment, com equipamentos de escuta telefônica”, acrescentaram.
De acordo com os procuradores, há indícios de que os policiais, como revelou o Estado, teriam sido contratados por uma pessoa vinculada ao governador para realizar escutas telefônicas em deputados de oposição.
Além de Arruda, tiveram a prisão preventiva decretada o suplente de deputado distrital Geraldo Naves, o ex-secretário de comunicação do governo Wellington Moraes, o secretário particular de Arruda, Rodrigo Arantes Diniz, o ex-diretor da CEB Haroldo de Carvalho e o conselheiro do Metrô, Antônio Bento da Silva, que já tinha sido preso na semana passada.