Relator propõe alterar meta fiscal para déficit de 2,05% do PIB em 2015

O Congresso Nacional pretende autorizar a presidente Dilma Rousseff a fazer um déficit primário (sem pagamento dos juros da dívida) de até R$ 117,9 bilhões nas contas públicas do governo em 2015, o equivalente a 2,05% do Produto Interno Bruto (PIB). Foi o que propôs nesta quinta-feira, 29, o deputado Hugo Leal (PROS-RJ), relator do projeto de lei que altera a meta fiscal deste ano. Se os deputados e senadores aprovarem a proposta, o governo terá carta branca para atingir esse rombo nas contas e, ainda assim, ter a meta fiscal deste ano considerada como cumprida.

Se a alteração for chancelada pelo Congresso, será o segundo ano consecutivo que o governo consegue legalizar o déficit fiscal. A aprovação pelos parlamentares é importante para evitar que Dilma possa ser implicada por crime de responsabilidade.

No parecer, o relator concordou com a proposta do governo e propôs a alteração da meta fiscal de superávit de 1,1% do PIB para déficit de 0,9% do PIB (R$ 51,8 bilhões). Mas admite que o desempenho das contas do governo federal pode ser ainda pior. Ele propôs aos parlamentares que permitam que Estados e municípios compensem a frustração da meta fiscal do chamado Governo Central – Tesouro Nacional, INSS e Banco Central.

O déficit de 2,05% do PIB leva em conta a meta negativa de R$ 51,8 bilhões do Governo Central, o abatimento de até R$ 55 bilhões com o pagamento das chamadas “pedaladas fiscais” ao longo deste ano, a depender da decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), e de R$ 11,05 bilhões de frustração com a arrecadação prevista com o leilão de outorgas de usinas hidrelétricas. O relator deixou uma “gordura” para o governo, uma vez que antes da divulgação do seu parecer no final da tarde, o secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Saintive, estimou em R$ 50 bilhões o passivo das pedaladas fiscais, que são atrasos nos pagamentos do governo para melhorar as contas.

O projeto deve ir à votação na Comissão Mista de Orçamento (CMO) na próxima semana. Em seguida, terá de ser apreciado pelo plenário do Congresso, cujo responsável por colocá-lo em votação, o presidente, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que a proposta terá tramitação rápida.

Excepcional

No texto, o relator disse não ser possível ignorar as dificuldades financeiras que o Brasil vem enfrentando. Ao dizer que o País passa por um “contexto excepcional”, ele citou o fato de que houve uma “queda expressiva” da receita pública, de mais de R$ 197 bilhões entre o início do ano e a proposta de mudança da meta, apresentada esta semana. “A frustração de receitas superou as piores expectativas e surpreendeu negativamente os analistas e agentes econômicos”, anotou o parecer.

O deputado afirmou no texto que o ajuste fiscal está sendo feito “a duras penas” porque a arrecadação tem caído com “muita intensidade” em razão da queda da atividade econômica. “Houve e há oposição a algumas medidas fiscais propostas e seus efeitos foram atenuados na tramitação dos projetos, e porque a deterioração das condições de mercado dificulta a realização de algumas operações”, disse.

Barreira

Ao Congresso, o governo admitiu pela primeira vez oficialmente que a dívida bruta do setor público vai romper a barreira de 70% do PIB em 2016. Documento enviado aos parlamentares e publicado em primeira mão pelo portal do jornal O Estado de S.Paulo aponta que a dívida bruta chegará a 71,1% ao fim do próximo ano e ainda subirá no ano seguinte, alcançando 72%. Este ano, o governo prevê que a dívida bruta feche em 68,3% do PIB.

O rompimento da barreira dos 70% traz riscos maiores para o Brasil, porque esse é um dos principais indicadores de robustez e sustentabilidade das finanças de um País observados pelas agências internacionais de rating. Ou seja, aumenta a possibilidade de o Brasil perder o selo de bom pagador por outras duas agências de classificação – Fitch e Moody’s – após a Standard & Poor’s já ter feito isso no mês passado.

“Há um risco real, sim, de o País perder o grau de investimento, essa é uma realidade. Porém, o pior cenário é você ficar tentando esconder, camuflar isso, (é não) partir para a realidade”, reconheceu Leal, em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço de tempo real da Agência Estado.

O relator da Receita do Orçamento de 2016, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO), disse esperar que isso não ocorra. “Entendo que a economia brasileira é sólida. Passamos por problemas neste momento, passamos, mas não há ponto de sermos rebaixado mais uma vez por outras agências”, disse o pedetista. Ele confirmou que não vai incluir a arrecadação com a CPMF no parecer que vai apresentar à Comissão Mista de Orçamento. Ele admitiu também que a conta para o próximo ano “pode ficar negativa”. “Mas eu não posso considerar receitas que ainda não existem, que dificilmente acontecerão”, disse.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna