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Relator acata denúncia e Planalto manobra na CCJ

Filiado ao mesmo partido de Michel Temer, o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) seguiu o roteiro previsto e concluiu que a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente não é “fantasiosa” ou “inepta”, como prega a defesa. Em um voto predominantemente político, o relator concordou nesta segunda-feira, 10, que há indícios “sérios o suficiente” de crime de corrupção passiva supostamente praticado pelo presidente da República e que o fato precisa ser apurado.

Cientes de que não haveria chances de o relator apresentar um voto contrário a denúncia, os governistas colocaram em prática a estratégia de trocar membros para tentar derrotar o parecer de Zveiter no colegiado. Para rejeitar o relatório pela admissibilidade da acusação, o Planalto precisa de um mínimo de 34 votos de um total de 66 na comissão. A base aliada promoveu nos últimos dias 17 movimentações envolvendo 13 vagas (entre titulares e suplentes), sendo nove apenas nesta segunda.

Após reunião do Planalto com a cúpula do partido, o PR trocou quatro de seus cinco representantes na comissão de uma só vez, sob protestos de quem foi retirado a contragosto da Comissão de Constituição e Justiça.

PMDB, PTB, PRB, PSD e SD fizeram mudanças seguindo a ordem do Planalto para impedir que “independentes” votem na CCJ. “É um troca-troca vergonhoso”, disse o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ).

Vice-líder da bancada do PMDB, Carlos Marun (MS) foi um dos que assumiram a vaga de titular na comissão nesta segunda-feira. Para o peemedebista, é natural que os partidos aliados coloquem na CCJ representados alinhados com o governo. “Estamos escalando a seleção para essa partida”, disse Marun. Com a manobra, a base governista acredita ter atualmente pelo menos 39 votos contra a denúncia.

A oposição já admite que as trocas vão interferir no placar da comissão e o “rolo compressor” do governo poderá resultar em uma vitória artificial para Temer na CCJ. “No plenário não dá para trocar deputado. Temos grande esperança”, afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). O próprio Temer ligou no fim de semana para nomes da CCJ.

‘Fatos graves’

Em 31 páginas, Zveiter defendeu a apuração da gravação feita por Joesley Batista, da JBS, e afirmou que o conteúdo da delação firmada com o Ministério Público Federal revela “fatos graves”. “Estamos diante de indícios suficientes de autoria e materialidade, e por tudo o que vimos e ouvimos, não é fantasiosa a acusação. É o que temos o dever de apurar.”

Para o relator, diante da suspeita de eventuais crimes, a Câmara não poderia silenciar. “O arquivamento sumário das graves acusações feitas pela Procuradoria-Geral da República e das graves revelações feitas no inquérito da Polícia Federal, sem que sejam devidamente aprofundadas e analisadas, não restabeleceria ao governo o vigor necessário para sairmos desta crise”, afirmou.

Durante a leitura do parecer, que levou uma hora, Zveiter defendeu também a apuração do pagamento de R$ 500 mil ao ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), além do encontro de Temer com Joesley fora da agenda no Palácio do Jaburu.

Zveiter destacou ainda que o presidente se encontrou com Joesley no exercício do cargo, “para tratar de assuntos públicos, não republicanos e sobre a política nacional”. Adotando um tom de indignação em alguns momentos, o relator disse que há indícios “sérios o suficiente para ensejar o recebimento da denúncia”. Ao concluir a apresentação do parecer, Zveiter foi aplaudido pela oposição. “Foi um voto muito contundente”, classificou Delgado.

Já o vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), disse que Zveiter “rasgou” o diploma e concluiu que o voto foi “muito fraco”. Zveiter deixou a CCJ hostilizado pelos colegas de PMDB. “Se eles me expulsarem, vai ser problema deles”, rebateu o relator.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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