O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), estarão juntos nesta sexta-feira (4) em Curitiba pela primeira vez após a eleição municipal e na mesma semana em que o segundo dá sua largada à pré-campanha por uma vaga à Presidência da República em 2026.
O interesse de Ratinho Junior pelo Planalto já era tratado nos bastidores desde 2023, quando ele iniciava o segundo mandato no Palácio Iguaçu. Mas, até o final do ano passado, coube a aliados locais o movimento de alçá-lo publicamente.
Ele próprio se manteve discreto e no aguardo de alguma sinalização do PSD nacional sobre suas pretensões. Até aqui, o presidente da legenda, Gilberto Kassab, já declarou mais de uma vez que, se o partido optar pela candidatura própria, Ratinho Junior seria o nome a ser levado para a urna.
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O PSD, contudo, mantém a inclinação por alianças nas quais não figura com cabeça de chapa e hoje tem representantes tanto no governo Lula quanto no governo paulista de Tarcísio de Freitas (Republicanos), também cotado para a corrida à Presidência.
No final do ano passado, diante da indefinição da cúpula do partido, Ratinho Junior começou a admitir o interesse pela disputa nacional em breves declarações à imprensa. Na terça-feira (1º), reuniu deputados estaduais, tratou de emendas e falou sobre os planos para 2026.
“Pela primeira vez, ele falou abertamente, sem pedir segredo para ninguém, que está disposto, de verdade, a construir um projeto presidencial”, disse o deputado estadual Ney Leprevost (União Brasil), um dos entusiastas da ideia.
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Dentro da Assembleia Legislativa, Ratinho tem ampla base de apoio e segue para a parte final do seu mandato sem dificuldades para aprovar projetos.
Planos para 2026
Na passagem de Bolsonaro pelo Paraná nesta sexta, os planos para 2026 também estarão na pauta do encontro, mas a prioridade devem ser as costuras locais. O ex-presidente deve chegar à cidade por volta das 10h30, seguindo para um almoço no Palácio Iguaçu, sede do governo paranaense.
A ideia é sacramentar a aliança local entre os grupos de Bolsonaro e Ratinho Junior para 2026. Segundo o deputado federal Filipe Barros (PL), um dos articuladores do encontro, o PL está disposto a apoiar o nome preferido por Ratinho Junior para a disputa ao Governo do Paraná.
A lista de possíveis nomes do PSD é grande e inclui o ex-prefeito de Curitiba Rafael Greca e o deputado estadual Alexandre Curi, presidente da Assembleia.
“Naturalmente estaremos dentro do projeto do governador [na eleição ao governo do Paraná em 2026]. Bolsonaro tem uma excelente relação com o [apresentador de televisão] Ratinho pai e o Ratinho governador”, disse Barros à reportagem.
Nas negociações, Barros deve ficar com uma das vagas da corrida ao Senado. A outra provavelmente ficará com um aliado de Ratinho Junior ou com o próprio, caso ele não consiga levar adiante a sua candidatura ao Planalto.
Em relação ao Planalto, o PL tem insistido no nome de Bolsonaro para o ano que vem, embora o ex-mandatário esteja inelegível até 2030 em virtude de condenação na Justiça Eleitoral. Barros afirma que a pré-candidatura de Ratinho Junior é “natural e faz parte da política”, mas que, dentro do PL, “nosso candidato chama-se Jair Bolsonaro”.
“É o nosso foco. Nós trabalhamos com a possibilidade concreta de ele reverter a inelegibilidade para disputar a eleição”, disse Barros, que na Câmara preside a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.
Durante o mandato de Bolsonaro no governo, Ratinho Junior permaneceu um aliado fiel, mas não abraçou o discurso mais radical do ex-presidente, como a rejeição à vacina contra a Covid, e desviou de polêmicas, como o impeachment de ministros do STF. Também costuma repetir que “brigaiadas ideológicas” não levam a lugar nenhum e que “o investidor precisa de um ambiente de harmonia”.
Durante a campanha eleitoral do ano passado, a relação pareceu estremecida. Embora o PL e o PSD tenham fechado uma aliança para a Prefeitura de Curitiba, Bolsonaro sinalizou apoio informal a Cristina Graeml (então no PMB, hoje no Podemos).
Ela seguiu para o segundo turno da disputa, vencida ao final por Eduardo Pimentel (PSD) e Paulo Martins (PL), eleitos prefeito e vice-prefeito, respectivamente.
Segundo Filipe Barros, a questão da eleição curitibana “está superada”. Paulo Martins disse à Folha de S.Paulo na quarta-feira (2) que estará no almoço no Palácio. Trata-se do primeiro encontro após a campanha eleitoral do ano passado.
Outra pauta do encontro desta sexta é o projeto de anistia aos denunciados no âmbito dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. Principal pauta do PL hoje no Congresso Nacional, a anistia agora tem sido defendida também por Ratinho Junior.
Depois do almoço no Palácio Iguaçu, Bolsonaro e o governador seguem para a abertura da tradicional ExpoLondrina, feira ligada ao agronegócio. Segunda maior cidade do Paraná, Londrina é a principal base eleitoral de Barros.
