Entrevista

Rafael Greca estuda limitar grafite em Curitiba

foto: Jonathan Campos.

O prefeito Rafael Greca (PMN) promete ser duro contra a pichação em Curitiba, mas não tem a intenção de entrar em uma guerra como a que o colega João Doria (PSDB) trava em São Paulo. “Guerra, não. Mas vamos exercer as posturas urbanas. A cidade tem um código de postura que tem que ser seguido”, garante o prefeito,que, em entrevista à Gazeta do Povo, admitiu que estuda limitar o grafite a áreas específicas da cidade.

Para combater a pichação, Rafael Greca aposta em ações educativas e promete pintar o Centro Histórico com tinta antipichação. “A tinta é mais cara, mas vale a pena”, garante. Se pichação o prefeito considera como “ato incivil de delimitação de território de gangues”, o grafite ele reconhece como arte, desde que feito de forma autorizada.

Mesmo assim, admite Rafael Greca, não tem tanta predileção por esse tipo de expressão. Tanto que logo após vencer a eleição, em outubro, prometeu apagar um grafite que existe na parede de prefeitura. “Acho que o grafite valoriza a dor, a morte, o sofrimento. Posso não gostar, mas não posso censurar”, aponta o prefeito, que promete trabalhar com grafite em aulas de educação estética no contraturno da rede municipal de ensino.

Qual sua opinião sobre grafite e pichação?

O grafite é uma coisa boa. Quando autorizado, enriquece cultural e visualmente a cidade e gerou talentos importantes da arte contemporânea brasileira, como os famosos Gêmeos, que inclusive mereceram exposição nos principais museus do mundo e no Museu Oscar Niemeyer.

Já a pichação é delimitadora de território de gangues do tráfico e invasora do direito, da cidadania, da pessoa ter sua própria casa limpa, fora o ataque a monumentos históricos, como já tantas vezes nós vimos. Isso tem que ser coibido. É um ato incivil. O pichador que suja um painel de pedra devia ser condenado pelo juiz a fazer a esfoliação da pedra, a ralar a mão na pedra.

O que o senhor pretende fazer de prático contra a pichação?

Vou pintar o Centro Histórico com tinta antipichação.

O senhor propôs isso na campanha eleitoral para a prefeitura em 2012. Propôs inclusive oferecer essa tinta a proprietários de imóveis pichados e fazer cobrança pelo IPTU. Há possibilidade de isso ser implementado?

Posso fazer. Vamos estudar, porque ainda não cheguei lá. Por enquanto estou limpando a cidade contra a dengue, mas depois vou limpá-la esteticamente também.Nós já temos a tecnologia. Essa tinta antipichação é uma película que permite a lavagem da superfície, é antiaderente. A tinta é um pouco mais cara, mas vale a pena o investimento. Já fizemos isso na Igreja do Rosário, na catedral.

A Guarda Municipal vai atuar mais firme no combate à pichação?

A Guarda Municipal coíbe a pichação e o vandalismo. É dever dela, e tem um programa educativo depois, para ver se o menino só quer se expressar. Aí, ele é encaminhado para um ateliê de grafite. Existe no Boqueirão uma escola inteira de grafite artístico. Ligada, inclusive, a lojas de tinta.

O senhor pretende conversar também com o setor de tintas?

Sim, já conversei na campanha com eles. Eles pintaram para mim um grafite do Farol do Saber para simbolizar essa vontade de criar um canal para esse tipo de expressão na cidade. Eu não me oponho, acho bom.

O senhor destinaria um lugar específico para a exposição de grafites, como pretende fazer o prefeito de São Paulo, João Dória, que quer criar um museu a céu aberto para esse tipo de arte?

Seriam ateliês nas várias Ruas da Cidadania.

O senhor não se opõe ao grafite espalhado pela cidade, se for da forma correta como o senhor disse, com permissão e tudo o mais.

Não me oponho. O único problema do grafite que eu pessoalmente não gosto, mas não tenho o direito de gostar ou não gostar, é que ele cultiva uma estética da morte.

Em que sentido?

Gente drogada, gente verde, gente com cara de morta [estampada nas ilustrações]. O grafite usa esse imaginário que valoriza a dor, a morte, o sofrimento.

O senhor acha que os grafites tinham que ser mais alegres?

Eu acho que se a gente conseguir provocar nos jovens o amor pela vida, pela saúde, pela alegria de viver é mais bonito.

Mas o senhor acha que o artista tem o direito de se expressar como quiser, não?

Não é meu direito dizer como o artista deve se expressar. Posso não gostar, mas não posso censurar. Bonito mesmo é o painel do Rogério Dias, de gralhas azuis, com sol. Também o painel do Poty Lazarotto. Isso é bonito. O resto, a mim não agrada.

[O novo presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Reginaldo Reintert, intercede a entrevista para sugerir a Rafael Greca que fale da proporção que o grafite deve ter no espaço urbano]

A ideia do presidente do IPPUC é criar áreas específicas para isso.

Quais seriam essas áreas?

Muros autorizados, espaços a serem revitalizados. Mas daí o grafite numa composição da paisagem urbana, e não o grafite pelo grafite. Em um lugar como a Travessa da Lapa, por exemplo, que tem um muro cego, grande.

O senhor pretende fazer uma guerra contra a pichação, como o prefeito de São Paulo?

Guerra não, mas vamos exercer as posturas urbanas. A cidade tem um código de posturas que tem que ser cumprido. O secretario de Urbanismo existe para isso.

Cabe o diálogo com a Justiça para solicitar pena maior para pichadores?

Não é emergencial. Tem que haver um trabalho de educação estética da mocidade nas escolas, através da Linha do Conhecimento, para criar informação para quem gosta da beleza.

O senhor acha que a educação é o melhor caminho?

Claro.

Caberia um programa nas escolas?

Vai ter, na chamada Linha do Conhecimento, no contraturno escolar. A Secretaria de Educação vai agir em conjunto com a Fundação Cultural para oferecer no contraturno escolar um processo de formação ética e estética para as nossas crianças.

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