O PSDB divide-se hoje entre os franco-atiradores, que em vez de conversa propõem o uso de munição pesada contra o governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ala mais light, liderada pelo governador mineiro Aécio Neves, sempre preocupado em não dinamitar as pontes do diálogo com o Executivo federal.
Apesar das diferenças, no entanto, líderes dos dois grupos avaliam que, no cenário de derrota do tucano Geraldo Alckmin na corrida presidencial, o papel do PSDB será de ?oposição responsável?, semelhante ao assumido no primeiro ano de governo Lula.
?Seja quem for o próximo presidente da República, a primeira tarefa é esfriar a cabeça?, recomenda desde já o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). ?Confio na vitória, mas, quando termina a luta, todo lutador tem que dar uma parada e meditar?, concorda o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio Neto. Ao mesmo tempo, porém, ele adverte que ?o clima político não é bom, seja qual for o resultado das urnas? e deixa claro que Lula não terá um minuto de sossego em seu eventual segundo mandato, ?porque é um passarinho baleado, com a asa quebrada, que ficará ao alcance de todos os gatos de plantão?. Diante da derrota iminente apontada pelas pesquisas de intenção de voto, um setor do partido prega a calma imprescindível à definição da melhor estratégia para fazer oposição ao governo. Dirigentes tucanos defendem a tese de que, seja qual for o resultado eleitoral, o mais importante é conquistar a presidência do Senado. Por isto mesmo, consideram que a parceria bem-sucedida com o PFL é fundamental. Como os pefelistas saíram das urnas com o status de maior bancada do Senado, as regras e a tradição parlamentar lhes garante o direito de indicar o presidente da Casa.
O líder Arthur Virgílio contesta a divisão interna e diz que as diferenças decorrem apenas das posições táticas. ?Quem está no Parlamento atira mais do que os governadores porque eles precisam manter o diálogo institucional com o presidente da República?, resume. Apesar disso, um dos principais interlocutores do governador eleito de São Paulo, José Serra, sustenta que ele vai ?buscar um discurso de centro-esquerda e liderar a oposição mais doutrinária ao governo Lula, com a atenção sempre voltada para a economia?. Segundo este parlamentar, Serra fará o ?contraponto à política econômica conservadora do governo do PT?.
Bem no estilo franco-atirador que o caracteriza, o líder Arthur Virgílio afirma que, hoje, Lula não tem interlocutores para dialogar com o Congresso, especialmente com a oposição. Ele confessa não ter a menor intenção de aceitar o convite, ?que nem era pra valer?, de um jantar com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, feita há duas semanas.
Irritado com a movimentação do ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, que pregou a coalizão de governo antes do primeiro turno e agora volta a falar em diálogo com as forças políticas, Virgílio chegou a subir à tribuna hoje, para recusar a oferta de diálogo antes da abertura das urnas. O líder protestou contra a ?grosseria? do ministro, que quer atropelar o resultado eleitoral. Para o tucano, o ministro não passa de ?um guerrilheiro do governo que passou o tempo todo agredindo o PSDB? e, por isto mesmo, considerou sua proposta ?uma indigência intelectual?.