A “Porta do Inferno” é uma escultura que Auguste Rodin, um dos maiores artistas de seu tempo, demorou 37 anos para criar – ele a iniciou em 1880 e só terminou em 1917. É uma representação da Divina Comédia de Dante Alighieri, em que o autor e protagonista do poema épico é materializado na figura de um homem, posicionado no topo de escultura, que observa os círculos do Inferno enquanto medita sobre sua existência.
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O desenho do homem prostrado com a mão apoiando a cabeça acabou se tornando a peça mais emblemática de toda a obra de Rodin, “O Pensador”, que ganhou de seu autor uma versão própria de 1,83 metro, feita no início do século 20, à parte da “Porta do Inferno”. Do molde original do “Pensador Monumental” foram criadas 25 réplicas, espalhadas pelos museus mais importantes do mundo.
Em março de 2005, uma dessas réplicas foi trazida ao Brasil, mais precisamente para Curitiba, e instalada no campus de uma instituição de ensino superior particular, o então Centro Universitário Positivo, cujo reitor, à época, era o professor Oriovisto Guimarães, um dos fundadores do Grupo Positivo, que se tornou referência em educação – pelas escolas e pelo material didático, distribuído para todo o país – e em tecnologia, então pela Positivo Informática, que foi por anos a maior fabricante de computadores do Brasil.
No início dos anos 2000 o Grupo Positivo tinha sua gestão divida entre os sócios originais do curso Positivo – pré-vestibular derivado do curso Barddal, então o mais popular de Curitiba. Oriovisto Guimarães, antigo professor de matemática do cursinho, decidira, naquele estágio de sua vida empresarial, que se ocuparia da administração do centro universitário, o Unicenp, uma evolução das Faculdades Positivo que acabara de se instalar em um moderno e extenso campus no Campo Comprido, no limite de Curitiba e Araucária.
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O campus do Unicenp era – e ainda é, hoje como Universidade Positivo – grandioso aos olhos de quem entrasse por seus portões. Além dos blocos educacionais, chamavam a atenção a biblioteca, o prédio da pós-graduação, a capela ecumênica e, claro, a reitoria, ocupada pelo reitor Oriovisto Guimarães. Os edifícios foram desenhados pelo arquiteto Manoel Coelho e construídos em aço e vidro ao redor de um lago, povoado por patos e cisnes.
“Escolhemos esta obra para inaugurar uma série de eventos culturais que vamos promover na instituição e também porque ela tem relação direta com a filosofia da escola, que é o saber e a ética”, disse Oriovisto à época da inauguração da exposição do “Pensador” em Curitiba. Foi ele o idealizador e patrono da turnê da magnífica escultura à capital paranaense. Oriovisto queria um Rodin em seu quintal.
De fato, o programa cultural de Oriovisto não se encerrava na obra do famoso escultor. Logo ele inauguraria no campus um auditório de pouco mais de 700 lugares. Em seguida, aquele que veio a ser o maior teatro do Paraná, o Teatro Positivo, com mais de 2 mil lugares – para a inauguração, Oriovisto trouxe um concerto do tenor espanhol José Carreras, numa concorrida apresentação exclusiva para convidados. E para o programa regular do espaço, ele bolou uma série de palestras com grandes empresários, CEOs das maiores empresas brasileiras, que vinham a Curitiba contar sua experiência para os empresários locais.
Ainda antes, esteve à frente de outros marcos: comprou os direitos de publicação dos dicionários Aurélio e adquiriu a biblioteca de Roberto Campos, um dos maiores economistas brasileiros de todos os tempos.
Em março de 2012, se afastou da gestão do Positivo, deixando a missão para seus sócios e filhos.
“Saber, ética, trabalho, progresso” é a inscrição que foi gravada no piso no prédio da pós-graduação da universidade de Oriovisto. Não são palavras escolhidas a esmo. Elas representam os valores institucionais da universidade e sintetizam a forma como o novo senador eleito pelo Paraná enxerga a trajetória do homem. O saber explica a natureza e a vida; a ética, o único caminho para se alcançar a felicidade; com o trabalho o homem transforma a natureza e a si mesmo; o progresso é a civilização melhorada, da qual resultam acúmulo de bens materiais e crescimento intelectual – é o que confere à vida, na visão de Oriovisto Guimarães, o seu maior significado.
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“Acúmulo de bens materiais” é uma condição da qual poucos políticos gostam de falar, mas nem tão poucos gostam de perseguir. Oriovisto Guimarães é um desses empresários que não tem vergonha de assumir sua boa condição de vida – ao contrário, ele enxerga o próprio sucesso como reflexo da trajetória que traçou. À Justiça Eleitoral, declarou um patrimônio de R$ 240 milhões. Por essas e outras, sempre foi cortejado por políticos para entrar na vida pública – não somente pela contribuição que poderia dar por sua experiência de vida e empresarial, como também pelo “empurrão” que suas finanças possivelmente dariam na candidatura de algum aliado.
Apesar não ter vergonha de esconder sua fortuna, nunca foi dado a grande esbanjamento. À parte de sua luxuosa residência às margens do lago do Parque Barigui, é um homem de hábitos de consumo mais comedidos. Seu maior interesse, descrevem os funcionários e assistentes mais próximos, sempre foi o mundo do conhecimento, especialmente o descrito por filósofos da Grécia Clássica. “Se a gente não consegue ser feliz no trabalho, não vai ser feliz na vida. Passamos a vida toda trabalhando. Se você não for feliz no trabalho, definitivamente, não vai ser feliz. Não é só o salário, é muito mais que isso: é sua realização como pessoa”, declarou em uma entrevista.
Nessas eleições, Oriovisto foi noiva cortejada por vários candidatos. Quem foi o primeiro a chegar mais perto foi o ex-senador Osmar Dias (PDT), de quem se especulou que o professor poderia se tornar o vice. O eventual embarque do fundador do Positivo na barca do irmão Dias barbado era visto por muitos como a tábua de salvação daquela candidatura. Oriovisto, no entanto, não cedeu fácil aos encantos. Bateu o pé que queria sair para o Senado, não como vice. Fez saber que não derramaria recursos em campanha alheia. Não seria um namoro fácil.
As dificuldades acabaram tirando Osmar do jogo e, com isso, o professor pode seguir o curso desenhado pelo outro irmão Dias, Alvaro, seu amigo pessoal que lhe ofereceu assento no Podemos, partido renomeado havia pouco tempo se pensando nas eleições de 2018. Assim, Oriovisto se tornou o candidato oficial de Ratinho Junior (PSD) que, sem o enfrentamento de Osmar, acabaria rumando tranquilo a uma eleição em primeiro turno.
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A companhia do candidato mais popular do estado nessas eleições fez bem para o professor. Numa campanha curta, engajou-se em correr o interior do Paraná em eventos ao lado de seu candidato ao governo, 36 anos mais jovem e formado por curso semipresencial. Em Curitiba, era amplamente conhecido, por ter sido professor de milhares e por ser vinculado a uma das marcas empresariais mais fortes do estado. Na televisão, pouco falava sobre suas ideias – suas bandeiras foram o combate à corrupção e a defesa das reformas urgentes, como a política e a previdenciária. Apresentava-se como “professor Oriovisto, de nome incomum”. Pouco além disso.
Agora os cidadãos paranaenses terão ao menos oito anos para se acostumar com o nome de seu novo senador.
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