A assessoria jurídica da campanha do deputado estadual Angelo Vanhoni (PT) à prefeitura de Curitiba protocolou ontem na 1.ª Zona Eleitoral de Curitiba pedido de investigação judicial eleitoral contra o candidato Beto Richa (PSDB), o candidato a vice-prefeito Luciano Ducci (PSB), e Geraldo Yamada (PSB), ex-vereador e ex-secretário de Turismo da primeira gestão de Cássio Taniguchi (PFL).
A Polícia Federal, porém, entendeu que não houve crime eleitoral no suposto caso de compra de votos. Após análise do caso, a Polícia Federal enviou uma nota oficial à imprensa sobre o assunto nesta sexta-feira. Diz a nota: “Após consulta à Justiça Eleitoral e Ministério Público, e feita profunda análise por parte do delegado Mauricio Valeixo, entendeu-se não estar tipificado crime eleitoral no caso específico. O vereador foi então ouvido, juntamente com as testemunhas, e os depoimentos encaminhados à Justiça Eleitoral para análise e decisão”.
Yamada, que concorreu à uma cadeira na Câmara Municipal de Curitiba no primeiro turno das eleições, está sendo acusado de tentar comprar por R$ 300, vale-combustível e emprego público o apoio político da também candidata derrotada à vereadora, Maria Rosa dos Santos Araújo (PSC), para a chapa de Beto Richa à prefeitura. O PSC é um dos partidos que integram a aliança de apoio a Vanhoni.
A denúncia de tentativa de suborno eleitoral foi o tema central, ontem, do programa de Vanhoni no horário eleitoral gratuito, onde foi exibida uma gravação em vídeo de um encontro entre Maria Rosa e Yamada, no momento em que os dois supostamente negociavam o apoio ao tucano. Na ação, os advogados de Vanhoni acusam Beto, Ducci e Yamada de prática de abuso de poder econômico. A ação descreve que a tentativa de compra foi feita mediante pagamento em dinheiro, vales-gasolina e promessa de cargo na administração pública para a filha da ex-candidata a vereadora.
A ação judicial pede à Justiça Eleitoral a decretação da inelegibilidade por três anos dos denunciados e a cassação do registro da candidatura de Beto Richa e Luciano Ducci. “Diante dos graves fatos que toda a população de Curitiba já tomou conhecimento, estamos acionando a Justiça para que seja apurado o abuso de poder econômico, que nesse caso é mais do que evidente”, declarou o coordenador jurídico da coligação de Vanhoni, Guilherme Gonçalves.
Depoimento
Acompanhada pelo advogado Carlos Rubens Molli Junior, da assessoria jurídica da campanha de Vanhoni, a ex-candidata a vereadora concedeu ontem uma entrevista coletiva para relatar como foi abordada por Yamada. Maria Rosa, que é lider comunitária no bairro Fazendinha, disse que na semana passada recebeu vários telefonemas de Yamada, a quem diz nunca ter visto antes, para que fosse ao comitê de campanha de Beto Richa ajudar na conquista de votos. Maria Rosa disse que recusou o convite, explicando que tinha concorrido pela coligação de Vanhoni. Mesmo assim, a ex-candidata disse que foi novamente procurada, desta vez por uma pessoa que identificou como Álvaro e que seria um correligionário do PSC. Ela não soube citar o sobrenome do mediador do contato com Yamada. Segundo a ex-candidata a vereadora, Álvaro disse que Yamada iria visitá-la na tarde de quarta-feira. “Ele disse que o Yamada iria trazer umas coisas boas. Quando eu perguntei o que eram, o Álvaro respondeu que ele vinha trazer gasolina, com notinhas de oncinhas”, afirmou.
Conforme Maria Rosa, percebendo que iria receber uma oferta de compra de apoio político – ela fez 1.200 votos na eleição para a Câmara – resolveu telefonar ao presidente municipal do PSC, Benone Manfrin, para denunciar a tentativa de suborno. “Eu comuniquei o presidente do partido porque não quero que isso passe em branco. Ele (Manfrin) entrou em contato com a assessoria jurídica da campanha de Vanhoni e eles me pediram autorização para gravar o encontro com esse Yamada. Eu dei a autorização para mostrar ao povo curitibano que não pode acontecer esse tipo de coisa. Como é que eu ia tirar a bandeira do Vanhoni do meu portão e no dia seguinte colocar a do Beto Richa? Iria passar por uma traidora na frente dos meus eleitores”, disse ela, que este ano concorreu pela segunda vez à Câmara Municipal.
Para tucanos, denúncia é “armação”
O coordenador da campanha de Beto Richa (PSDB) à Prefeitura de Curitiba, Fernando Ghignone, convocou entrevista coletiva ontem à tarde para manifestar “a indignação da campanha diante da farsa denunciada ao longo da semana e que veio à tona hoje (ontem) no programa eleitoral do PT”. Exibindo cópia do depoimento da candidata a vereadora do PSC Maria Rosa dos Santos Araújo e nota da Polícia Federal informando não haver crime eleitoral tipificado no caso, Ghignone anunciou que a coligação vai processar criminalmente os responsáveis pelo que qualificou de “armação”, além de requerer ao TRE direito de resposta em rádio e televisão e a apuração dos fatos.
Destacou que Maria Rosa, o pivô do suposto flagrante de compra de apoio, já foi candidata a vereadora pelo PMDB, disputou este ano por uma das siglas coligadas ao candididato adversário de Richa, depois de engrossar o movimento contra a candidatura própria no partido do governador Roberto Requião: “Percebe-se em todo o encaminhamento que foi dado ao episódio a criação de uma farsa para armar um suposto flagrante onde tomaram parte um advogado do PT e seu assistente, cinegrafistas do PT e um agente da Polícia Militar em seu dia de folga, quando o normal seria a participação da Polícia Federal, a quem cabe o papel de polícia judiciária nesse tipo de ocorrência”.
O coordenador explicou que Yamada disputou uma vaga na Câmara Municipal por um dos partidos que integra a coligação, mas não participa da coordenação de campanha de Beto Richa nem estava autorizado a falar ou agir por ela: “Aliás, ninguém na coligação está autorizado a esse tipo de ação. O que temos aqui é um novo “Ferreirinha”. Há gente especialista em criar “Ferreirinhas” nos processos eleitorais”, ironizou.
Participaram da coletiva os deputados estaduais Valdir Rossoni (PSDB), Augustinho Zucchi (PDT), Neivo Beraldin (PDT) e Luiz Carlos Martins (PSL), além de outros coordenadores da coligação tucana. Rossoni pôs mais lenha na fogueira, apresentando aos jornalistas gravação de uma ligação telefônica que comprovaria a participação da Binacional Itaipu na campanha curitibana, através da contratação de três ônibus para trazer à capital, no domingo, funcionários da empresa e cabos eleitorais do PT da região de Foz do Iguaçu e Cascavel.
Na fita gravada, o telefone, de número (045) 520-5505, é atendido por uma recepcionista que o identifica como pertencendo à Itaipu. E um funcionário, de nome Borges, que se diz dirigente do PT e assessor de Jorge Samek – diretor-geral da hidrelétrica – informa que não há mais vagas nos três ônibus que estariam vindo a Curitiba.
Rossoni chamou a atenção dos jornalistas para um detalhe que considera fundamental na gravação exibida ontem pelo PT: “Para quem já viveu um “Ferreirinha”, é fácil identificar um desejo muito grande – e altamente suspeito – de ligar para o nosso comitê, fazendo a imediata ligação com a campanha”
O advogado e ex-deputado Nilso Sguarezzi, que está atuando no caso, comparou-o a outras situações denunciadas pelo PSDB envolvendo a P2, grupamento da Polícia Militar que atua descaracterizado: “Há neles todos, desde a invasão da sede do comitê em 15 de setembro até o episódio Yamada, passando pela apreensão de panfletos e prisão de militantes no bairro de Santa Quitéria, na semana passada, uma atuação conjunta da P2 com a equipe de comunicação da campanha adversária. (Sandra Cantarin Pacheco)
“Atitude é oportunista”
O secretário municipal de Governo da Prefeitura de Curitiba, Geraldo Siqueira, definiu ontem como uma atitude “oportunista e irresponsável” a tentativa da coligação Ta na Hora Curitiba de vincular à prefeitura o nome de Geraldo Yamada, denunciado no programa eleitoral por suposto crime eleitoral.
“Yamada não é, e nunca foi, superintendente da Secretaria Municipal de Governo, como foi dito. Ele não é sequer funcionário da prefeitura”, disse Siqueira, inconformado com o que considerou “informações absurdas, claramente voltadas a objetivos eleitoreiros”, comentou.
Segundo Siqueira, Yamada foi assessor técnico do gabinete por um curto período, de fevereiro a maio de 2003. Antes, ele havia sido secretário municipal da Indústria, Comércio e Turismo, secretaria que foi extinta pelo prefeito Cassio Taniguchi no final do ano 2000, ainda em seu primeiro mandato.
“Pelo que sei, no exercício de suas funções no município, Yamada manteve uma conduta responsável e comprometida com os interesses da população curitibana”, afirmou Siqueira.