O PT já admite que a presidente Dilma Rousseff pode não vencer a eleição de 2014 no primeiro turno, ao contrário do que previa o marqueteiro João Santana. Proposta de resolução levada ao Diretório Nacional, no sábado, 20, diz que o partido enfrentará “intensa luta política e ideológica, incluindo aí dois turnos de eleições presidenciais”. Para os petistas, é preciso que a autoridade de Dilma seja “preservada e defendida” com mais ênfase porque os protestos de rua geraram uma “nova situação política”.

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Em debates internos, os petistas, ao avaliar o significado dos protestos de junho, reconheceram “graves equívocos políticos na prática do PT” e a necessidade de “reorientação” e “reconstrução das bases sociais e dos vínculos populares” do partido diante dos “sinais de fadiga da velha ordem institucional”.

“Sabemos (…) que, para estar à altura destes desafios, nos caberá analisar o novo quadro, reconhecer com humildade os erros cometidos e reciclar nosso programa, estratégia e condutas”, destaca o documento. O texto ainda não foi aprovado. A corrente majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), está rachada e não houve acordo para a votação da resolução, que ainda pode ser alterada e só passará pelo crivo da Executiva Nacional em agosto. As divergências foram acentuadas com pressões de alas à esquerda do PT para que o tom de críticas ao governo Dilma – que enfrenta dificuldades na economia e queda de popularidade – fosse acentuado.

A versão preliminar da resolução afirma que o principal porta-voz da “trava ao desenvolvimento” está nos monopólios de comunicação. Além disso, os petistas veem uma “barricada de interesses” – formada pela “hegemonia conservadora sobre as principais instituições do Estado, como Congresso e Justiça” – erguendo obstáculos para a ação da presidente Dilma.

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Eduardo Campos

Em outro documento, intitulado “O Brasil quer mais e melhor”, a chapa que apoia a reeleição do deputado estadual Rui Falcão (SP) à presidência nacional do PT pede cuidado com os “porta-vozes dos capitais” na disputa de 2014. Mesmo sem citar o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, o texto faz referência indireta a ele ao argumentar que “os neoliberais e neoconservadores” querem outro bloco social no poder e podem buscar novas opções. “Seus porta-vozes, hoje, são o consórcio DEM, PSDB, PPS, o que não quer dizer que não busquem alternativas futuras para candidaturas avulsas ou de partidos que abriguem seus interesses”, ressalva a tese do grupo de Falcão. Provável candidato à sucessão de Dilma, Campos adotou o slogan “é preciso fazer mais e bem feito”.

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Os dois textos do PT combatem a chamada ditadura do marketing político e eleitoral. A chapa de Falcão faz uma autocrítica das ações do PT e diz que o governo Dilma ainda não cumpriu todas as tarefas. “(…) Tudo o que foi feito não é suficiente para colocar o universo das políticas públicas em diálogo permanentemente fértil com as grandes causas de nosso tempo”, destaca o documento, que contém 48 tópicos.

A tese foi apresentada pela CNB, tendência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conjunto com as correntes Novo Rumo e PT de Lutas e de Massas (PTLM). As eleições que vão renovar a cúpula do PT estão marcadas para 10 de novembro. Falcão é o favorito para continuar no comando do partido.

Correção de rumo

Embora a tese do grupo trate Dilma como “uma estadista, uma líder que tem ouvido o País” e destaque que o Brasil viveu, nos últimos dez anos, “o melhor momento de suas políticas públicas”, há várias linhas com apelos para correção de rumo. “Para atualizar o projeto para o País é preciso discutir os rumos do desenvolvimento sustentável que defendemos. As orientações da política econômica que, guiada pela perspectiva da distribuição de renda, combine equilíbrio fiscal, controle do câmbio e crescimento com condições de ampliação do financiamento do Estado”, afirma o texto.

Se Falcão ganhar a eleição, o documento norteará a ação do PT para os próximos quatro anos e servirá de parâmetro para a construção do programa de reeleição de Dilma. “A distribuição de renda e o acesso ao consumo não bastam para impulsionar a emancipação das pessoas, construir um desenvolvimento em bases sustentáveis e formar maiorias que sustentem as reformas sociais e políticas defendidas pelo PT”, diz o texto. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.