A derrota avassaladora do PT na eleição de domingo, 2, fez avançar um movimento interno para a criação de uma frente eleitoral de partidos de esquerda no segundo turno. Depois de perder a Prefeitura de São Paulo e encolher significativamente em todo o País, o PT agora procura uma alternativa pela própria sobrevivência política.
O presidente do partido, Rui Falcão, se reuniu na segunda-feira, 3, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir o posicionamento nas cidades onde haverá segundo turno. Segundo relatos de interlocutores, Falcão sugeriu que o PT anuncie apoio irrestrito ao candidato do PSOL no Rio, Marcelo Freixo, e em Belém, Edmílson Rodrigues.
A estratégia pode ser o primeiro passo para a criação de uma frente de esquerda na qual o PT, o PSOL, o PDT e o PCdoB tendem a se apoiar mutuamente nas capitais que ainda estão em disputa. O PT chegou ao segundo turno no Recife, o PDT ainda está no páreo em Fortaleza e o PCdoB, em Aracaju.
“Este é o momento de construir a frente, pois existe um motivo concreto para esses partidos, que é a disputa nessas cinco cidades”, disse Celso Marcondes, diretor do Instituto Lula.
Marcondes afirmou que a ideia é formar uma “frente estratégica, não só para concorrer em eleições, e horizontal, sem partidos hegemônicos”.
Lula viajará nesta terça-feira, 4, para o Rio, onde vai participar de evento da Intersindical, mas não há, ao menos por enquanto, previsão de encontros políticos. Interlocutores do ex-presidente observam, porém, que ele é simpático à ideia da frente.
Congresso
O inventário dos erros que levaram ao colapso do PT nas eleições começará a ser feito na quarta-feira, 5, numa reunião da Executiva Nacional, em Brasília. A corrente Mensagem ao Partido apresentará um documento intitulado “Muda PT”, no qual defende a convocação imediata de um novo Congresso petista, com o objetivo de trocar a direção da legenda e alinhavar um novo programa.
“O PT encerra um ciclo iniciado em 2002 e precisa fazer um balanço dos erros cometidos para se reabilitar e se reapresentar à sociedade”, afirmou o deputado Paulo Teixeira (SP), que foi tesoureiro da campanha do prefeito Fernando Haddad e é um dos vice-presidentes do partido.
Teixeira defendeu, no entanto, uma repactuação interna, a fim de reconstruir o PT, abalado por uma sucessão de crises, que culminaram com o impeachment da presidente Dilma Rousseff e com a perda de mais da metade das 635 prefeituras conquistadas em 2012.
Naquele ano, o PT foi o partido que mais recebeu votos (17,2 milhões). Nesta eleição, porém, obteve apenas 2,2 milhões de votos, despencando para o 10.º lugar no ranking.
“Houve uma captura do PT pela institucionalidade e o partido se afastou das suas origens, mas talvez esse período fora do poder nos ajude a recuperar o convívio com nossa base social”, argumentou Teixeira.
Para o professor de Filosofia Política Aldo Fornazieri, a direção do PT deveria renunciar. “O partido vive uma crise política e moral. Se nada for feito, caminha para uma divisão inexorável”, disse ele. “No mensalão, a cúpula do PT não fez autocrítica e, no impeachment, ficou acovardada. Agora, houve esse massacre nas urnas. Os generais do PT não têm mais exército.”
Pressão
Sem saber exatamente o rumo a seguir diante do agravamento da crise, os dirigentes do PT procuram nomes para compor a nova direção. Nesse cenário, aumenta a pressão para que Lula assuma o comando do partido, embora ele seja réu da Lava Jato. Se for condenado em segunda instância, o ex-presidente se tornará “ficha-suja” e não poderá concorrer ao Palácio do Planalto, em 2018.
“Lula é o nome capaz de promover essa repactuação no PT”, afirmou Teixeira. “Esses processos contra ele têm conteúdo político. Querem retirá-lo da disputa presidencial.”
Ainda nesta semana, Lula vai iniciar uma rodada de conversas com as principais forças do PT para articular a troca da direção. Ele ainda resiste à ideia de presidir o partido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.