A partir de 3 de outubro, o PT começa a negociar formalmente com as siglas aliadas – PMDB, PL, PDT, PTB, PCdoB, PV e PCB – as composições para as eleições municipais do próximo ano. A decisão foi tomada no final de semana durante reunião do diretório estadual em Curitiba.
O líder do governo na Assembléia Legislativa e pré-candidato à prefeitura de Curitiba, Ângelo Vanhoni, sugeriu que o partido iniciasse as conversas pelo PMDB, mas de acordo com o presidente estadual do PT, deputado estadual André Vargas, o partido não tem aliados preferenciais no Paraná e conversará com todos os partidos da base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao mesmo tempo.
Na nota oficial divulgada ontem e que reproduz o texto da resolução aprovada no encontro do diretório estadual, o PMDB não aparece como prioridade do partido para as coligações. O PT se compromete a “realizar todo o empenho para que o PT dispute as eleições em todos os municípios do Paraná com candidaturas próprias a prefeito, respeitada a autonomia das direções municipais em celebrar coligações com os partidos do arco de aliança do PT, não havendo preferência entre qualquer desses partidos”, registra a nota.
Vanhoni disse que o fato de o PT participar do governo do PMDB faz do partido do governador Roberto Requião uma das principais composições para o PT em 2004. “Nós temos que sentar com o PMDB para discutir uma política de alianças não apenas para Curitiba, mas principalmente para outras cidades. Entendo que é o nosso principal aliado porque nós estamos integrando o governo do PMDB”, justificou. Vanhoni acha que, enquanto em Curitiba o diálogo flui, em outras cidades, os dois partidos não estão discutindo as alianças do próximo ano.
Além de conversar com o comando do diretório estadual do PMDB, presidido pelo deputado federal Gustavo Fruet, também pré-candidato do partido à prefeitura de Curitiba, o PT montou uma comissão para conversar com Requião. Serão dois deputados estaduais, dois federais, o senador do partido (Flávio Arns) e um prefeito de uma das nove cidades administradas pelo PT no Estado. Requião, na opinião de Vanhoni, é o principal interlocutor do PMDB no Paraná.
Outro momento
Na abertura do texto oficial do encontro estadual, o partido justificou que a aliança com o PMDB no ano passado foi “programática”. E que as eleições de 2004 “também se revestem de grande importância para a construção e o fortalecimento do PT e certamente determinará as possíveis alianças para disputar as eleições de 2006 no Estado do Paraná”, afirma o documento. O diretório estadual decidiu que, para fazer suas coligações, os diretórios deverão se basear nas resoluções das direções nacional e regional do partido sobre política de alianças, elaboração de programa de governo municipal democrático e popular.
Sercomtel é foco de tensão
Um dos mais recentes pontos de tensão entre setores do PT e o PMDB é a auditoria determinada pelo governador Roberto Requião (PMDB) na Sercomtel (Serviço de Telecomunicações de Londrina). O prefeito de Londrina, Nedson Micheleti, considerou uma ofensa o fato de o governador não ter comunicado previamente sua decisão e somente tê-lo procurado depois da conclusão do levantamento. Segundo relatou Micheleti durante o encontro do diretório estadual do PT em Curitiba, ele ficou sabendo da auditoria por meio do conselheiro do Tribunal de Contas, Heinz Herwig.
O prefeito revelou que estranhou a inexistência de um comunicado oficial do Palácio Iguaçu e também ficou surpreso quando, dias depois, recebeu uma ligação de Requião avisando que já tinha os resultados da auditoria e que queria conversar sobre o assunto. Segundo Micheleti, o governador voltou a telefonar na terça-feira passada para pedir que suspendesse os gastos com publicidade da Sercomtel e desativasse as empresas coligadas à companhia.
O prefeito de Londrina argumentou que a empresa é administrada por uma diretoria, dispõe de um conselho de administração e as decisões sobre a Sercomtel não são da alçada do governador. Micheleti considerou ainda como retaliação do governo à sua posição a convocação do presidente da empresa para depor na CPI da Copel. O depoimento foi proposto pelo deputado Alexandre Curi (PMDB), aliado de Requião.
Além do episódio envolvendo a Sercomtel, durante o encontro estadual do PT o presidente do diretório regional, André Vargas, relacionou mais alguns focos de atrito com o governo estadual. O presidente estadual do partido relembrou as críticas que recebeu do governador na condição de presidente da CPI do Pedágio, citou a suspensão do curso de Medicina na UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) sem avisar antecipadamente o prefeito petista Péricles de Mello e as recriminações do governador ao senador Aloísio Mercadante (PT/SP), que condenou os rompimentos de contrato com empresas privadas no Paraná.
Também faz parte do rol de desavenças as críticas de Requião ao superintendente estadual do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Celso Lacerda, e ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci.