Além de reafirmar o apoio do PT ao governo Roberto Requião (PMDB), o seminário estadual do partido realizado anteontem em Curitiba definiu um conjunto de ações que serão adotadas pela legenda já como parte do trabalho de preparação para as eleições municipais de 2004. A cúpula estadual do PT traça uma meta ambiciosa para o próximo ano. Planeja ampliar de 9 para 40 o número de prefeituras administradas pelo partido no Paraná. O PT também pretende pelo menos dobrar o número de cadeiras nas câmaras municipais, chegando a 300 vereadores no Estado.

Uma das medidas definidas pelo partido no encontro de sexta-feira foi a realização de seminários para avaliar o desempenho das nove administrações petistas no Estado: Londrina (Nedson Micheletti), Maringá (José Cláudio Pereira), Ponta Grossa (Péricles Holleben de Mello), Medianeira (Luiz Suzuke), Sarandi (Aparecido Farias Spada), Rebouças (Luiz Everaldo Zak), Serranópolis do Iguaçu (Nilvo Antônio Perlin), Porecatu (Dionísio Santos de Souza) e Vera Cruz do Oeste (Marcos Vilas Boas Pescador). “Além de fazer esse balanço, nós teremos condições de construir uma unidade interna para enfrentar o projeto eleitoral do próximo ano mais fortalecidos”, explica o vice-presidente estadual do PT, Márcio Pessatti.

Alianças

Uma questão crucial nessa meta é a política de alianças do partido. Pessatti diz que o PT pretende repetir a aproximação com os partidos que integram o arco tradicional de alianças, como o PC do B, mas considera que a legenda está aberta a entendimentos com outras forças políticas que possuam uma linha programática semelhante à petista. “A nossa política de alianças se ampliou no cenário nacional (o PT se aliou ao PL nas eleições, cedendo a vice do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao senador José Alencar). Creio que, no Paraná, também tenhamos condições de ampliar o partido”, avalia Pessatti.

De acordo com o dirigente petista, porém, a repetição da aliança com o PL no Paraná deve ser difícil. “Vejo essa aliança com alguma dificuldades, mas isso ainda não está definido. O deputado pastor Oliveira (presidente estadual do PL) comunicou que não pretende fazer uma aliança com o PT nas eleições municipais do próximo ano, mas os dois partidos ainda não se sentaram à mesa para conversar sobre o assunto. Por isso, não entendo que a posição do PL seja oficial”, diz.

Quanto ao PMDB, a postura do partido é de tentar o entendimento, apesar da disposição de ambos de lançar candidato próprio à sucessão do prefeito Cássio Taniguchi (PFL). “A nossa postura é de buscar o diálogo permanentemente. Onde for possível caminharmos juntos, caminharemos. Caso contrário, que se estabeleça o melhor caminho para cada um dos partidos”, comenta.

Já em relação ao PSDB e ao PFL, Pessatti diz que vai defender a tese de que não haja uma aproximação com os dois partidos. “O PSDB e o PL se colocaram claramente no campo de oposição ao PT e ao governo Lula. Isso é legítimo. Eles têm o direito de fazer isso. O problema é que o PSDB e o PFL estão fazendo uma oposição desqualificada”, avalia. Sobre o PDT, o dirigente petista diz que a aliança seria complicada. “As próximas eleições serão sui generis, porque estarão muito enfocadas nos problemas municipais. A conversação das direções nacionais dos dois partidos ainda não está fechada. De qualquer forma, acho que, no Paraná, a aliança ficará bastante complicada em função das divergências que temos”, comenta.

SP é prioridade, afirma Genoino

São Paulo (AG) – Faltando pouco mais de um ano para a disputa municipal, o PT já colocou suas cartas na mesa e aposta tudo na reeleição da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Embora negue que esteja em campanha, a prefeita age como se fosse candidata e já conta com o apoio de um cabo eleitoral de luxo: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A reeleição da Marta é a prioridade número um do PT nas eleições municipais”, confirma o presidente nacional do PT, José Genoino.

Lula tem apreço pessoal pela prefeita. Ele e a primeira-dama Marisa Letícia serão padrinhos de casamento de Marta com o franco-argentino Luiz Favre, no mês que vem. Além disso, o presidente tem uma dívida de gratidão com a prefeita, que no ano passado colocou sua administração em risco para entrar de corpo e alma na vitoriosa campanha presidencial. Não foi de graça que Lula a lançou candidata à reeleição, ainda em abril, quando a prefeita enfrentava desconfiança dentro do próprio PT e uma saraivada de críticas. Ela foi alvo de vaias em eventos públicos.

A própria Marta admite ter uma relação diferenciada com o presidente:

“Para mim, tem um diferencial porque fui uma pessoa que se empenhou muito na campanha do Lula, vesti a camisa e estou muito identificada com ele”, disse Marta. Segundo fontes petistas, mesmo que Lula não possa ajudar com os recursos que gostaria, vai empenhar todo seu prestígio político em favor da amiga. Uma amostra dessa disposição foi dada sexta-feira, na inauguração do Centro de Educação Unificada (CEU).

“Nada neste mundo me impediria de vir à inauguração do primeiro CEU. O que você está fazendo hoje, Marta, é mudar o padrão de educação deste País”, elogiou Lula, enquanto levantava a mão da prefeita, num gesto típico de campanha. Segundo o Sistema de Execução Orçamentária, a União repassou R$ 225 milhões à Prefeitura até o dia 31 de julho. Além disso, o BNDES anunciou a liberação de R$ 500 milhões para o transporte.

“PT tem que quebrar os ovos”

Rio (AG) – O cientista político José Luís Fiori, que ficou conhecido como um dos mais severos críticos do governo Fernando Henrique Cardoso, diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ter que “quebrar ovos” se quiser mudar o rumo e a história do País. Para Fiori, Lula cedeu excessivamente na primeira hora, quando sua vitória eleitoral lhe dava força para exigir sacrifícios da sociedade. Professor de economia política da UFRJ e da Uerj, Fiori diz que “agora para sair da armadilha, o governo terá que inventar novos caminhos que contornem as restrições que se auto-impôs”, como o arrocho fiscal. Ele prevê que a era Lula será um período de forte trepidação, com tensões sociais, conflitos de interesse e divisões no governo.

Ele disse que os analistas devem refazer seus conceitos e começar a se habituar com a nova realidade política do País, porque a era Lula será conturbada e o governo terá de enfrentar um espaço permanente de divergências, conflitos e negociações. “É uma verdadeira guerra de posições, e também um complexo jogo de xadrez. O problema tem raízes estruturais muito conhecidas, começando pela distância abissal que separa os ricos dos pobres no Brasil, e sua distribuição desigual dentro de uma federação extremamente assimétrica. É nesse ponto que se encontra a dificuldade essencial de um projeto ou governo de esquerda, ou centro-esquerda, porque não há como aumentar a taxa de igualdade de uma sociedade como esta sem refazer os contratos e as instituições que consagram e congelam esta galáxia de interesses assimétricos”, comentou.

Ele reconhece que a construção de um pacto nacional pela retomada do desenvolvimento, durante a campanha eleitoral de 2002, trouxe à coalizão vitoriosa e do próprio governo Lula forças que convergem em alguns pontos, mas o cientista político lembrou que elas também se opõem em muitos outros.

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