A estratégia de “nacionalizar” a campanha municipal já divide o PT. Às vésperas da votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado, dirigentes do partido e candidatos mostram divergências sobre a eficácia de repetir a narrativa do “golpe” nas disputas pelas prefeituras. Além disso, com a expectativa de um cenário adverso para o PT, candidatos avaliam a conveniência de ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palanque e muitos preferem que Dilma fique distante.
Ao contrário da eleição de 2012, por exemplo, Lula não terá papel preponderante na campanha do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que concorrerá ao segundo mandato com alto índice de rejeição. Embora não seja réu, o ex-presidente é alvo da Lava Jato e perdeu grande parte do capital político.
Dilma disse nesta quarta-feira, 27, em entrevista, estar disposta a participar das eleições municipais, “se for convidada”, apoiando candidatos “da grande base progressista”. Nos bastidores, porém, a equipe de Haddad prefere que ela não apareça em São Paulo.
A ideia é vestir no prefeito o figurino do homem preparado para fazer “mais e melhor”. Auxiliares de Haddad estão convencidos de que as crises envolvendo o PT, Lula e o governo Dilma ofuscaram o trabalho dele. Haddad é um dos que mais se opõem à ideia de “nacionalizar” a campanha, defendida por candidatos no Nordeste.
“Mas qual o motivo para não mostrar a Dilma?”, perguntou o secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza. “Não temos como fugir dessa nacionalização, embora o que esteja em jogo sejam as propostas para melhorar a vida das pessoas.”
Comunicação
A ordem da cúpula petista é aproveitar a propaganda no rádio e na TV – que começa em 26 de agosto, quando a votação do afastamento definitivo de Dilma deve ter início no Senado – para também jogar luz sobre experiências bem-sucedidas nos quase 14 anos do PT no Palácio do Planalto.
Haddad, no entanto, acha que pecou na divulgação de suas ações e precisa mostrar o que fez, descolando-se dos malfeitos do PT. “É um erro grave a estratégia de ‘nacionalizar’ a disputa. Nesse caso, o eleitor sempre vota em função dos temas da cidade”, argumentou o cientista político Aldo Fornazieri, diretor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e colaborador do programa de governo petista, em 2012. “Além disso, quem tem de se defender de denúncias é o PT, e não o candidato.”
Na prática, a eleição em São Paulo, considerada a “joia da coroa”, é vista como a antessala da briga presidencial de 2018. Os maiores adversários de Haddad, hoje, são Celso Russomanno (PRB), Marta Suplicy (PMDB) e João Doria (PSDB).
Nordeste
Na outra ponta, o Nordeste, antigo reduto do PT, ainda exibe o maior índice de apoio a Dilma e Lula, o que faz muita diferença na definição do discurso de campanha. Na região, candidatos do PT querem associar o possível impeachment ao corte de programas sociais, apresentando-se como os nomes capazes de reverter a perda dos benefícios nas cidades.
A maior aposta do PT no Nordeste é a candidatura de João Paulo à prefeitura do Recife. Quatro anos após a debacle que se abateu sobre o partido na capital pernambucana – quando o então governador Eduardo Campos, morto em 2014, emplacou seu afilhado Geraldo Júlio (PSB) na prefeitura -, João Paulo aparece bem posicionado nas pesquisas.
“Se o PT souber capitalizar essa ideia do golpe nas eleições municipais, poderemos vencer a batalha, principalmente no Nordeste”, afirmou o deputado federal José Guimarães (CE), ex-líder do governo Dilma e um dos vice-presidentes do PT. “A ‘nacionalização’ ajuda muito no Nordeste e no Rio, mas em São Paulo admito que o terreno é mais hostil”, emendou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.