Vargas: objetivo é |
Deputados federais e estaduais do PT do Paraná se reuniram ontem em Brasília com o presidente nacional do partido, José Genoino, para conversar sobre o futuro das relações com o governador Roberto Requião (PMDB).
Da conversa, saiu o indicativo de que o PT deve se tornar independente da base aliada do governo na Assembléia Legislativa. A proposta será apresentada na reunião estadual do partido, marcada para amanhã em Curitiba e, para valer, terá que ser aprovada pela maioria simples dos 51 integrantes do diretório.
A aliança entre Requião e o PT sofreu um abalo com o alinhamento do governador ao grupo peemedebista que propôs e aprovou a saída do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O grupo que foi de Curitiba era formado pelos deputados André Vargas, presidente estadual do partido, Natálio Stica, líder do governo, Elton Welter, líder da bancada, e Tadeu Veneri. Da bancada federal estiveram os deputados Paulo Bernardo, Selma Schons, Clair Flora Martins e o senador Flávio Arns.
Vargas disse que o encontro serviu para que Genoino apenas ouvisse as posições dos paranaenses sobre o governo estadual. Conforme o relato de alguns dos participantes, o presidente nacional do partido afirmou que não haverá nenhuma interferência da direção nacional sobre a decisão estadual. "Nós vamos tentar costurar entre todos os grupos o apoio à autonomia em relação ao governo. Não se trata de fazer retaliação ao governador, mas de o PT, enquanto direção e liderança da bancada, estabelecer um relacionamento institucional com o governo", explicou o dirigente petista.
Com cargos
Os deputados petistas discutiram, mas não chegaram a um consenso sobre a situação dos filiados ao partido que ocupam cargos no governo estadual, caso o diretório estadual aprove a tese da independência. Atualmente, o PT está representado no primeiro escalão apenas pelo Padre Roque Zimmermann, que ocupa a Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho. Mas o que preocupa os deputados é a liderança do governo, exercida por Stica. Cabe ao líder do governo fazer a defesa das propostas do governo em plenário, o que, conforme a avaliação geral, ficaria difícil num cenário em que o PT não estivesse alinhado automaticamente à base de Requião.
Segundo Vargas, há uma corrente que defende a liberdade de decisão para Stica e Padre Roque, entendendo que foram convites pessoais feitos por Requião e que não foram dirigidos ao partido. Já outros acham que mesmo desta forma, os dois deveriam deixar seus cargos. "Acho que a decisão é deles, mas geralmente essas coisas se tornam incompatíveis", analisou o presidente estadual do PT.
Vidigal recusa impedimento
O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Edson Vidigal, disse que não se considera impedido para julgar a reclamação proposta pelo senador Ney Suassuna (PMDB-PB) sobre a convenção nacional do Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
Uma decisão do ministro Vidigal proferida nesta semana anulou a liminar dada pelo presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), desembargador José Jeronymo Bezerra de Souza. O presidente do TJDFT havia decidido pela validação da convenção do partido, realizada no último dia 12, na qual a legenda decidiu se afastar da base de apoio do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Como artifício para que o ministro Vidigal se julgasse impedido de atuar nesse caso, a ala não-governista do PMDB contratou o filho do presidente do STJ, Erick Vidigal, advogado, no dia 12 de dezembro, ou seja, no dia seguinte à decisão do desembargador Asdrúbal Lima, que naquela data exercia a presidência do Tribunal conforme escala de plantão. A decisão do ministro Vidigal, que tratou do assunto suscitado pelo PMDB, foi técnica e baseou-se na legislação.
Líder na AL admite crise
Se o PT se declarar independente do governo estadual na reunião do diretório que será realizada amanhã em Curitiba, o líder do governo na Assembléia Legislativa, deputado Natálio Stica (PT), disse que terá até fevereiro, quando começa o ano legislativo, para decidir se continua no cargo. Um dos participantes da reunião realizada ontem em Brasília com o presidente nacional do partido, José Genoino, o deputado petista afirmou que o "casamento" entre PT e PMDB está em crise. "É como se estivéssemos à beira do divórcio", comparou.
Para o líder do governo, a causa do desgaste na relação entre o PT e o PMDB não foi a posição nacional do PMDB de afastamento do governo Lula defendida pelo governador Roberto Requião. "Não tem a ver com a posição nacional do PMDB. Os problemas foram aparecendo no dia a dia e chegamos a um clima ruim. Temos que tomar uma posição. Quem sabe depois de um afastamento, este casamento não volte a ser duradouro", disse.
Stica acha que as críticas feitas pelo governador ao governo Lula ajudaram a esfriar as relações. "O Requião continua e vai continuar fazendo críticas ao Lula. Com a independência, o partido vai responder", afirmou. (EC)