O presidente do PT de Curitiba, Roberto Salomão, encaminhou ontem uma carta ao governador Roberto Requião (PMDB) para desfazer o mal-estar criado pelas declarações do presidente estadual do PT, deputado André Vargas, que citou as críticas do governador ao governo Lula como um dos fatores que levaram à derrota da aliança, na eleição do segundo turno, entre os dois partidos em Curitiba.
Na carta redigida em tom informal, Salomão destaca a atuação de Requião em favor da candidatura do deputado estadual Angelo Vanhoni à prefeitura de Curitiba.
“O PT não esquecerá o empenho e o desassombro com que você se dedicou à campanha de nosso candidato a prefeito de Curitiba. Neste momento de derrota, é bom deixar claro que ficaram, como marcas desta batalha, compromissos, afinidades e laços fraternais”, diz o texto enviado por Salomão a Requião. Anteontem, secretários de Requião queriam exigir uma posição pública dos representantes do PT no governo – Roque Zimmermann (Trabalho e Ação Social) e Daniel Godoy (Secretaria Especial de Governo) – em defesa do governador.
Cópias da carta de Salomão foram distribuídas depois que o chefe da Casa Civil, Caíto Quintana, reafirmou as críticas a Vargas em nota oficial distribuída ontem, no início da tarde. Na nota, Quintana condenou a falta de solidariedade de Vargas na derrota e descreve o petista como “neófito” em política e inexperiente em disputas eleitorais majoritárias.
“Na condição de presidente de um partido, ele deveria repensar a forma de agir buscando um responsável através de acusações”, afirmou o chefe da Casa Civil, acrescentando que Vargas não pode falar em nome do conjunto do partido. “O governador Roberto Requião teve um comportamento exemplar e trabalhou com firmeza pela eleição dos candidatos dos partidos coligados”, disse.
Sem efeito
Mas a nota do presidente municipal do PT não interrompeu a troca de farpas entre Vargas e Quintana. Ao rebater o chefe da Casa Civil, que estava na Assembléia Legislativa, o presidente estadual do PT trouxe à tona a sucessão estadual. Disse que se o PT e o PMDB não se ajustarem, o senador Osmar Dias (PDT) será o próximo governador do Paraná. Desde o dia da eleição, no domingo passado, Vargas tem defendido o que chama de uma “reavaliação” da aliança entre os dois partidos.
Quintana deu o troco. “Isso mostra o quanto o André é despreparado. Ele está lançando um nome que nem é candidato”, rebateu o secretário da Casa Civil.
O petista foi à tribuna da Assembléia Legislativa e disse que Quintana não o compreendeu. “Não deixo de reconhecer que o governador teve um empenho pessoal na campanha. O que eu digo é que tem que gerenciar melhor as relações políticas”, afirmou Vargas. E revidou o comentário do peemedebista de que não tem o direito de se manifestar em nome do PT estadual. “Sou o presidente estadual do partido. Fui eleito por petistas e entre eles não consta o nome do secretário da Casa Civil”, disse.
Dirigente petista minimiza acusações
No final da tarde, o presidente estadual do PT, André Vargas, divulgou uma nota conciliadora na tentativa de encerrar a discussão. “A presidência do PT-Paraná vem a público afirmar que o governador Roberto Requião teve papel importante na condução das eleições municipais, principalmente em Curitiba, quando licenciado do cargo, acompanhou o candidato Angelo Vanhoni. No entanto, entendemos que, diante do resultado no segundo turno das eleições municipais, é hora de fazermos uma autocrítica e buscarmos uma harmonia na aliança PT-PMDB”, esclareceu.
Segundo Vargas, o PT não prega rompimento, mas sim a harmonização com o PMDB, através do diálogo e da autocrítica de ambos os lados. “As críticas são bem-vindas, mas devem ser discutidas, inicialmente, entre aliados”, disse.
Sem polêmica
Em relação à nota do chefe da Casa Civil, Caíto Quintana, o presidente estadual do PT não quer polemizar. “O PT é um partido dialético e sabe aprender com as derrotas, mas continuará não aceitando interferências externas. Certamente os motivos da derrota não se restringem às questões relacionadas à aliança. Internamente e a seu tempo nós faremos a nossa avaliação.”
Vargas afirmou ainda que, apesar de considerar que o resultado das disputas no segundo turno não é o ideal, avalia que o PT ampliou a sua força dentro do Estado. “O partido elegeu os prefeitos de 29 municípios, sendo que em oito deles o vice também é petista. Tendo em vista as coligações com partidos da base aliada do governo federal, o PT passa a contar com 27 vice-prefeitos, temos 18 vice-prefeitos na coligação com o PMDB, e somos representados em três vice-prefeituras pelo PMDB. Entendemos que em Londrina o Partido se consolidou. A linha política adotada na cidade foi a de coerência, mostrando as boas práticas petistas”, comentou.