O PT fará de tudo para derrubar o relatório preparado pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para a CPI dos Correios e começou a preparar outro texto para levar a votação na comissão. No relatório paralelo, os petistas não reconhecerão a existência do mensalão e vão rever parte dos 124 pedidos de indiciamentos feitos por Serraglio.
Sob o argumento de que há erros jurídicos no documento, o PT quer retirar da lista de sugestões de indiciamento os ex-ministros Luiz Gushiken e José Dirceu, além de ex-dirigentes do partido. "No nosso relatório tem caixa 2 com repasse ilegal pelo PSDB de Minas Gerais e de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT) no nosso governo. No nosso ponto de vista, é o correto", disse ontem o líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS).
Ele reuniu-se com o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), e parlamentares petistas que integram a CPI dos Correios. Os petistas estão divididos: parte defende a produção de um relatório paralelo, totalmente novo, e outra ala do partido quer que se tente chegar a um consenso em cima do texto de Osmar Serraglio.
Na avaliação dos petistas, não houve mensalão da forma como foi descrito pelo relator. "O mensalão na concepção de um poder comprando o outro não existe. Reconhecemos que houve caixa 2, mas não ocorreram votações que foram azeitadas por dinheiro", afirmou a líder do PT no Senado, Ideli Salvati (SC). No relatório paralelo do PT, que deverá ser apresentado na terça-feira, haverá alterações em relação aos pedidos de indiciamento de envolvidos no escândalo. "Vamos concluir a partir de um critério universal de indiciamento que valha para aliados e para oposição", disse Henrique Fontana. "Não podemos tratar adversários políticos de forma diferente de aliados políticos", observou o líder petista.
Integrante da CPI dos Correios, o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) argumentou que o substitutivo petista vai "restabelecer uma linha temporal" no relatório apresentado anteontem por Osmar Serraglio. Para o PT, os problemas que ocorreram no governo anterior, do ex-presidente FHC, foram diluídos no trabalho de Serraglio. "O valerioduto não começou agora; o mecanismo dos empréstimos, os contratos de publicidade e os repasses a partidos não começaram agora", afirmou Bittar. "A gênese do valerioduto começou em 98. É fundamental restabelecer isso no relatório", sentenciou.
Para os petistas, não é aceitável que o caso do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) seja tratado de forma secundária. "Azeredo foi caixa 2. Delúbio também foi caixa 2. Por que tratar de forma diferente? São essas inconsistências que queremos corrigir para que seja um relatório substutivo", disse Bittar. O petista afirmou também que, no substitutivo, haverá gradações nos indiciamentos de acordo com a responsabilidade das pessoas envolvidas.
O deputado criticou o tratamento que foi dado por Serraglio ao banqueiro Daniel Dantas. No relatório final, Serrraglio aponta a Brasil Telecom, que era controlada pelo banqueiro, como uma das fontes do valerioduto. "Ele (Dantas) foi um dos grandes agentes da prática de corrupção, foi investigado e o seu nome praticamente sumiu do relatório", afirmou Bittar.
Na avaliação dos petistas, o relatório de Serraglio teve viés político e não foi baseado em critérios técnicos e jurídicos. Uma equipe do PT está trabalhando 24 horas por dia, segundo o líder Fontana, na elaboração do substitutivo. A base será o próprio parecer de Serraglio. "Queremos um relatório equilibrado. Ele não pode ser a perseguição política a um partido", disse o líder do PT.