O comando nacional do PSOL quer evitar que a crise envolvendo a deputada estadual Janira Rocha (RJ) contamine a legenda e atrapalhe os planos do partido para 2014 – inclusive expandir sua bancada na Câmara dos Deputados. Uma das maiores preocupações é com a extensão da suposta rede de financiamento político presumivelmente operada pela facção da parlamentar, o MTL (Movimento Terra, Trabalho e Liberdade) a partir do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (Sindesprev-RJ). Há temor difuso de que se comprove que dinheiro dos previdenciários fluminenses financiou ilegalmente várias campanhas da agremiação, o que teria efeito demolidor para suas pretensões eleitorais ano que vem. A deputada e a entidade negam irregularidades, mas a parlamentar as admitiu em gravação clandestina.
É motivo de inquietação no partido uma lista de candidatos do PSOL em 2010, com dados sobre materiais de campanha produzidos sob responsabilidade da parlamentar. Encontrada em uma agenda de capa cor-de-rosa apreendida pela Polícia na segunda-feira, 2, com dois ex-assessores de Janira que procuraram a deputada estadual licenciada Cidinha Campos supostamente para vender um dossiê (inclusive as gravações) contra Janira, a listagem manuscrita em uma folha solta tem nomes de doze candidatos, sob o título “Material que tem que ser recebido na 4ª feira, 11 de agosto”. Cada um traz um número possivelmente a quantidade encomendada. Mais três pessoas são nominadas, sem citação de nenhuma quantia.
Um dos citados na relação, o deputado federal Chico Alencar (com o número 130 mil ao lado), não soube informar se foi a sua campanha ou a de Janira que pagou a despesa do material. Por telefone, disse que “por óbvio” – já que ambos são do mesmo partido – tinha propaganda conjunta com a parlamentar, uma de suas dobradinhas. Afirmou também que precisaria consultar suas contas de campanha para saber quem pagara pelos panfletos, mas declarou que talvez tenha sido a deputada, o que, em si, não constitui irregularidade.
“É isso que estamos apurando. Não descarto nem afirmo (que foi ela que pagou a despesa). Não tenho controle sobre a campanha de Janira”, disse Chico. A reportagem não conseguiu localizar outros citados na listagem para que se pronunciassem, por isso deixa de citá-los.
Nesta quinta-feira, 5, Chico defendeu que Janira se afastasse do partido até a conclusão das investigações. A deputada já deixou a presidência do PSOL-RJ e a liderança da legenda na Assembleia Legislativa fluminense, cuja Corregedoria iniciou investigação contra Janira por acusação de “cotização” (retenção de parte dos salários de assessores para financiar atividades políticas). O partido também investiga a deputada: nesta quinta, sua liderança na Alerj recebeu o material que comprometeria a parlamentar e anunciou que o encaminharia à sua Comissão Nacional de Ética.
Há ainda investigação no Ministério Público. Nela, a deputada é acusada de, como secretária de finanças do Sindisprev-RJ, ter deixado uma situação de descalabro financeiro referente ao período 2007/2011, inclusive uma dívida de R$ 8,9 milhões com a Previdência Social, gastos anuais superiores à receita, doações a organizações sociais, sindicatos e militantes (mais de R$ 2,2 milhões) e até dívidas com agiotas.
Outro lado
Por meio de assessores, a parlamentar do PSOL afirma que os dados da lista são de 2010, quando centralizou a produção de materiais de campanha no Rio, e diz não ter havido irregularidades. O dinheiro que bancou a despesa seria do PSOL. Ela também reconhece, ainda segundo assessores, que o Sindsprev atrasou pagamentos ao INSS, mas a dívida foi renegociada e está sendo paga. Em notas, a entidade nega ter financiado campanhas políticas, afirma que Janira se afastou da gestão do sindicato no início de 2010, lembra que as contas questionadas foram aprovadas e ressalta que as “as supostas irregularidades foram trazidas à tona com base em gravações produzidas de forma ilegal e com evidente intuito criminoso”, com tentativa de venda do material a Cidinha.