PSDB e PSB anunciam rompimento com Cassio

O suspense criado na segunda-feira, quando o prefeito de Curitiba Cassio Taniguchi (PFL) chamou seus secretários para reuniões individuais, culminou ontem com o PSDB e o PSB se retirando da administração municipal e da base de sustentação política do prefeito.

O anúncio foi feito pelo vice-prefeito Beto Richa, candidato do PSDB à Prefeitura, em entrevista coletiva no salão nobre da Câmara Municipal. Ele estava acompanhado pelo presidente da Câmara, vereador João Cláudio Derosso, que também é presidente do PSDB municipal, pelo vereador Mario Celso Cunha (PSB), que está formalizando seu afastamento da liderança do governo na Casa, pelo pré-candidato a vice em sua chapa, deputado Luciano Ducci, vereadores das duas bancadas e secretários municipais demissionários.

Os dois partidos também emitiram uma nota conjunta onde consideram “inaceitável o procedimento antidemocrático, autoritário e maniqueísta com que a atual administração de Curitiba está conduzindo a sucessão municipal nas eleições de outubro próximo”. Derosso e Mario Celso explicaram que a ruptura partidária não vai afetar o funcionamento do Legislativo nem embargar a tramitação dos projetos do Executivo.

Os secretários demissionários são o da Saúde, Michelle Caputo Neto, que é presidente do diretório municipal do PSB, o de Esportes, Juliano Borghetti, de Obras, Nelson Leal Júnior, do Meio Ambiente, Mário Sérgio Rasera (PFL), de Governo, Fernão Accioly (PFL) e o chefe de gabinete Luiz Malucelli Neto. Pelo menos mais três demissões são esperadas para os próximos dias.

Pressões

Beto Richa reconheceu como legítimo e coerente o apoio do prefeito ao candidato de seu partido, vereador Osmar Bertholdi, mas observou que seu grupo vem sofrendo pressões desde o ano passado, quando estava para se encerrar o prazo de filiações partidárias. O objetivo, segundo ele, era promover uma filiação em massa ao PFL e a formação de uma super-chapa para disputar as eleições.

Ele lembrou as freqüentes declarações de Taniguchi, de que apoiaria o candidato do grupo que tivesse melhor desempenho nas pesquisas e que não hostilizaria os aliados: “Por isso, não entendi o posionamento que ele assumiu”. Sobre uma reaproximação num eventual segundo turno, observou que mantém “portas abertas para negociações” mas que confrontos deixam seqüelas: “Minha intenção é fazer uma campanha de alto nível, limpa e propositiva. Espero que todos os candidatos, e não apenas o do PFL, façam o mesmo”. Apesar do tom diplomático, afirmou que está preparado para eventuais retaliações e que não vai aceitar provocações, “venham de onde vierem”.

Líderes denunciam pressões

A nota conjunta distribuída pelo PSDB e pelo PSB qualifica como legítima a posição do prefeito ao apoiar o candidato de seu partido, mas frisa que “o que jamais aceitaremos são os procedimentos ilegítimos, espúrios e autoritários que, ao longo dos meses, se manifestaram velados, por meio de coações e pressões. Mas que finalmente se revelaram com as demissões de integrantes da equipe da atual administração por discordarem da opção preferencial do prefeito”.

Lamenta que Taniguchi “em sua sabedoria política, tenha sido desatento à isenção e ao bom senso necessários para conduzir sua sucessão, como todos nós aguardávamos. Contraditoriamente manifesta-se ele, em nota divulgada, que não impõe aos seus secretários nenhum dos candidatos a sua sucessão. Mas em seguida sugere aos que se sentirem desconfortáveis com a candidatura do PFL, que exerçam o “legitimo direito ao afastamento do cargo”, numa ameaça direta aos que optarem por outros candidatos”.

Arremata que PSDB e PSB “desobrigam-se de compor a base de sustentação política da atual administração. Formarão, a partir de hoje, bloco independente de vereadores, com o PSB deixando a liderança do governo na Câmara Municipal de Curitiba”.

Mario Celso justifica saída

O vereador Mario Celso Cunha (PSB) explicou aos jornalistas que está deixando o posto de líder do governo na Câmara Municipal por decisão partidária, precipitada com a demissão do presidente do partido, Michelle Caputo Neto, da secretária municipal de Saúde. “Quando nossos partidos decidiram se coligar, foi para buscar a vitória nas eleições de outubro. Não seria natural permanecer na liderança se o prefeito tem compromisso com outro candidato. Trata-se de uma atitude partidária, política, não pessoal. Continuo amigo do prefeito, a quem sou muito grato.” No início da tarde o vereador ainda não havia oficializado o pedido de afastamento ao prefeito, que estava no Rio de Janeiro, para participar do velório do ex-governador e presidente de honra do PDT, Leonel Brizola.

Ele afirmou que ficou surpreso com a decisão do prefeito, de afastar de sua equipe os secretários que não estão dispostos a apoiar o candidato do PFL, Osmar Bertholdi: “Eu esperava que Cassio fosse conduzir a campanha sem interferir na candidatura de Beto Richa, sem hostilizar seus simpatizantes”. Mas ponderou que essas divergências não vão atrapalhar os trabalhos do Legislativo, onde estão em tramitação o Código de Obras e Posturas do Município, a LDO e o aumento do Conselho Tutelar.

Discussão

O deputado Luciano Ducci (PSB), o candidato a vice na chapa de Beto Richa, fez questão de deixar claro que a decisão de romper com a atual administração municipal foi debatida com os companheiros de legenda: “Tornou-se insustentável a permanência na base de apoio diante da situação que está colocada. Vamos começar um processo novo na política de Curitiba”.

Ducci entende que a coligação PSDB/PSB constituiu a chapa mais forte para disputar as eleições na capital, e isso preocupou o PFL, levando a radicalização de posições.

“Atitude não afeta Câmara”

O presidente da Câmara Municipal de Curitiba, vereador João Claudio Derosso (PSDB), negou que as defecções na base de apoio do prefeito na Casa vão interferir na tramitação das matérias e projetos. Ele afirmou que o Legislativo sempre teve autonomia para elaborar e aprovar propostas e vai continuar assim. Citou o caso do Código de Obras e Posturas do Município, que seria votado e aprovado ainda na sessão plenária de ontem: “Trata-se de bom senso. A questão racional deve ficar acima de tudo, evitando que a cidade sofra qualquer prejuízo. Divergir da orientação do prefeito na sucessão não implica em prejuízo para Curitiba, porque o trabalho na Câmara vai prosseguir sem interrupções”.

A Casa entra em recesso na semana que vem. Estão previstas duas sessões extras, para limpar a pauta das matérias consideradas urgentes. A partir de agosto, em função da campanha eleitoral, as sessões passarão a ser realizadas no período da manhã.

Prefeito perde sete vereadores

Com a saída das bancadas do PSDB e do PSB do grupo que apoiava a atual administração municipal, a base de apoio ao prefeito Cassio Taniguchi (PFL), que era constituída por 25 vereadores, fica desfalcada em sete membros, cinco do PSDB e dois do PSB.

São eles João Cláudio Derosso, Luiz Ernesto, Nely Almeida, Rui Hara e Paulo Frote, do PSDB, e Mario Celso Cunha e José Aparecido Alves, o Jotapê, do PSB. A bancada independente pode vir a ser engrossada pelo representante do PDT, Jairo Marcelino, se a coligação com o PSDB for confirmada na convenção marcada para o dia 26.

O outro vereador pedetista, Jorge Bernardi, já integra a bancada de oposição. Mesmo assim, com os 17 vereadores remanescentes, o prefeito ainda mantém maioria na Câmara e, com isto, ainda tem a possibilidade de aprovar projetos do interesse do governo municipal no Legislativo.

Oposição aponta “manobra”

A oposição na Câmara Municipal avaliou o rompimento do vice-prefeito Beto Richa (PSDB) com a atual administração, anunciado ontem, como uma manobra eleitoral, um “jogo de cena” com o objetivo de livrar o tucano do desgaste do grupo político que está à frente da Prefeitura há 16 anos. A rejeição, neste caso, seria canalizada para a candidatura a prefeito do vereador Osmar Bertoldi (PFL), a quem o prefeito apoia oficialmente. A tese é defendida pelo PT desde o início do ano.

Para o vereador Pedro Paulo (PT), líder da oposição na Câmara, o aparente afastamento do PSDB e do PSB do prefeito é uma tática avalizada pelo próprio Cassio Taniguchi. “Tudo não passa de manobra. O candidato a prefeito com apoio da Prefeitura é o Beto Richa. Mas eles falam nesse suposto rompimento para livrar o vice-prefeito da altíssima rejeição ao Cassio. E não é só isso. Eles ainda lançam a candidatura do Osmar Bertoldi como linha-auxiliar Beto Richa, para atacar a candidatura da oposição e o PT”, afirmou.

O vereador Adenival Gomes (PT) insistiu que a estratégia de Cassio Taniguchi e Beto Richa teve início no começo deste ano, com o reajuste da tarifa do transporte coletivo. “A aliança governista se consolidou naquele momento. Eles teriam de reajustar as tarifas, mas resolveram prestigiar o Beto Richa e deram a ele a oportunidade de suspender o aumento enquanto o Cassio Taniguchi estava no exterior. Tudo aquilo foi acordado”, assegurou.

PFL desaprova ruptura

Deputados estaduais do PFL não aprovaram a anunciada ruptura entre o prefeito Cassio Taniguchi (PFL) e o vice-prefeito e pré-candidato Beto Richa (PSDB). O vice-presidente estadual do partido, deputado Durval Amaral (PFL), disse que respeitava a posição do prefeito, que recomendou a demissão dos secretários simpáticos ao projeto eleitoral do tucano, mas considera “um erro irreparável”.

Para Amaral, a condução dada pelo prefeito ao caso comprometeu a parceria eleitoral histórica entre PSDB e PFL com possíveis seqüelas futuras, não apenas na eleição municipal de outubro, mas também na disputa para o governo em 2006. Amaral afirmou que a bancada vai fazer um trabalho de “bombeiro” na campanha eleitoral em Curitiba, tentando impedir que os dois partidos se agridam.

O deputado Plauto Miró Guimarães Filho também criticou a postura de Taniguchi. “Com esta atitude, o prefeito fechou uma porta para o entendimento entre PFL e PSDB no segundo turno. E também dificulta um entendimento para 2006”, afirmou o deputado pefelista.

Sucessor

O presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão, assumiu ontem a presidência estadual do PSDB, no lugar de Beto que se licenciou da função para fazer sua campanha eleitoral. Brandão minimizou a crise entre os dois partidos. “Não há nenhuma surpresa na atitude do prefeito. Nós já sabíamos que o Cassio tinha definido apoio ao Osmar (vereador Osmar Bertoldi, pré-candidato do PFL à prefeitura)”, disse. (Elizabete Castro)

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo