Foto: Wilson Dias/Agência Brasil |
Gustavo Fruet ao lado de Jutahy Magalhães: candidatura do deputado pacifica temporariamente o PSDB. |
Com a ausência de 13 dos 64 deputados eleitos e reeleitos, o PSDB decidiu ontem por aclamação apoiar a candidatura do tucano Gustavo Fruet (PR) à presidência da casa e enterrar a aliança com o petista Arlindo Chinaglia (SP) anunciada há duas semanas. Em discurso de agradecimento, Fruet procurou marcar a condição de oposicionista e a diferença com os dois adversários, os governistas Chinaglia e Aldo Rebelo (PCdoB-SP). ?Eles são governo, eu sou a Câmara?, afirmou.
Indiretamente, Fruet associou os dois candidatos a parlamentares envolvidos nos escândalos do primeiro governo Lula. ?Não tem meio termo. De um lado, estão os que defendem a discussão de quem é mais leal ao governo, mas que permitiram a exposição mais negativa da história recente da Câmara dos Deputados. Uma minoria, com lideranças que hoje apóiam as candidaturas que disputam a lealdade ao governo, permitiu a exposição negativa do Congresso Nacional?, atacou.
Fruet resumiu suas prioridades: ?Eles só querem discutir o aumento do salário (dos parlamentares), nós queremos discutir medidas provisórias, Orçamento, reforma política, reforma tributária, voto aberto. Se conseguirmos estabelecer esta pauta, a Câmara poderá começar a se reencontrar com a sociedade brasileira.? O tucano lamentou que a eleição da mesa diretora, marcada para o próximo dia 1.º, seja secreta, como manda a Constituição, e reiterou o voto aberto como uma de suas bandeiras.
Para garantir um cargo na mesa diretora, já que a vitória de Fruet é muito difícil, o PSDB decidiu apoiar o tucano, mas não lançá-lo como candidato do partido. Fruet será registrado como candidato avulso, o que é permitido pelo regimento interno. Com isso, o PSDB espera indicar um tucano para a primeira vice-presidência. O nome escolhido é o do mineiro Nárcio Gomes, a quem o petista Chinaglia tinha prometido o mesmo cargo na mesa em troca do apoio do PSDB.
Embora tenha reconhecido que poderá não ter os votos dos 64 deputados tucanos, Fruet procurou mostrar tranqüilidade diante de possíveis dissidências. ?Não vou entrar em paranóia por isso. Dos que estavam aqui (na reunião tucana), se alguém era contra, engoliu. A decisão foi unânime. E três deputados justificaram a ausência. Eu espero a unanimidade (do PSDB, no dia da votação). Se não, espero a maioria?, respondeu.
Faltaram à reunião quatro dos cinco deputados eleitos pelo Ceará. Os parlamentares cearenses tendem a, depois da posse, seguir a orientação do governador Lúcio Alcântara e trocar e o PSDB pelo PR. Em um movimento para evitar a debandada, o PSDB deverá oferecer ao filho do governador cearense, Léo Alcântara, uma das vice-lideranças do partido.
Ontem, durante a mesma reunião que aprovou a candidatura de Fruet, os tucanos elegeram Antônio Carlos Pannunzio (SP) o novo líder da bancada, em substituição a Jutahy Júnior (BA), um dos articuladores do apoio a Chinaglia. Com o desgaste de Jutahy depois do fortalecimento da candidatura de Fruet, os tucanos anteciparam a troca do líder, que deveria ser feita depois do início da nova legislatura.
Fruet conta com a aprovação do apoio do PPS à sua candidatura, hoje, durante reunião da bancada, formada por 20 deputados. O tucano disse que pretende buscar ainda apoios em partidos já fechados com Chinaglia, como PMDB, PP, PR e PTB, e com Aldo, como o PSB. Fruet vai procurar também os deputados do PFL, que apóia informalmente a candidatura de Aldo Rebelo.
O tucano voltou a atacar o governo Lula, que acusa de vincular a reforma ministerial à disputa na Câmara. ?O governo restringe a indicação do novo ministério para depois da eleição da presidência da câmara, como se fosse para premiar aliados vencedores ou para consolar aliados derrotados?, atacou. ?Sem ilusão, aqui não é encontro de escoteiros. Estamos diante de uma realidade política brutal, um jogo de interesses, alguns legítimos, outros obscuros. Mas o partido político se subordinar à barganha teria que gerar uma indignação?, insistiu Fruet.?
Rebelo e Chinaglia baixam tom
Brasília (AE) – Os adversários Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) baixaram o tom de ataques na campanha nesta semana depois da entrada em campo de aliados dos dois lados, que perceberam o risco de a divisão da base se tornar irreversível após a eleição da presidência da Câmara e prejudicar os interesses do governo no Legislativoalém da ameaça de o enfrentamento dos dois acabar favorecendo o terceiro candidato o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).
Entraram na ?operação-bombeiro? o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), aliado de primeira hora de Rebelo, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, o ex-ministro de Integração Nacional Ciro Gomes (PSB) e o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT-BA).
No final de semana, Berzoini foi a Recife conversar com Campos, que já tinha falado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a necessidade de acalmar os ânimos da disputa entre Rebelo e Chinaglia. Aliados de Rebelo reclamavam principalmente do uso da máquina por ministros petistas a favor de Chinaglia. O próprio ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, foi acusado de favorecer o petista na disputa e de pressionar para que Rebelo abandonasse sua candidatura em favor de Chinaglia.
O primeiro resultado das conversas foi a entrada em campo do presidente Lula, que declarou considerar os dois candidatos da base como filhos.