O PSB considera que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa está alinhado às diretrizes do partido para a economia. Barbosa, que poderá disputar a Presidência pela legenda, costuma se definir como um social-democrata, adepto da responsabilidade fiscal, mas defensor de um Estado indutor do desenvolvimento social. A um interlocutor, o ex-ministro do STF afirmou que sua história de vida, marcada pela superação da pobreza, não lhe permite abraçar um projeto ultraliberal ou defender o “capitalismo selvagem”.

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No encontro com a cúpula e os principais líderes do partido, nesta quinta-feira, 19, em Brasília, Barbosa recebeu a cópia de um documento da Fundação João Mangabeira – braço teórico do PSB – com os princípios que devem nortear o eventual futuro programa de governo da legenda (mais informações nesta página).

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O nome de Barbosa ganhou força como candidato à Presidência após a mais recente pesquisa Datafolha, na qual alcança entre 8 e 10 pontos porcentuais de intenção de voto.

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Na reunião do PSB, o ex-ministro do STF frustrou correligionários mais animados ao não assumir a pré-candidatura. “Há dificuldades dos dois lados. O partido tem sua história e eu tenho minhas dificuldades do lado pessoal. Não convenci a mim mesmo que devo ser candidato.”

Ele, porém, não escondeu a satisfação com o desempenho na pesquisa. “Olha, para quem não frequenta ambientes públicos, órgãos públicos, não dá entrevista, leva uma vida pacata, está muito bom, né?”

Resistências internas ao nome de Barbosa, concentradas nos governadores Márcio França (São Paulo) e Ricardo Coutinho (Paraíba), são consideradas pontuais pela direção da sigla.

Convergência

A avaliação é de que a candidatura depende do ex-ministro. No longo processo de negociação que culminou com a sua filiação, há cerca de duas semanas, Barbosa ouviu e defendeu teses alinhadas com o pensamento majoritário do PSB, conforme dirigentes socialistas.

Nas conversas com deputados e dirigentes, Barbosa defendeu programas de transferência de renda, ampliação do acesso às universidades, manutenção do Bolsa Família e admitiu um projeto de privatização que não chegue a setores estratégicos.

“A posição que o Joaquim nos colocou sobre privatização é a mesma que a nossa: não tem que ficar com o setor de portos, aeroportos e estradas”, disse o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG). Neste caso, estatais como Petrobrás e Eletrobrás ficariam fora do programa.

Outro tema tratado nas conversas reservadas entre o ex-ministro do STF e o PSB foi a reforma da Previdência. Quando integrava o Supremo, Barbosa votou pela constitucionalidade da cobrança de contribuição previdenciária de servidores aposentados, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

Mais recentemente, ele já se manifestou a favor de uma reforma do sistema de aposentadorias, mas contra o projeto do governo de Michel Temer.

“Joaquim nos disse que essa proposta apresentada não rompeu com privilégio nenhum. Faz com que os pobres coitados pendurados no teto do INSS tenham que pagar pela reforma”, disse Delgado. Segundo ele, Barbosa defende uma reforma “escalonada, não de uma vez”, que respeite “o direito adquirido”.

Barbosa não indicou aos interlocutores um economista de referência ou uma escola ou corrente de preferência. O PSB não tem hoje um nome majoritário. O último foi Luciano Coutinho, que se afastou da legenda após ingressar nos governos petistas.

Segundo o secretário-geral da legenda e presidente da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande, a intenção é que o ex-ministro se reúna com diversos economistas nos próximos meses. Ele poderá se encontrar com Armínio Fraga, que presidiu o Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso.

No início de março, o 14.º congresso nacional do PSB marcou um “reencontro” do partido com a sua origem de centro-esquerda. No documento Projeto Brasil – entregue nesta quinta a Barbosa e aprovado no congresso -, o partido defende propostas como uma “política fiscal contracíclica” e aumento dos tributos sobre patrimônio e renda.

“Não é ainda o programa de governo, mas é um projeto de longo prazo e a visão política e econômica do PSB”, disse Casagrande.

Falta de traquejo

Considerado um outsider na eleição, Joaquim Barbosa não disfarçou a falta de traquejo político ao participar da primeira reunião com a cúpula do PSB, em Brasília. Fora da vida pública desde 2014, mostrou-se surpreso com a quantidade de militantes e repórteres.

O estranhamento de Barbosa começou logo ao chegar à sede do PSB, onde era esperado por integrantes da ala afro do partido com cartazes, bandeiras e pétalas de rosa. Ao ser abordado pela secretária nacional da corrente Negritude Socialista, Valneide Nascimento dos Santos, o ex-ministro do Supremo desviou o caminho e repetiu, apressado: “Estou atrasado”.

Na reunião, precisou ser apresentado ao governador da Paraíba, Ricardo Coutinho. Na sala onde estava a cúpula do PSB, Barbosa questionou o presidente da sigla, Carlos Siqueira, por que havia tantos profissionais da imprensa no local. Aos novos colegas de partido, demonstrou vontade de ser candidato, mas não escondeu suas dúvidas. Disse que é o “arrimo” da família, contou que a mãe está doente e que não poderia embarcar em aventura.

Após encerrar breve coletiva, Barbosa foi seguido por jornalistas e demonstrou impaciência quando a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo insistiu se a demora em assumir a candidatura não o prejudicaria. “Who cares?”, respondeu em inglês.

Na saída, Valneide o esperava. Ao avistá-la, Joaquim Barbosa resmungou: “Sei que ela é candidata e está querendo aparecer na foto”. Ele aguardou a militante se afastar para seguir seu caminho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.