Sem Eduardo Campos, o PSB ensaia pela primeira vez uma trajetória à direita do espectro político desde sua fundação em 1947. A legenda, que desde a redemocratização viveu sob a órbita do PT, a quem apoiou em cinco das seis últimas eleições presidenciais e integrou sua base aliada em 11 dos 12 últimos anos, se apresenta pela primeira vez como aliado nacional do PSDB.
O partido decidiu apoiar, no 2º turno, Aécio Neves (PSDB) contra a reeleição Dilma Rousseff (PT).
Foram 21 votos pró-tucano, 7 pela neutralidade e um pró-Dilma. Depois, articulou sua sucessão interna de modo que os que se posicionaram contra o apoio ao tucano ficassem excluídos da Executiva nacional. De quebra, iniciou conversas com tucanos para ser seu braço de apoio em uma eventual base aliada de Aécio; ou uma oposição a Dilma, se ela for reeleita.
Um dos que lideraram esse movimento, o presidente do PSB em Minas, deputado Júlio Delgado, diz que a mudança é um momento histórico. “Nunca antes havíamos ficado com o PSDB contra o PT”, disse, ressaltando não se tratar de submissão aos tucanos.
“O Aécio disse muito claramente que a aliança não é para tornar o PSB submisso, porque isso não aceitaremos. Nós o apoiamos no 2.º turno porque ele representa a possibilidade de mudança, o que era defendido por Eduardo Campos”, disse.
O próximo presidente do partido, Carlos Siqueira, que coordenou a campanha de Campos até a sua morte, em 13 de agosto, diz que a legenda continuará a perseguir o socialismo. “Eventual apoio ao PSDB não passa de eventual apoio, como apoios já foram firmados com o PT.”
Campos fazia um jogo político situando-se em âmbito nacional com o PT e liberando a sigla para apoiar o PSDB ou quem estivesse no poder em nível regional. Essa fórmula se rompeu depois que ele decidiu se candidatar a presidente.
Para o presidente interino do PSB e líder histórico do partido, Roberto Amaral, o desafio sem Campos é grande. Segundo ele, essa é uma característica brasileira: os partidos quase sempre dependem de uma liderança. “A péssima tradição brasileira é que todo partido tem de ter uma liderança messiânica. Foi assim com Arraes e Eduardo Campos. E não é nenhuma novidade dizer que Lula é maior que o PT.” Ele propôs que o partido ficasse neutro no 2.º turno e chamou a aproximação de “erro histórico”.
Para a deputada Luiza Erundina, da ala esquerda, o PSB precisa encontrar a forma de sobreviver sem se aliar ao PSDB. “Temos legado, história e construção coletiva. Esse é nosso desafio, sobreviver no campo socialista no qual estamos há mais de 70 anos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo