politica

Proposta de corrente majoritária do PT esbarra no discurso ‘Lula Livre’

Com um discurso em defesa de uma grande frente democrática, inclusive com setores do centro, para enfrentar o governo Jair Bolsonaro, a corrente majoritária do PT Construindo um Novo Brasil (CNB) venceu o Processo de Eleições Diretas (PED) realizado no último domingo, dia 8.

Com 87% dos votos apurados até a noite desta quarta-feira, 11, a CNB tinha 52% dos votos contra 13% da segunda colocada, a chapa composta pelas correntes Democracia Socialista (DS) e Militância Socialista.

O discurso de unidade defendido pela CNB, no entanto, esbarra na centralidade que a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou durante o próprio PED. Cerca de três mil das aproximadamente cinco mil chapas inscritas em todo o Brasil tinham “Lula Livre” no nome, inclusive quatro das nove nacionais.

A tese vencedora “Lula livre para mudar o Brasil” usa as mensagens entre integrantes da Lava Jato reveladas pelo The Intercept Brasil para argumentar que a operação tinha como objetivo criminalizar o PT, derrubar a ex-presidente Dilma Rousseff e tirar Lula do jogo eleitoral.

“Já não se trata de provar mais nada. A condenação fraudulenta de Lula tornou-se evidente. Cabe aos tribunais superiores reconhecerem a sua inocência e libertá-lo, resgatando a credibilidade da justiça brasileira e o estado de direito”, diz a tese.

Segundo dirigentes petistas, o PED deixou claro que a defesa do “Lula Livre” é unanimidade hoje no partido. “É um ponto de unidade no PT. Ninguém no partido defende nada diferente disso”, afirmou o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS).

Obstáculo

A insistência em colocar o “Lula Livre” na pauta de manifestações e eventos realizados em conjunto com outras forças políticas tem, algumas vezes, sido um obstáculo para que o PT participe de articulações para unificar a centro-esquerda como frente de oposição ao governo Bolsonaro.

Duas semanas atrás, por exemplo, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, segundo colocado na eleição presidencial do ano passado, e o ex-ministro Aloizio Mercadante, deixaram de ir ao ato de lançamento da frente ampla Direitos Já, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca) por que os organizadores se recusaram a incluir o “Lula Livre” na pauta do evento.

A reação foi uma saraivada de críticas de outros setores da centro-esquerda que, nas redes sociais, acusaram o PT de sectarismo. “Não temos pretensão de que partidos de fora do nosso campo defendam o Lula Livre, mas também não vamos deixar de levar essa pauta onde quer que a gente vá”, disse Pimenta.

Segundo ele, isso não impede que o PT tenha forte atuação em conjunto com os demais partidos da centro-esquerda no Congresso. “O partido trabalha o tempo inteiro no sentido de construir frentes”, afirmou o parlamentar.

A tese vencedora defende que o PT deve “construir uma maioria consistente na sociedade – que não seja apenas eventual, conjuntural, mas que se afirme como verdadeira hegemonia democrática de ideias e valores se queremos chegar novamente ao governo federal com efetiva sustentação para promover as mudanças imediatas e históricas”.

O texto também defende a unidade em nível internacional por meio do fortalecimento do Foro de São Paulo, entidade que reúne dezenas de partidos e organizações de esquerda – algumas envolvidas em luta armada – do continente.

“Nesse sentido, o fortalecimento do Foro de São Paulo, como um dos principais instrumentos de articulação dos partidos de esquerda e progressistas latino-americanos é estratégico para nossa atuação no próprio continente”, diz o texto que tem entre seus autores Monica Valente, secretária executiva do Foro.

Gleisi

O resultado parcial do PED confirma o favoritismo da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), da CNB, para ser reconduzida à presidência do PT por mais dois anos. A eleição de domingo também vai definir os 800 delegados que vão participar do 7º Congresso Nacional do PT, em novembro, onde será escolhida a nova direção nacional.

Os principais adversários de Gleisi, por enquanto, são dois colegas de bancada na Câmara: Pimenta e Paulo Teixeira (PT-SP). Os dois integram a chapa Resistência Socialista, corrente nova surgida a partir dos mandatos parlamentares e que estava em terceiro lugar, com 10% dos votos apurados até a noite de quarta-feira. O professor de história Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, que teve 5%, também deve concorrer.

Denúncias

Embora ainda faltassem 13% dos votos para serem apurados, os petistas comemoraram o resultado do processo. Foram 310 mil filiados votando, 20 mil a mais do que os 290 mil que participaram do PED de 2017.

A exemplo de anos anteriores, foram registradas várias denúncias de fraudes e irregularidades no processo. Em São Luís (MA), houve confusão e a apuração foi interrompida quando candidatos constataram que algumas urnas tinham mais cédulas do que o número de assinaturas nas listas de votação.

No Rio de Janeiro, o ex-deputado Wadih Damous usou palavras duras como “práticas espúrias”, “fisiologismo” e “coronelismo” para denunciar supostas irregularidades. “Recebemos relatos dos mais diversos pontos de vans despejando pessoas”, disse ele.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo