A Operação Golias, nova etapa da Lava Jato, deflagrada nesta quinta-feira, 16, afirma que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) recebeu propina de R$ 6 milhões para a contratação do Prosper no processo de leilão do Banco do Estado do Rio de Janeiro (BERJ). A vantagem teria sido paga em dinheiro e também em vinhos importados. As bebidas chegavam da França e de outras praças ao Brasil “em transporte refrigerado”.
A Procuradoria da República suspeita que o banqueiro Edson Figueiredo Menezes, ex-presidente do Prosper e ex-presidente da Bolsa de Valores do Rio, acertou o pagamento da propina diretamente com Cabral.
“Essas garrafas vinham de leilões internacionais. Eram adquiridas pelo Edson Menezes no mercado internacional e vinham em transporte refrigerado para o Brasil. Eram entregues, segundo o colaborador Carlos Miranda, na casa do Paulo Fernando Magalhães Pinto, que era um dos assessores do Sérgio Cabral”, afirmou a procuradora da República Fabiana Schneider, da força-tarefa da Lava Jato Rio.
A Operação Golias mostra que parte das garrafas era destinada ao apartamento do Leblon, de Cabral, e parte ia para Mangaratiba, onde o ex-governador tinha uma casa de luxo.
A investigação aponta que Cabral condicionou a realização do leilão do BERJ, somada à folha de pagamento dos servidores do Estado do Rio, à contratação do Prosper para recebimento de propinas.
Em contrapartida, o ex-presidente do Prosper Edson Menezes, o “Gigante”, preso pela Golias nesta quinta, 16, faria pagamentos ao grupo do ex-governador em espécie e por meio da aquisição de vinhos de mais de mil dólares a unidade no mercado internacional.
Em delação premiada, o operador Carlos Miranda contou que “Gigante” passou a pagar propina por meio da entrega de vinhos por causa de “problemas jurídicos” do Prosper. As bebidas eram pagas por meio de uma offshore, a Remo Investments Ltd, controlada por “Gigante”.
A força-tarefa da Lava Jato Rio afirmou ao juiz federal Marcelo Bretas, que “o pagamento da propina deu-se pela contratação formal (por dispensa de licitação) da Fundação Getúlio Vargas para realizar a ‘precificação’ da licitação para terceirizar a administração da folha de pagamento dos servidores do Estado do Rio de Janeiro”.
O valor total da propina, segundo os investigadores, chegaria a R$ 6 milhões.
“Ocorre que, a contratação da FGV foi realizada apenas para encobrir o verdadeiro contratado, qual seja, o Banco Prosper”, apontaram os procuradores.
Defesas
O advogado de Menezes, Alexandre Lopes, afirmou que Miranda é “mentiroso”. Nenhum representante do Prosper foi localizado. No site da instituição uma mensagem diz que “foi cessada a liquidação extrajudicial a que o Banco Prosper S/A havia sido submetido desde 14 de setembro de 2012”.
O advogado Rodrigo Roca, que defende Cabral, afirmou que o emedebista “nunca favoreceu ou participou de negociatas para beneficiar bancos, empresas ou instituições de qualquer natureza”. “O ex-governador desconhece ilícitos relacionados com o Berj.”
A FGV, em nota, afirmou que contratou em 2006 os serviços do Prosper “em decorrência de sua notória experiência em relação à Bolsa de Valores”. “A contratação, sem que houvesse qualquer indicação, se deu por o Banco Prosper, além de deter toda a experiência necessária, aceitar trabalhar com base no risco, ou seja, apenas receberia se houvesse êxito no leilão, o que só ocorreu no terceiro certame, realizado em 2011.”
Segundo a fundação, “não é correto afirmar que a FGV tenha recebido ou pago qualquer valor relativo à folha de pagamentos dos servidores do Estado”. “Todos os valores e condições do leilão, assim como da contratação da FGV, foram publicamente divulgados, não tendo a FGV conhecimento de qualquer irregularidade no leilão, que foi organizado pela Bolsa de Valores mediante um processo transparente.”