O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou por lavagem de dinheiro, organização criminosa e falsidade ideológica 11 pessoas envolvidas com a importação fraudulenta de papel imune – comercializado com isenção de impostos. A Procuradoria afirma que este é o maior esquema do tipo já apurado no Brasil. Entre 2009 e 2013, o grupo ocultou e dissimulou a origem, a movimentação e a propriedade de cerca de R$ 1,1 bilhão provenientes de diversos crimes, como descaminho e sonegação fiscal. Para isso, utilizou empresas de fachada, notas fiscais falsas e ‘laranjas’. As fraudes foram descobertas em 2013 pela “Operação Papel Imune”, da Receita Federal.

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As informações foram divulgadas nesta terça feira, 7, no site do Ministério Público Federal em São Paulo. Segundo a Procuradoria, a organização criminosa se valia da imunidade tributária concedida pela Constituição ao papel destinado a livros, jornais e periódicos.

“Porém, em vez de revenderem o produto importado sem impostos para compradores ligados a tais finalidades, os denunciados o repassavam a empresas do atacado e varejo com preço 20% inferior ao de mercado, o que gerava lucros milionários.”

Segundo a Procuradoria, a benesse constitucional, que tem como objetivo estimular o acesso à cultura e à educação, só pode ser usufruída por empresas autorizadas. Por isso, o grupo utilizava, além das importadoras, gráficas e editoras de fachada com registro para comercializar papel com imunidade. No entanto, as supostas compradoras existiam apenas para diminuir o estoque das importadoras e simular uma destinação legal para a mercadoria. Registradas em nome de ‘laranjas’, as empresas não possuíam empregados nem movimentação financeira e só emitiam notas fiscais, falsas, de entrada do papel.

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“O produto era de fato adquirido por clientes no mercado comum que não faziam parte do esquema”, destaca a Procuradoria.

Segundo texto divulgado pela Procuradoria “os clientes faziam os pedidos diretamente a integrantes da organização criminosa que trabalhavam na importadora TBLV, mas as notas fiscais de saída, igualmente ilegítimas, eram emitidas por outro grupo de empresas fantasmas”.

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“O dinheiro da compra era depositado nas contas da TBLV, que servia como principal “caixa” do esquema, e da empresa de cobrança COMARK, que sequer existia fisicamente”, afirma a Procuradoria. “A essa altura, o lucro obtido com a venda do papel já estava totalmente desvinculado de sua origem ilícita, qual seja, a importação fraudulenta (crime de descaminho).”

Além do descaminho, o dinheiro movimentado pelo grupo criminoso provinha do não pagamento de tributos, como o imposto de renda. Entre 2009 e 2012, apenas em relação aos impostos internos, o prejuízo aos cofres públicos foi de aproximadamente R$ 500 milhões, segundo a Receita. Os denunciados ainda se aproveitaram da posterior compensação indevida de créditos de ICMS, PIS e COFINS. “Apesar de não haver qualquer recolhimento anterior desses tributos, os falsos documentos emitidos geraram créditos indevidos nas operações seguintes, que somaram R$ 100 milhões só na esfera federal.”

Os lucros obtidos pela organização criminosa também não eram declarados ao Fisco. Entre 2009 e 2012, por exemplo, a TBLV deixou de informar à Receita a movimentação de R$ 800 milhões. Já a COMARK não declarou receita alguma, mas movimentou mais de R$ 320 milhões apenas no biênio 2011/2012. Esses recursos, provenientes do descaminho e da sonegação, também foram transferidos para contas pessoais e utilizados na aquisição de imóveis, veículos de carga e carros de luxo, além de financiar a construção de um galpão industrial avaliado entre R$ 40 e 50 milhões. A reportagem não conseguiu contato com a TBLV.