O procurador federal Wladimir Aras defendeu a reabertura da CPI do Banestado para dar maior agilidade as investigações que a força-tarefa das contas CC-5 vem desenvolvendo com o objetivo de apurar a remessa de divisas do país para paraísos fiscais e lavagem de dinheiro através da agência do Banestado em Nova York, no período de 1996 a 2003: "Se uma CPMI pudesse voltar com a visibilidade e a transparência da CPMI dos Correios, sem dúvida daria maior celeridade ao andamento das investigações e a obtenção dos documentos necessários ao rastreamento e a recuperação de bilhões de dólares que saíram de forma irregular, bem como a identificação dos beneficiados por essas operações", justificou.
Aras, um dos procuradores que ouviram ontem o doleiro paulista Toninho da Barcelona, explicou que não cabe ao Ministério Público Federal tomar qualquer atitude nesse sentido: "Trata-se de uma decisão política na qual não podemos interferir. Porém seria muito útil para a força-tarefa e para o trabalho que vem se desenvolvendo há vários anos, com levantamentos importantes sobre a lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros".
A sugestão do procurador vem numa hora em que as denúncias investigadas pela CPMI dos Correios cruzam, não raras vezes, com operações que já vinham sendo apuradas pela extinta CPMI do Banestado e pela própria Força-Tarefa que ele integra. A comissão mista foi criada no Congresso Nacional em 2003, sob a presidência do senador Antero Paes de Barros (PSDB-GO), tendo como relator o deputado federal José Mentor (PT-SP).
Ela foi abastecida, em grande parte, por documentos em poder do Ministério Público e da Polícia Federal, recolhidos inclusive nos Estados Unidos, com a ajuda da Polícia e da Justiça daquele país. Em função da gravidade das denúncias, que apontavam um esquema gigantesco, estimado, à época, entre R$ 30 e R$ 120 bilhões, teve seus trabalhos prorrogados três vezes. Várias sessões foram realizadas no Paraná, na Assembléia Legislativa, que também teve uma CPI para tratar do assunto, centrada na privatização do banco estatal paranaense.
Os parlamentares investigaram como os fraudadores conseguiram driblar a lei para enviar dólares para o exterior. No entanto, em tese, o resultado das investigações não teve valor oficial, porque o relatório não foi votado quando os trabalhos da comissão foram encerrados em dezembro do ano passado, num clima de animosidade entre Antero Paes e Mentor. Este último chegou a ser acusado de esvaziar deliberadamente o relatório que deveria produzir para evitar o aprofundamento de algumas investigações polêmicas. Membros da CPMI estranharam que o Banco Rural, um dos mais utilizados nas operações do empresário Marcos Valério, tivesse simplesmente desaparecido das conclusões de Mentor, hoje um dos deputados citados como tendo sido beneficiado pelo suposto mensalão. O relatório de Mentor, que não chegou a ser votado pelos parlamentares, acabou ficando sem valor legal para ser usado na Justiça.