Processo da participação feminina na política é lento

Entre o reconhecimento do direito ao voto feminino no Brasil, em 1932, e a aprovação da lei das quotas, em 95, a visibilidade das mulheres no cenário político melhorou. Hoje, são 46 deputadas federais, 123 deputadas estaduais, 6.550 vereadoras e 10 senadoras.

No Executivo, são três governadoras e 416 prefeitas e quatro ministras. Mas ainda é pouco. E não é só aqui. Convidada de um encontro de mulheres realizado em Curitiba anteontem, a editora e escritora feminista Rose Marie Muraro relatou uma pesquisa norte-americana prevendo que, a continuar neste ritmo, levará 460 anos para que as mulheres conquistem o mesmo quinhão de poder que os homens na política.

?Temos muito chão ainda pela frente?, disse a presidente estadual do PT e pré-candidata a prefeita de Curitiba, Gleisi Hoffmann, ouvinte da palestra de Muraro, feita em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, 8. Gleisi, que começou na política como militante do PC-do-B e chegou a ocupar um dos cargos mais importantes da Usina de Itaipu, a diretoria financeira, acha que vários fatores afastam as mulheres do poder e da política. ?As mulheres não são incentivadas a participar da política.

Foto: Fábio Alexandre

Gleisi: muito chão.

As quotas foram criadas, mas são preenchidas pelos partidos apenas para justificar e a política é um terreno duro para nós mulheres, porque pressupõe a desconstrução do outro para assumir um lugar?, disse a petista.

Acostumada a ouvir dos colegas, em tom de elogio, que é um ?enfeite? para o plenário da Assembléia Legislativa, Cida Borgheti (PP) pertence ao seleto grupo das quatro deputadas estaduais do Paraná: Luciana Rafagnin (PT), Rosane Ferreira (PV) e Bete Pavin (PMDB). Na semana passada, em discurso na tribuna, a deputada disse que a trajetória daquelas que se aventuram nesse universo é difícil e envolta em preconceitos velados. ?Muitas de nós sofrem ataques à honra quando ousam acreditar nos caminhos da política. Hoje, há mais mulheres na elite política brasileira, mas ainda há muito a ser feito. A presença da mulher na política é pequena em todos os países e o Brasil não é uma exceção?, disse Cida.

Foto: Ciciro Back

Cida: preconceitos.

Retrocesso

Nesta legislatura, o Paraná não elegeu mulheres para a Câmara dos Deputados. Dra. Clair, a primeira mulher deputada federal do Paraná, na legislatura anterior, diz que houve um retrocesso. Mas acha que o quadro desfavorável vai mudar. ?A tenacidade é uma marca feminina. Apesar da disputa desigual, a mulher tem tradição na luta pela sobrevivência e é essa garra que vai abrir cada vez mais seus espaços políticos?, disse a deputada, que também se considera uma guerreira. Depois de deixar a Câmara, saiu do PT, foi buscar espaço no PMDB para concorrer à prefeitura, e não conseguindo, acaba de ingressar no PSOL, onde está começando tudo de novo. ?Estou começando do zero. E dessa tenacidade que eu falo?, disse.

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