Ainda é cedo para dizer se a prisão do ex-governador Beto Richa vai prejudicar a candidatura dele ao Senado. Para o professor e cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emerson Cervi, vai depender se surgirem novas (e relevantes) informações nos dias subsequentes à prisão. Enquanto isso, a equipe de campanha de Beto terá trabalho triplicado para convencer o eleitorado do candidato a não mudar de voto, analisa o também cientista político da Uninter, professor Luiz Domingos Costa,
Cervi explica que, quando se trata de um “figurão” político, nem todas as informações são divulgadas em um primeiro momento, e novos fatos tendem a surgir nos dias seguintes. Mas, enquanto eles não surgem, o cientista considera pequena a possibilidade dos eleitores de Beto mudarem a opinião.
“O perfil de eleitores do Beto não é muito sensível a este tipo de notícia (da prisão). Quem optou por balizar o voto pelo quesito corrupção, já deixou de votar no Beto há muito tempo. As intenções de voto dele estão nos pequenos municípios, com os cabos eleitorais ‘de luxo’, que são os prefeitos e vereadores, que conseguem levar ao eleitorado local uma informação mais ´maquiada’ sobre a prisão”, diz Emerson. “Curitiba, região metropolitana e o funcionalismo público não vota no Beto”, analisa Costa.
Revertendo a situação
Emerson e Luiz Domingos ressaltam que, se novas informações comprometerem demais o candidato, os prefeitos do interior terão que decidir se continuam apoiando o ex-governador ou se mudam de posicionamento. E se resolverem mudar o apoio, levarão seus eleitores junto para esta nova opção.
Assim, segundo Costa, a equipe eleitoral de Beto Richa terá que fazer um esforço “hercúleo” para tentar amortizar a crise na imagem do candidato a senador. “Se o partido for lá e prometer várias coisas, que vão ganhar verbas, obras, etc, é possível que consiga conter a debandada. Mas o Beto não está no governo, o caixa está comprometido para ficar oferecendo coisas. Se eu fosse apostar, diria que isso vai ter sim efeito nas intenções de voto na próxima pesquisa eleitoral.
O cientista político destaca também o papel da mídia neste processo. “Vai depender muito da forma como a imprensa vai repercutir a prisão nos próximos dias. O Beto não é uma figura com força eleitoral do Lula, que mesmo preso, consegue capitalizar votos. Porque ele não teve a mesma sorte do Lula de ter tido um governo de boas marés, de crescimento econômico, de bons acordos. O Beto não tem estes trunfos para apresentar”, analisa Luiz Domingos.
“Bolas da vez”
Se a imagem de Beto Richa ficar muito manchada, há dois candidatos que podem crescer na campanha: Flávio Arns (Rede) e Alex Canziani (PTB), que é da mesma coligação do partido de Richa, o PSDB. “Mas acho difícil saber de fato quais candidatos vão ganhar força. Num primeiro momento, as intenções de votos devem se pulverizar em vários candidatos. Mas o eleitor é estratégico, percebe quem está bem colocado e agrupa seu voto nestes candidatos. É possível que, conforme a estratégia de campanha que adotar, o Beto consiga se eleger no aperto”, analisa Costa.
Governador
Por mais que três candidatos a governador tenham alguma relação com Beto Richa, os dois cientistas políticos acreditam que a prisão do ex-governador não deve afetar este cenário eleitoral. “Os candidatos a governador não são citados nas operações e prisões. A Cida Borghetti (que era a vice de Beto Richa e está na mesma coligação partidária dele) e o Ratinho Júnior (que foi secretário de desenvolvimento urbano de Richa) já vinham praticando um distanciamento do ex-governador, para ‘separar’ as imagens durante a campanha. Então Cida e Ratinho vão se ‘defender’ dizendo que não são mais Beto, que se desligaram dele, que não estão na denúncia, nem na prisão”, diz Luiz Domingos.
Já Cervi mostra que além de Cida e Ratinho, o candidato João Arruda (MDB) também não poderá explorar muito a prisão de Beto Richa em sua campanha, visto que ele é genro de Joel Malucelli, empresário indiciado na mesma operação que Richa e que só não foi preso pois está em viagem, fora do Brasil. Além disso, aponta ele, Joel é primo do candidato a vice de Cida, o Coronel Malucelli. “Do ponto de vista das estratégias de campanha, não creio que a prisão vá mudar muita coisa na campanha destes candidatos. Mas do ponto de vista do eleitor, não dá pra saber como vão interpretar”, diz Emerson.
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