Uma romaria de prefeitos. Foi o que encarou a governadora e pré-candidata à reeleição Cida Borghetti (PP) logo após ser empossada, na última sexta-feira (6). A todos, promessa da abertura de novos programas de atendimento aos municípios. No dia seguinte, rumou para Foz do Iguaçu, no Oeste paranaense, onde recepcionou o presidente Michel Temer (PMDB) na cidade para um evento voltado ao setor do varejo, e aproveitou a ocasião para pedir recursos para obras de infraestrutura local.
De volta ao Palácio Iguaçu, Cida teve uma semana de poucas aparições públicas, mas de muitas reuniões de gabinete. Esteve com representantes de entidades do setor produtivo e, mais uma vez, com prefeitos, aos quais acenou com a possibilidade de investimentos em escolas, hospitais, rodovias.
Para o cientista político Luiz Domingos Costa, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a partir desse roteiro é possível vislumbrar – já nos primeiros dias de governo – qual deve ser o tom dos nove meses de gestão de Cida Borghetti. Ele avalia, ainda, que a linha a ser seguida tem intenção certa: formar musculatura para disputas futuras e ampliar a presença política da família Barros.
A governadora levará adiante uma estratégia municipalista, conforme adiantado em seu discurso de posse e demonstrado nos seus compromissos iniciais à frente do estado. O foco, na avaliação de Costa, é ampliar as bases e capilarizar apoios no interior do estado para viabilizar-se como nome forte na política local. “Ela tem outros interessados no arco dela: tem a família toda de políticos promissores, então a estratégia pensada é de médio e longo prazo, nunca ‘para a hora da morte’. Ela quer projeção, provavelmente tenha a ambição de ser governadora, mas ela tem que levar a máquina da família Barros para outras regiões, para outros municípios”, diz.
Eleitorado em construção
Primeira mulher a assumir oficialmente o posto mais alto do poder estadual, Cida Borghetti reuniu-se com seu desfalcado alto escalão na segunda-feira (9). Até a noite desta sexta-feira (13), apenas seis integrantes do secretariado haviam sido nomeados por ela. Com isso, a reforma secretarial está longe de ser concluída. Dentre os secretários de Cida Borghetti estavam definidos Antônio Carlos Nardi, na Saúde; Lúcia Aparecida Cortez, na Educação; Sandro Kozikoski, na Procuradoria-Geral do Estado (PGE); o homem forte da governadora, o cunhado Silvio Barros, na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e interinamente na Casa Civil. A equipe tem ainda outro nome provisório, na Secretaria da Fazenda: o ex-diretor geral de Mauro Ricardo Costa, George Hermann Rodolfo Tormin.
Em meio às negociações de bastidores, a confirmação de outros nomes acontecerá nos próximos dias, mas já devem estar definidos, avalia Domingos Costa. “Creio que ela está distribuindo e anunciando os postos de modo mais lento possível para angariar atenção e aumentar o recall. O objetivo dela na eleição, como ela provavelmente não vai para o segundo turno, é aumentar a chance de difundir o seu nome perante o eleitorado”.
Apesar de ter dividido com Beto Richa (PSDB) a vitória na reeleição dele em 2014, com 55,67% dos votos válidos já no primeiro turno, a atual governadora aparece com apenas 5% das intenções de votos em pesquisas sobre o quadro eleitoral. A visibilidade do cargo deve ajudar a alavancar o eleitorado da pré-candidata. Para ser bem-sucedida nesse sentido, a governadora planeja a implementação de projetos de expressão até dezembro e anunciou mais uma troca estratégica, na liderança do governo na Assembleia Legislativa. Sai Luiz Claudio Romanelli (PSB), entra Pedro Lupion (DEM).
O apoio dos deputados estaduais será essencial na construção da marca pessoal da governadora: o objetivo é garantir a aprovação de medidas “emblemáticas”, nas palavras dos próprios representantes do governo, e que possam ser sancionadas antes do final de 2018.
A expectativa é se valer da ampla base de apoio entre os parlamentares para dar relevância ao governo da pré-candidata. A tática é similar à de Orlando Pessuti (PMDB) em 2010, que apesar de não garantir uma vitória nas urnas quase triplicou o eleitorado quando assumiu o governo após a saída de Roberto Requião (PMDB). “E ela ainda tem uma situação aparentemente melhor do que a do Pessuti, mas lembra um pouco. Ter a máquina, fazer relação com os prefeitos ajuda, mas tem a contrapartida, que é o inevitável desgaste de um governo longo, de oito anos”, pondera o cientista político.
Pazes com o funcionalismo?
O antecessor de Cida Borghetti deixou o cargo desgastado entre os servidores, briga comprada por Richa em prol da defesa de sua principal bandeira do segundo mandato, o ajuste fiscal. Com salários congelados, sem reajustes ou recomposição inflacionária desde 2015, o funcionalismo critica a opção do governo, que teria sido por aplicar aos servidores a conta da crise e da suposta falta de gestão eficiente. Interessada em estender bandeira branca e evitar que o histórico respingue na sua gestão, a governadora se reuniu com representantes dos professores da rede estadual na quarta-feira (11).
Cida Borghetti atendeu ao pedido de reabertura de negociações feito pela APP-Sindicato e recebeu a pauta de reivindicações do magistério, que permanece em estado de greve (ou seja, pode parar a qualquer momento). Com promessa de diálogo constante, integrantes do governo e representantes do sindicato terão nova agenda para analisar os itens, mas não há qualquer indicativo mais claro por parte do governo de que os servidores possam ser contemplados com reposições financeiras ainda em 2018, embora o blog Caixa Zero tenha revelado que algum tipo de reajuste é cogitado dentro do Palácio Iguaçu.
Maratona eleitoral
A pouco mais de três meses do registro das candidaturas, a entrada da pré-candidata do PP no Palácio Iguaçu pode catalisar a formalização de apoios. Dentre as conversas que antecederam a condução de Cida Borghetti ao governo, o momento foi de aproximação de siglas como PSB e PSC e a governadora parece ter o PSDB como presença garantida no palanque. Entretanto, na avaliação de Luiz Domingos Costa, o horizonte a ser considerado é o segundo turno: “o que importa é olhar o panorama dos dois [Cida Borghetti e o pré-candidato do PSD Ratinho Jr.] juntos, porque eles vão estar juntos então. Nesse caso, o que deve acontecer é uma acomodação como em boa parte das eleições históricas do Paraná. O campo de centro-direita com PSL, PSB, PSDB, DEM, PP, PR em torno do Ratinho e da Cida, e no outro campo, da centro-esquerda, PMDB, PDT, PT; além de possíveis surpresas dos nanicos. Não é totalmente padrão, mas as forças políticas que normalmente caminharam juntas nos anos 2000 vão se agrupar agora”.
Especificamente sobre Cida Borghetti, o cientista político fala em novas corridas, sem deixar de lado o objetivo de curto prazo. “Como se fosse corredora de uma maratona, ela sabe que pode não ganhar, mas correrá também mirando na proporcional”, com ampliação da base de deputados e fortalecimento de base partidária.
*A pesquisa foi realizada entre os dias 03 e 05 de abril de 2018, ouvindo 1.008 eleitores no Paraná. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro de 3% para mais ou para menos. O levantamento, encomendado pela rádio CBN de Cascavel, está registrado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) com o número 06410/2018.
https://www.tribunapr.com.br/noticias/politica/stj-remete-acao-contra-richa-para-a-justica-federal-do-parana/