A ideia de criar um Ministério das Relações Exteriores “turbinado” com a área de comércio exterior corre sério risco de não sair do papel. Hoje, ela voltou a ser atacada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que se reuniu com o vice-presidente Michel Temer. Nos bastidores, há quem dê como certo que a ideia será engavetada. Porém, o vice ainda não bateu o martelo. A informação é que ele está “conversando” a respeito.
O problema do projeto de um Itamaraty com forte viés comercial é que sua formação dependeria do desmonte do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), onde hoje está a estrutura do governo voltada ao comércio exterior. O restante da pasta, incluindo aí o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), migraria para o Ministério do Planejamento.
Isso provocou a reação das entidades representativas da indústria. “A proposta que deixei ao presidente é o fortalecimento do ministério da produção e não o desmonte”, ressaltou Skaf na saída do encontro. “O problema do Brasil é recuperar a produção brasileira, recuperar emprego, fortalecer e buscar a retomada do crescimento através da produção, do emprego, do trabalho. A última coisa que se possa pensar é enfraquecimento e muito menos a eliminação do ministério que representa a produção”, acrescentou o dirigente. Ele afirmou que não foi convidado nem é candidato a tornar-se ministro.
Na semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) também havia se posicionado contra a ideia. As entidades empresariais atuaram fortemente pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Elas publicaram anúncios nos jornais tomando posição pelo afastamento. Também deram suporte às manifestações pró-impeachment.
Toda essa incerteza deixou em suspenso o destino do principal cotado para assumir o Itamaraty fortalecido: o senador José Serra (PSDB-SP). Ontem, ele também reuniu-se com Temer, mas saiu sem dar declarações. A pasta havia sido desenhada sob medida para dar a ele um papel de destaque no governo. Sua missão seria fortalecer as exportações por meio de novos acordos comerciais, potencializando uma área da economia que já dá tênues sinais de recuperação.
Na hipótese de o MDIC continuar como está, não é certo que Serra iria chefiá-lo. Primeiro, porque Temer o convidou para o Ministério das Relações Exteriores. Segundo, porque o Desenvolvimento é visto, na lógica do poder da Esplanada, como menos prestigioso do que as que Serra já ocupou, como Planejamento e Saúde, que são pastas tradicionais. O mesmo vale para o Itamaraty.