O presidente do PT, José Eduardo Dutra, vai procurar nos próximos dias a candidata derrotada do PV, Marina Silva, e pedir o apoio dela a Dilma Rousseff (PT), que enfrentará José Serra (PSDB) no segundo turno. A estratégia começou a ser traçada hoje à noite, em uma reunião que juntou no Palácio da Alvorada o próprio Lula e mais uma dezenas de políticos e ministros da campanha de Dilma.
O governo quer, entre outros objetivos, barrar a negociação – já destravada no bastidor dos tucanos – para desalojar o DEM da vice de Serra e entregar a vaga ao PV de Marina. O nome mais cotado é o do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), que ficou em segundo lugar na disputa pelo governo do Rio. Hoje à noite, Gabeira evitou comentar o assunto, mas disse que vai apoiar Serra no segundo turno. “O que eu posso falar agora é que tenho o compromisso de apoiar o Serra”.
Com a residência oficial da Presidência transformada em comitê de campanha do PT, o presidente e a candidata Dilma acompanharam a apuração dos votos e depois comandaram uma reunião em que estiveram presentes, além de Dutra, o coordenador Antonio Palocci, o assessor especial do Planalto Marco Aurélio Garcia, os ministros Franklin Martins (Comunicação Social), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Guido Mantega (Fazenda), Henrique Meirelles (Banco Central), Carlos Eduardo Gabas (Previdência), Gilberto Carvalho (secretaria-geral da Presidência) e Altemir Gregolin (Pesca). A pauta básica da reunião foi a estratégia de negociação com Marina para a campanha do segundo turno.
Surpresa
O resultado das urnas surpreendeu o comando da campanha de Dilma, que esperava a vitória da petista na eleição de hoje. Pesquisas em poder do PT indicavam que a ex-ministra da Casa Civil venceria com uma diferença de 14 milhões de votos em relação a Serra.
No diagnóstico da equipe dilmista, foi justamente Marina quem mais tirou votos da candidata do PT na reta final. Agora, embora o presidente do PV, José Luiz Penna, tenha dito que os verdes devem avalizar a candidatura de Serra, Dutra não acredita em posição unificada do partido e fará um apelo pessoal a Marina.
Coordenador da campanha de Dilma, ele é amigo da senadora, que foi filiada ao PT durante 30 anos e comandou o Ministério do Meio Ambiente de janeiro de 2003 a maio de 2008.
Dutra quer acertar uma conversa entre Marina e Dilma, mas, antes, pretende fazer o meio de campo da aproximação. No governo Lula, as duas protagonizaram vários contenciosos. Gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Dilma defendia agilidade na concessão de licenciamentos ambientais, mas Marina pregava cautela nesses procedimentos. Não foram raras as ocasiões em que a chefe da Casa Civil perdeu a paciência com a então ministra do Meio Ambiente.
Em conversas reservadas, Marina afirmou que pretende ficar neutra no segundo turno, mas o PT vai assediá-la e insistir para que ela reveja sua posição. O apelo será para o seu “coração petista”.
O PV é aliado ao PSDB de Serra nos três maiores colégios eleitorais do País (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro). Mesmo assim, as declarações de Penna, antecipando apoio ao tucano, provocaram mal-estar no partido. Na prática, o PV está dividido e há posição para todos os gostos, desde a neutralidade até a liberação do voto.