Centenas de pessoas foram ontem ao velório do deputado José Carlos Martinez, presidente nacional do PTB, na Assembléia Legislativa do Paraná. Entre as inúmeras personalidades do cenário político paranaense e nacional, destacava-se o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que veio de Brasília especialmente para render sua última homenagem ao deputado, importante nome da base aliada na tramitação das reformas pretendidas pelo governo.
Com a demora para a retirada dos corpos (além do deputado, os empresários João Luiz Goebel e André Surugi, também são velados na Assembléia, e o piloto Cláudio Luiz da Luz) que estavam na Serra do Mar, o velório teve início pouco depois das 17h. Os quinze primeiros minutos foram reservados apenas para a família de Martinez. A comitiva presidencial chegou à Assembléia por volta de 19h. Junto ao presidente estavam os ministros da Casa Civil, José Dirceu, da Integração Nacional, Ciro Gomes, e das Comunicações, Miro Teixeira.
O presidente Lula ficou no velório durante pouco mais de trinta minutos. Segundo Lula, Martinez teve grande importância na votação das reformas. “Ele demonstrou lealdade e companheirismo ao apoiar as reformas propostas pelo governo federal. Martinez nunca foi meu adversário. Sempre foi meu parceiro.”
O governador Roberto Requião (PMDB), que em 1990 foi adversário de Martinez no segundo turno para as eleições ao governo do Estado, também foi a velório. Requião chegou cerca de dez minutos antes do presidente, mas o acompanhou até o final da visita de pêsames.
Encontro
O reencontro de Lula e do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que estava sendo esperado para ontem não aconteceu. Collor não veio ao velório de Martinez, coordenador de sua campanha presidencial no Paraná em 1989. Já o ex-governador do Rio de Janeiro e presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, foi uma da primeiras personalidades a comparecer ao velório. Parecendo estar bem disposto, inclusive a reencontrar Collor, Brizola lembrou da última recordação que teve de Martinez. “Nossa última conversa foi um cordial telefonema provocado por uma amigo comum. Sempre tive boa impressão de Martinez, sempre me pareceu um homem cordial e alegre”, contou, lembrando que o momento que teve mais contato com o deputado foi durante a construção da campanha de Ciro Gomes à presidência, no ano passado.
O corpo de Martinez será cremado hoje, às 11h, no Crematório Vaticano, em Campina Grande do Sul.
Brizola critica Jaime Lerner
O presidente de honra do PDT, ex-governador Leonel Brizola, foi duro ao comentar à filiação de seu ex-correligionário Jaime Lerner ao PSB para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro. Brizola, que veio a Curitiba pra o velório do deputado José Carlos Martinez, chamou o paranaense de “aventureiro” e disse que ele não tem credenciais para concorrer à sucessão de César Maia (PFL). Admitiu aos jornalistas que pode vir a apoiar a reeleição de Maia, pelos méritos que atribiu ao prefeito carioca, apesar do partido ao qual ele pertence.
Ainda sobre Lerner, disse que o convidou para integrar sua equipe na primeira gestão frente ao governo do Rio, na década de 80, mas acabou se decepcionando: “Esse rapaz não rendeu o que se esperava dele. Não deu no couro”. O secretário de Segurança do Rio, ex-governador Anthony Garotinho, também foi brindado por Brizola com a qualificação de “aventureiro”. Um adjetivo modesto, segundo o ex-governador.
Indagado sobre a possibilidade de se encontar com o ex-presidente Fernando Collor, que era esperado no velório do deputado José Carlos Martinez, rebateu que não teria problema algum em abraçar Collor, que o tratou corretamente quando era presidente e ele, Brizola, governador.
E sobre as divergências com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apoiou em no 2.º turno em 1989, e depois em 1994 e 1998, observou que continua tendo esperança de que ele pode realizar as mudanças almejadas pelos brasileiros: “Se não realizar essas mudanças, Lula perderá o meu apoio e o da população que votou nele”, afirmou. Criticou a forma como Lula conduziu Miro Teixeira à sua equipe e elogiou a atitude firme do presidente argentino, Nestor Kirchner, em relação ao FMI, com bons resultados para a economia daquele pais.