Ao homenagear o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o prêmio “Estadista Global”, o Fórum Econômico Mundial tenta pegar carona na boa imagem do chefe do executivo brasileiro para recuperar prestígio no cenário internacional, avaliou o sociólogo Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e um dos fundadores do Fórum Social Mundial (FSM). “Eles darão esse prêmio a um personagem de destaque mundial, que no último ano se saiu bem em vários espaços. É uma tentativa de recuperar alguma legitimidade e desfazer uma imagem de clube dos donos do mundo.”
Prêmios prestigiosos recebidos por Lula nas últimas semanas refletem o bom momento da imagem internacional do presidente. Em dezembro, o jornal francês “Le Monde” o escolheu como “Homem do Ano” de 2009; em seguida, ele recebeu do diário espanhol “El País o título de “Personagem Ibero-Americano de 2009”. Logo depois, Lula foi escolhido pelo britânico “Financial Times” como uma das 50 personalidades que moldaram a década.
Lula receberá o prêmio “Estadista Global” em Davos, na Suíça, no dia 29. É a primeira edição da homenagem, criada para marcar o aniversário de 40 anos do fórum.
Ao aproximar-se de Lula neste momento, Davos inverte os papéis do jogo político-econômico internacional dos primeiros anos do século 21, avalia Grzybowski. “No primeiro fórum de que o presidente participou, talvez Davos achasse que Lula precisava da legitimidade deles para se projetar. Em oito anos, o presidente brasileiro ganhou autonomia.”
Antes de ir à Suíça, Lula deve participar do Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre. Na volta, deve visitar a edição temática do FSM em Salvador.
Mudanças
Criado como contraponto ao Fórum Econômico Mundial, o FSM faz 10 anos em 2010 com novas pautas para discutir. Para Grzybowski, questões cruciais nas primeiras edições do FSM, como a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), foram superadas pela emergência da chamada agenda socioambiental. E, mesmo recente, diz, essa agenda tem de ser revisada para englobar questões de justiça social. “O mundo mudou muito em dez anos. Antes, parecia dado que um certo padrão de consumo era o ideal a ser atingido. Agora, isso está em questão. A crise financeira revelou um sistema sem futuro. O que se discute agora é o que virá depois.”
Embora ambos os fóruns, social e econômico, precisem respirar ares de mudança, Davos perdeu mais que Porto Alegre na última década, avalia. “Davos é o maior perdedor nessa história, no sentido de não conseguir criar uma inteligência coletiva. Não sei mais se interessa o que Davos vai discutir. Eles não dão mais as cartas.” O caminho do Fórum Social, contudo, não é menos espinhoso. “Começamos, há dez anos, com a ideia de que outro mundo era possível. Agora é mais que isso, ele é necessário. Mas a gente ainda não sabe como fazê-lo.”
O Fórum Social Mundial será realizado de 25 a 29 de janeiro em oito municípios da região metropolitana de Porto Alegre, palco das primeiras edições. O evento é o primeiro de 27 reuniões preparatórias rumo a Dacar, capital do Senegal, em 2011. De 29 a 31 de janeiro, haverá uma edição temática do FSM em Salvador.