Um grupo de 52 prefeitos mineiros, entre eles seis do PT e nove do PMDB, divulgou uma “carta aberta” a Luiz Inácio Lula da Silva na qual expressa a “decepção” com o presidente pelas recentes críticas à gestão tucana no Estado. Simbolizando o chamado “Dilmasia” – o apoio simultâneo em Minas à presidenciável do PT, Dilma Rousseff, e ao governador Antonio Anastasia (PSDB) -, o comunicado publicado em jornais mineiros ontem acusa a chapa Hélio Costa (PMDB)/Patrus Ananias (PT) de criar um clima de “duelo”, que chamam de “ridículo”, e “confronto” entre o presidente e o ex-governador Aécio Neves (PSDB).

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Na mesma linha, Anastasia recebeu hoje apoio de cerca de 50 prefeitos no Palácio das Mangabeiras, onde foi divulgado um “manifesto de reconhecimento” assinado por 14 prefeitos petistas e 33 do PMDB. Ao todo, Minas possui 853 municípios. “Apesar de sermos de partidos de oposição, sempre fomos tratados com dignidade pelo governo Aécio/Anastasia”, diz o documento, que fala em “admirável poder transformador dos investimentos sociais realizados pela administração estadual” nos municípios.

A atitude dos correligionários irritou a Executiva Estadual do PT, que convocou uma reunião para avaliar qual punição será aplicada aos prefeitos infieis. Costa falou em expulsão: “Há prefeitos que não têm compromisso, nem com o PT nem com o PMDB, e que, certamente, serão retirados dos partidos logo após a eleição.”

A coligação liderada por PT e PMDB tem acusado a campanha do governador tucano de aliciar prefeitos de siglas adversárias, condicionando a liberação de verbas ao apoio a Anastasia, o que é negado pelo governo. Durante o encontro na residência oficial, o governador disse que sem o trabalho dos líderes municipais não teria subido nas pesquisas de intenção de voto. “Agradeço essa posição, até de coragem desses prefeitos”, disse.

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No entanto, poucos signatários do manifesto compareceram à reunião. “Já recebi duas advertências. Se receber a terceira não tem problema não”, afirmou o prefeito de Leandro Ferreira, o peemedebista Edson Correia de Freitas. Ligado ao grupo do ex-governador Newton Cardoso (PMDB), Freitas desdenha da ameaça de punição. “Eles não são trouxas. Somos 200 e poucos prefeitos; vão ter de expulsar uns 200.”

O petista Gilmar Dornelas de Souza, prefeito de Central de Minas, também demonstrou despreocupação com a possível retaliação. “Fizemos um compromisso com o governador Anastasia. Eles estão falando em expulsão, essas coisas, mas por causa de um partido a gente não vai perder um mandato”, disse o prefeito, que também assinou a carta aberta a Lula.

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‘Dureza e injustiça’

O comunicado publicado nos jornais foi capitaneado pelo prefeito de Salinas, José Antônio Prates (PTB), expulso do PT em 2007 justamente por ter sido um dos líderes do “Lulécio” – o voto em Aécio e Lula nas eleições de 2006. Na carta, os prefeitos chamam de “bobagem” uma suposta dificuldade de relação entre os eventuais governos de Dilma e Anastasia, como afirmou o próprio Lula em comício na cidade de Betim – onde o presidente atacou a gestão tucana no Estado e defendeu uma administração estadual alinhada com o governo federal.

“Estranhamos a dureza e injustiça de suas palavras em Betim”, afirmam os líderes municipais, que pedem a Lula “respeito, reconhecimento e a independência de Minas e do direito dos mineiros de escolherem seu destino”. “Constrangem-nos o tom de ameaça que, à sua revelia, o candidato do PMDB tenta impor a Minas e a forma abusiva com que ele utiliza o seu apoio. Minas não quer ter que escolher entre Dilma e Anastasia, da mesma forma que não escolheu entre Lula e Aécio.”