A presidente Dilma Rousseff iniciou um processo de afastamento do PT em busca de conter as investidas da oposição e de parte do PMDB pela retirada dela do Palácio do Planalto. Como já era esperado, a presidente não compareceu ontem à festa de 36 anos de seu partido, no Rio de Janeiro. De acordo com um integrante do governo, Dilma está convencida de que é impossível preservar o mandato sem se descolar da legenda, alvejada pela Lava Jato e contrária à reforma da Previdência, considerada prioritária pela presidente para atrair o apoio do empresariado e recuperar credibilidade no mercado.

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Os últimos dias expuseram os caminhos distintos que Dilma e seu partido defendem para a superação das crises política e econômica.

A ala majoritária do PT já está decidida a manter uma distância regulamentar da presidente e de suas diretrizes para a economia. Petistas históricos abrigados na Esplanada dos Ministérios se articulam com movimentos sociais para pressionar Dilma, inclusive com manifestações nas ruas, a esquecer a reforma da Previdência e a rever sua nova estratégia política, que prevê também uma aproximação com a oposição, especialmente a tucana.

Alguns conselheiros da presidente avaliam não ser interesse de todos os setores do PSDB retirá-la do cargo antes do término do mandato, em 2018. Para eles, os grupos do governador Geraldo Alckmin e do senador José Serra não endossam para valer a tese de cassação do mandato da petista pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que poderia resultar na convocação de novas eleições, caminho defendido por Aécio Neves.

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No entanto, em conversas reservadas na semana passada, aliados de Serra e de Alckmin avaliaram que o maior problema de Dilma não é o PSDB e a ação no TSE, mas a ala do PMDB contrária ao governo, que nos últimos dias, após a prisão do ex-marqueteiro da presidente João Santana, voltou se articular em torno do impeachment e passará a buscar apoios no setor empresarial.

Ontem, em Santiago, Dilma justificou a ausência no aniversário do PT com a alegação de que não chegaria a tempo de participar do evento. Questionada sobre as críticas do partido ao ajuste fiscal conduzido por sua administração, ela disse que não governa só para o partido, mas para toda a população. “Eu não governo só para o PT. Eu governo para os 204 milhões de brasileiros”, afirmou.

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A presidente procurou reduzir a tensão, um dia após o PT divulgar um documento no qual sugere novos impostos e o uso de reservas para que o País saia da crise. Dilma, porém, voltou a mencionar uma reforma previdenciária como essencial para o equilíbrio fiscal. Segundo ela, a mudança na aposentadoria poderá ser feita progressivamente. “É fundamental que trabalhemos um pouco mais. Mas não agora, não amanhã, não depois de amanhã. Eu acho que é o que pessoas temem”, disse.

Ao falar sobre o distanciamento com o partido pelo qual foi eleita, Dilma disse não acreditar que as relações entre o governo e o PT devam se caracterizar pela adesão sem avaliação crítica. “Um partido é um partido, um governo é um governo”, afirmou a presidente. “É preciso ajuda de todos os partidos da minha base e do PT, sobretudo, porque é o partido ao qual eu pertenço e pelo qual eu fui eleita.”

Dilma chegou na manhã de sexta-feira a Santiago em uma visita oficial organizada às pressas pelo governo chileno à pedido do Brasil, com uma duração e uma agenda mais ampla que a usual. Ontem ela voltou a almoçar com a presidente chilena Michelle Bachelet, como no dia anterior, desta vez na sede da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) e palestrou para economistas. Embora tenha lembrado o “problema de distância” e a falta de tempo para chegar à festa petista, Dilma não demonstrou pressa de deixar o Chile. Seu voo, que deveria decol,ar às 17 horas, atrasou.

A festa para comemorar os 36 anos do PT, na noite de ontem, foi marcada por um desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até mesmo nas paredes de tijolo aparente do Armazém da Utopia, forradas de homenagens a ele. Mas a presidente não foi poupada. “Dilma, chega de ajuste fiscal e superávit!”, dizia uma das faixas seguradas por militantes na plateia. A presidente enviou uma carta à direção do partido que foi lida durante o ato pelo presidente nacional da legenda, Rui Falcão. Ela apontou a legenda, o governo e Lula como alvos de “ataques sistemáticos” e ressaltou a importância da relação com movimentos sociais, insatisfeitos com a política econômica do segundo mandato. Apesar das divergências com o partido na área econômica, ela reafirma na carta o compromisso com a “estratégia de desenvolvimento” adotada desde o governo Lula.

Apelo

Em seu discurso, o ex-presidente fez um apelo aos presentes: “A companheira Dilma sozinha não terá forças para resolver este problema e nós, por mais que tenhamos divergência com qualquer pessoa do governo, este governo é nosso e temos responsabilidade de fazer dar certo”.

Para ele, um militante petista “não pode num momento de crise virar as costas e dizer que ‘o problema não é meu'”. “O problema é nosso, é meu, é seu e da Dilma.” Lula, contudo, destacou que antes de atender aos anseios do mercado, Dilma precisa governar para “o povo”. “A Dilma tem que ter certeza que, por mais que tenha divergência, o lado dela é este.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.