Depois de conquistar duas vezes a indicação do PSDB para disputar a Presidência contando com apoio e reverência da maioria do partido, o ex-governador José Serra está vivendo pela primeira vez a experiência de correr por fora para se viabilizar. Sua cruzada para se manter no jogo de 2014 tem sido solitária e espartana.
Enquanto o senador mineiro Aécio Neves circula pelo Brasil a bordo de um jatinho alugado pela legenda e leva na aeronave as principais lideranças tucanas do Congresso, Serra viaja acompanhado apenas de um ajudante de ordens e enfrenta filas nos aeroportos antes de embarcar em voos de carreira.
Por ter sido governador de São Paulo, ele tem direito a usar um veículo blindado com motorista em seus deslocamentos, além de um segurança e um ajudante de ordens. O “privilégio” dura só até o fim do ano que vem. Quando chega às cidades, é geralmente recebido por um grupo reduzido de dirigentes locais e precisa improvisar para garantir presença no noticiário do dia seguinte.
Como não conta com assessores de imprensa, a divulgação e o roteiro são feitos pelas entidades ou organizações que o recebem. A estratégia tem sido fazer uma agenda “espelho” com a do correligionário mineiro para dividir com ele – ou superá-lo – nas manchetes de política do dia seguinte. Em alguns casos, a tática tem dado certo.
Convite a si mesmo
Na última semana de outubro, Serra ficou sabendo por meio de Ieda Areias, sua única aliada na executiva do diretório do PSDB paulista, que Aécio visitaria algumas cidades na região de São José do Rio Preto, no interior. O ponto alto seria o encerramento de um congresso com prefeitos em Olímpia. O ex-governador antecipou-se e desembarcou de surpresa na cidade.
Na segunda-feira passada, ele ligou para a diretoria da Fiesp e, segundo a assessoria da entidade, se convidou para participar da reunião quinzenal da diretoria. Na próxima sexta-feira, Serra será a estrela de um evento da Juventude do PSDB-SP no mesmo dia em que Aécio desembarcará com seu séquito para um grande evento em Manaus.
Solitário
Essa movimentação paralela e solitária tem irritado os “aecistas”. “Ela é equivocada e preocupa a bancada do PSDB no Congresso. Parece que ele não faz parte de um time”, diz o deputado federal Carlos Sampaio, líder tucano na Câmara. Não por acaso, o senador mineiro já cogita antecipar para o fim deste mês ou o começo de dezembro o lançamento oficial de seu nome para o Planalto.
Apesar de se apresentar pré-candidato, Serra tem agido à margem da máquina partidária do PSDB. Cada vez mais exíguo, o grupo “serrista” perdeu para Aécio alguns de seus principais expoentes. Embora ainda mantenha laços de amizade com o ex-governador, o senador Aloysio Nunes Ferreira está engajado no projeto presidencial de Aécio Neves e tem sido presença constante nas viagens do mineiro pelo Brasil.
Outro convertido ao “aecismo” é o deputado Antonio Carlos Mendes Thame. Indicado por Serra para o cargo de secretário-geral do PSDB, ele se tornou um dos principais articuladores do mineiro nos diretórios estaduais tucanos.
“O Aloysio e o Thame, que são dois dos mais expressivos aliados do Serra, estão absolutamente integrados ao projeto do Aécio. O ex-governador Alberto Goldman, que também é muito próximo, está coordenando a parte programática do PSDB”, diz o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro e braço direito de Aécio.
Hoje, o staff informal do ex-governador tem apenas quatro antigos auxiliares: o presidente do Sebrae-SP, Bruno Caetano, Luís Sobral (tesoureiro de sua campanha em 2010), Ieda Areias (ex-secretaria particular) e a jornalista Paula Santamaria, que o assessorou por 15 anos. No fim, a situação dos últimos meses acabou por dar vida a uma antiga máxima de Serra: “Eu não tenho interlocutores”.