O fim da criminalização da política é fundamental para atrair novas pessoas a se candidatarem a cargos nas eleições brasileiras. A avaliação é da diretora executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), Mônica Sodré, que participa nesta quarta-feira, 4, do seminário Desafios da Democracia no Brasil: Inovação e Representação num Mundo Hiperconectado, realizado pela Raps e pelo Estadão, no Senado Federal.
“O primeiro passo é não criminalizar políticos. Não são todos iguais, não são todos ruins”, disse ela, ao responder a uma pergunta da colunista Eliane Cantanhêde sobre a falta de interesse de jovens em participar de forma ativa da política nacional.
Diretora do RAPS, organização não-governamental que busca contribuir com a melhora da democracia e formar novas lideranças políticas, Mônica Sodré considera que os partidos políticos são “fundamentais para a democracia”. Uma das lideranças ligadas ao grupo é a deputada Tábata Amaral (PDT-SP).
Ela destacou que o movimento não busca substituir os partidos. “Nosso trabalho é estimular discussões que olhem alguns temas de maneira suprapartidária, como as mudanças climáticas, por exemplo”, disse Mônica.
Polarização
Também presente no seminário, o cientista político Fernando Guarnieri falou sobre a necessidade de defender a democracia e distinguir o comportamento de usuários nas redes sociais. Segundo ele, há a polarização ideológica, sobre temas, e a polarização afetiva, que remonta à agressividade.
De acordo com ele, a sociedade brasileira não está politicamente polarizada e tende a manter seus posicionamentos ao longo do tempo. “O que está havendo é uma polarização das elites políticas, que apostam numa política que lança mão de difamação, realce de aspectos negativos, exploração de escândalos, tudo para criar sentimentos negativos em relação ao adversário. Isso não traz uma mudança direta no posicionamento ideológico do eleitorado, mas sim uma polarização afetiva. Temos que distinguir esses dois termos”, disse.
“Pessoas adotam um discurso do ódio, virulento, porque assim chamam mais atenção e criam vínculos fortes com seu grupo e cada vez mais acentuam uma apreciação negativa por parte do outro grupo. Temos que buscar reduzir essa polarização afetiva, mas não a ideológica, que é boa para a democracia, pois, quando os políticos assumem uma posição, ajudam a distinguir melhor as propostas e seus pontos de vista”, acrescentou.
Ainda segundo ele, é essa polarização afetiva que não permite o diálogo e é explorado pelo populismo no mundo todo. “Na polarização afetiva, um grupo não conversa com o outro, quer aniquilá-lo. É isso que o populismo faz, força limites da democracia e da civilidade, com posturas incivilizadas nas redes”, disse.