A política externa adotada pelo Brasil pode colocar em risco a obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), diz artigo publicado hoje no jornal britânico Financial Times. “A política de arco-íris do Brasil pode estar atingindo o seu limite”, diz o articulista John-Paul Rathbone. Ao citar a posição do País em relação a Cuba e ao Irã, ele afirma que “gafes recentes esticaram a fronteira da imagem adocicada do Brasil e também o seu presidente”.

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Segundo Rathbone, o País se tornou importante no cenário mundial praticamente sem ninguém perceber. Na primeira participação em uma reunião do G-8 (grupo que reúne os sete principais países industrializados e a Rússia), há seis anos, era um observador. Na época, o Brasil tinha mil diplomatas ao redor do mundo. Agora, possui 1.400.

Na semana passada Brasília sediou a segunda reunião de cúpula dos países do Bric. “Brasil, Rússia, Índia e China têm um papel fundamental para criar uma nova ordem internacional”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na ocasião. Para o FT, esse é o tipo de “linguagem imperial” esperada da Rússia ou da China, mas no caso de Lula fica “açucarada pela imagem de homem comum do ex-líder sindical de 64 anos” – ou “o cara”, como disse Barack Obama, presidente dos Estados Unidos.

Para o articulista, os líderes brasileiros não mostram desconforto em receber a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, num dia e o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, no outro, já que o governo planeja uma visita a Teerã para o próximo mês. O Brasil também reconheceu a vitória do líder iraniano nas eleições, consideradas duvidosas.

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O artigo também cita o comentário de Lula sobre a greve de fome do ativista cubano Orlando Zapata, em fevereiro. Na ocasião, Lula afirmou que a atitude não deveria ser usada como forma de protesto para libertar pessoas em nome dos direitos humanos, apesar de ele próprio ter feito greve de fome contra a ditadura militar no Brasil. Para o articulista, o principal desafio virá após as eleições de outubro, quando o Brasil ficará sem a cobertura do “charme” de Lula. “A imagem de um império carinhoso pode não resistir.”