A Polícia Civil tentou intimar a prestar novo depoimento o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde morava o PM reformado Ronnie Lessa, acusado do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Agentes estiveram na tarde de quinta-feira, 7, na casa de Alberto Mateus, no bairro Gardênia Azul, na zona oeste, mas o profissional não estava em casa.
Reportagem publicada nesta sexta-feira, 8, na revista Veja, revelou o paradeiro do porteiro, mas ele não deu entrevista. Segundo a publicação, Mateus sente-se acuado. Uma milícia domina o bairro onde ele mora.
Em dois depoimentos, Mateus contou que no dia do crime, 14 de março de 2018, o ex-PM Élcio Queiroz, também acusado do crime, esteve no condomínio por volta das 17h. Segundo o porteiro, Élcio anunciou que queria ir à casa 58, do então deputado federal Jair Bolsonaro, também morador.
Ele registrou a informação em um livro de entrada, e também contou que foi o próprio “seu Jair” quem teria autorizado a entrada. Naquele dia, no entanto, Jair Bolsonaro estava em Brasília e participou de duas votações no plenário da Câmara.
O Ministério Público do Rio apresentou um áudio da portaria em que a liberação da entrada é feita, via sistema de comunicação, por alguém da casa 65/66, de Ronnie Lessa. A voz que atende à ligação seria dele, não de Bolsonaro. Com base no áudio, cuja análise, feita em meios de três horas, foi questionada, promotoras que investigam o caso sustentaram que “o porteiro havia mentido”.
Consultados, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), que têm poder para processar o presidente, afirmaram não haver prova contra Bolsonaro. Os autos foram devolvidos ao Ministério Público do Rio, para prosseguir com a investigação sobre o mandante ou mandantes do crime. O inquérito do Rio, porém, não poderá abordar nada relativo ao mandatário, por não ser legalmente habilitado para isso.
A Veja também localizou o porteiro cuja voz aparece no áudio. Trata-se de outro funcionário do condomínio, que também deve ser chamado a depor para esclarecer a situação.
Lessa e Élcio foram presos em março passado e denunciados pelos homicídios de Marielle e do motorista Anderson Gomes. Eles negam o crime, mas o registro do encontro dos dois no dia do crime – que eles depois admitiram – é considerada uma prova importante no processo.
A Polícia Federal, após pedido do Ministério Público Federal, abriu investigação sobre o porteiro pelos supostos crimes de denunciação caluniosa, falso testemunho e obstrução de Justiça. A Defensoria Pública do Rio informou que assumiu a defesa de Mateus. Oficialmente, a Polícia Civil limitou-se a dizer que o “inquérito corre sob sigilo”.