No início de 2012, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) propôs uma lei para tornar sua cidade natal a “capital nacional do futsal” – Orlândia, a 362 km da capital, abriga o atual campeão nacional do futebol de salão e o maior ídolo do esporte, Falcão. Um ano depois, o município de 39 mil habitantes obteve a projeção nacional almejada pelo parlamentar. Não pelos dribles nas quadras, mas pelo arranjo partidário que o levou ao comando da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Orlândia e o pastor ainda dão o que falar.

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As polêmicas resultantes do conflito entre o Feliciano pastor evangélico e o Feliciano presidente de uma comissão laica deram maior projeção política ao deputado, inclusive em sua cidade. O parlamentar obteve em Orlândia 2 mil dos 212 mil votos que fizeram do estreante nas urnas o 12.º deputado mais votado do Estado em 2010. Feliciano saiu sem apoio de grupos locais e até o fim de 2012 queixava-se de não ter sido recebido ou procurado pelo ex-prefeito Rodolfo Meireles (PSDB), mesmo depois de eleito.

“Nenhuma liderança política me deu apoio, por isso saí por aí”, disse Feliciano em 2012 a uma rádio local, ao explicar por que não havia destinado emendas para a cidade, onde mora com a mulher e três filhas. “Meu mandato veio do meu povo, do povo evangélico.”

Feliciano recebeu votos em 641 dos 645 municípios paulistas, graças às turnês como pregador e cantor – ele diz ter passado por mais de 1.700 cidades no País. Pela TV, internet e telefone, vende livros (18), CDs (dois) e DVDs (são 350). No início do mandato, postou no Twitter frases que foram consideradas racistas e homofóbicas – e que motivam os protestos contra sua permanência na comissão da Câmara.

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Filho de um relacionamento extraconjugal do pai, Feliciano nasceu em Orlândia em 1972, foi engraxate e coroinha da igreja católica aos 8 anos. Converteu-se evangélico aos 11 anos e, aos 16, passou a fazer suas pregações teatrais, carregadas de gritos, choros, saltos no ar e momentos de euforia que provocam catarse coletivo na plateia.

Aos 27 anos, passou um período nos Estados Unidos, de onde voltou catedrático em religião. Em 2009, fundou sua igreja, a Catedral do Avivamento, braço da Assembleia de Deus, que tem hoje 15 templos e sede em Orlândia.

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O valor arrecadado pela igreja não é revelado, mas Feliciano montou negócios a partir dela: a Marco Feliciano Empreendimentos Culturais e Eventos; a Grata Music; a Tempo de Avivamento Empreendimentos; e a Kakeka Comércio Varejista de Brinquedos e Artigos do Vestuário. As três últimas não estariam funcionando, apesar de ativas para a Junta Comercial. Há um pedido de investigação na Corregedoria da Câmara para apurar, entre outras coisas, a omissão de propriedade de duas empresas, a GMF Consórcios e a Cinese (Centro de Inteligência Espiritual) nas declarações à Justiça Eleitoral.

No documento apresentado em 2010, o pastor informou ter bens de R$ 634,8 mil. A mansão em que mora com a mulher e as filhas fica num terreno de 600 m², foi declarada por R$ 60 mil, mas, segundo um corretor de Orlândia, vale mais de R$ 500 mil. Em seu nome há outros seis imóveis na cidade e cinco carros.

Nem a eleição em 2010 deu a Feliciano o status de liderança política local, mas isso pode mudar agora. “Ele teve votação inexpressiva na cidade, até porque não fazia parte do quadro político local”, diz a atual prefeita, Flávia Gomes (PSB). Ao contrário do antecessor, ela tenta se aproximar do deputado.

“A cidade precisa de um ginásio para a equipe de futsal, verba para saneamento. Tendo um parlamentar daqui, apesar das divergências políticas, é importante abrir essa porta. Orlândia não recebeu uma emenda por conta dessa divergência”, diz Flávia, que em fevereiro recebeu Feliciano em seu gabinete. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.