Com a crise do governo Lula e no PT, o PMDB ganhou impulso para defender a tese da candidatura própria à presidência da República em 2006 e unificar o partido. Ontem, em Curitiba, o economista Carlos Lessa deu a largada para a discussão de uma proposta de programa de governo para o partido na sucessão presidencial do próximo ano, trazendo a Curitiba o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, a governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus, os ex-governadores de São Paulo Orestes Quércia, e do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho.
Todos foram recebidos pelo governador do Paraná, Roberto Requião, que esperava ainda a participação do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, na reunião que seria realizada no auditório da Federação das Indústrias do Paraná. Foi o primeiro dos encontros do PMDB programados para debater o projeto de governo. Lessa disse que se trata de um "pontapé" inicial para construir um programa que deve ser avalizado e assumido por todo o partido. O economista destacou que houve uma convenção e um compromisso de que o partido teria um candidato próprio e que este, independente de quem seja, estaria comprometido com esta proposta para o País.
A unidade do PMDB, dividido desde o início do governo Lula, é uma possibilidade que o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia acha que se torna mais fácil à medida em que o governo se fragiliza e a ala governista, representada nos três ministérios que ocupa – Comunicações, Previdência e Minas e Energia – começa a se aproximar. "Nós tínhamos uma divisão que está sendo superada. Analisamos uma circunstância que é o enfraquecimento do governo. Temos alguns companheiros apoiando o governo, mas temos, sobretudo, uma realidade que demanda a unidade do partido. Estamos sentindo esta unidade", afirmou. Segundo Quércia, há um trabalho da direção do partido para reconciliar as alas. "Ao invés de brigar com estes companheiros que estão no governo, nós estamos somando com eles. Temos uma ação política importante com o Sarney e o Calheiros. A perspectiva é que o esforço por um programa do partido seja a perspectiva de uma candidatura", afirmou Quércia. Ele citou como parte desse esforço a posição da direção nacional de recuar na decisão de pedir a desfiliação dos ministros.
Para o ex-governador do Rio de Janeiro, a aliança com o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já está completamente descartada pelo PMDB. "Acho difícil que um programa nacionalista e desenvolvimentista empolgue a cúpula petista", atacou Garotinho, confirmando que será o primeiro a se inscrever para as prévias do PMDB para ser o candidado do partido. Garotinho, que foi definido como o "mais candidato" por Quércia, disse que formaliza sua pré-candidatura no próximo dia 20.
Sem nome
O governador do Paraná tentou apagar qualquer traço eleitoral do encontro de ontem. Na entrevista coletiva, questionado se iria apresentar seu nome às prévias, desconversou e em nome de Vasconcelos e de Garotinho, afirmou que o esforço comum é para a construção de uma proposta alternativa para o País. "Sem um projeto alternativo, as candidaturas caem no vazio", afirmou Requião, citado como um dos possíveis pré-candidatos do partido às prévias. O governador de Pernambuco disse que "subscreve" as declarações de Requião. Os outros nomes são o do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim, e do governador gaúcho Germano Rigotto.
Propostas de Lessa criticadas
Criticado pela revista Veja, que considerou suas propostas de governo para o PMDB "obsoletas" e "com o agravante de já terem sido colocadas em prática no passado, gerando apenas atraso, inflação e instabilidade", o economista Carlos Lessa disse que seu projeto mostra que existe a possibilidade de o país adotar um outro rumo na economia, que não o modelo aprovado e consagrado pelos governos anterior e atual. "Fui brindado com os adjetivos anacrônico e jurássico pela revista Veja", reagiu o economista, afirmando que não se importa já que tem observado que a palavra "desenvolvimento" desapareceu da mídia brasileira há muito tempo.
Para Lessa, o País precisa é remover o que chamou de "entulho neoliberal" gerado na década de 90, e assumir um projeto de nação. Ele defendeu que o futuro candidato do PMDB à presidência da República tenha como compromisso a redução das taxas de juros, acompanhandos do controle da entrada e saída de capitais e o aumento do investimento produtivo. (EC)